Fundador do iFood levanta R$ 160 milhões em fintech de conta bancária americana

Apenas seis meses da última captação, a fintech recebeu novo investimento e pretende atingir um milhão de usuários

Lucas Vargas, CEO, Eduardo Haber e Patrick Sigrist, cofundadores da fintech Nomad
16 de Maio, 2022 | 11:40 AM

Bloomberg Línea — A Nomad, fintech de conta corrente americana focada em brasileiros, anunciou nesta segunda-feira (16) que captou US$ 32 milhões (R$ 160 milhões) em uma extensão de rodada liderada pelo fundo de venture capital americano Stripes acompanhado pela monashees, Spark Capital, Propel, Globo Ventures e Abstract. Com a rodada, a empresa está avaliada em US$ 200 milhões.

Por trás da Nomad está o fundador do iFood, Patrick Sigrist. Ele conta que a ideia da fintech surgiu quando morava no Vale do Silício. “Morando fora veio essa necessidade. As contas aqui no Brasil são dominadas por bancos, que têm 90% do mercado, e eles não têm interesse em te dar um acesso ao mundo financeiro global. Mas morando fora é difícil fazer um pagamento, mandar dinheiro”, disse, em entrevista à Bloomberg Línea.

Quando voltou para o Brasil, Sigrist foi um dos primeiros investidores do banco digital Neon (hoje unicórnio após participação do BBVA) e se aproximou do mercado de fintechs. Parceiro de Sigrist, Lucas Vargas, CEO e cofundador da Nomad, também tem um histórico de empreendedorismo. Quando fazia meu mestrado nos Estados Unidos, tentou lançar um “Groupon americano”, que não deu muito certo. Ele acabou se juntando ao Groupon no Brasil e também teve passagens em cargos executivos na Zap Imóveis e OLX.

A Nomad nasceu em 2020 com a proposta de ser “um banco” que permitisse aos brasileiros ter uma conta em dólar. Vargas e Sigrist usaram seu próprio capital para lançar a empresa e depois captaram duas rodadas que totalizam cerca de US$ 7,5 milhões com anjos e VCs.

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Com 260 pessoas no time, a empresa demanda capital. “Para a gente não foi difícil captar. Ainda tem muito dinheiro na mão dos fundos, e esse dinheiro precisa ser alocado de alguma forma. O que está mudando é a exigência para as empresas que não são lucrativas para que venham a ser lucrativas”, disse Sigrist.

Ele acredita que a parte econômica da Nomad está bem posicionada neste sentido porque a empresa opera com um produto financeiro em dólar. “É uma coisa que tem uma margem alta, que tem cliente bom, e isso se soma à tração que a gente teve”, afirmou.

Para Vargas, os últimos três meses da Nomad foram inversamente proporcionais ao clima do mercado, com grande aceleração dos números de clientes. No final do primeiro ano de operação, de outubro para novembro de 2021, a empresa atingiu 100 mil contas. De novembro para abril deste ano, a startup já atingiu 300 mil contas, triplicando a base de clientes em seis meses. O foco da empresa são pessoas físicas e a meta é chegar 1 milhão de usuários usando o aplicativo.

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“Quando a gente lançou inicialmente no meio da pandemia o que era um desafio que se tornou uma oportunidade. Houve uma adoção muito grande por quem estava no Brasil mesmo sem viajar que usava o cartão pra fazer compras internacionais e ter o benefício de economia do IOF e do frete”.

Como o cartão não é brasileiro, o imposto em transações no exterior é menor. A fintech cobra 1% na transação, e sua remuneração vem, além do spread, das tarifas de intercâmbio cobradas na utilização do cartão de débito. Outro público-alvo da startup são os viajantes internacionais e os profissionais brasileiros que recebem salários em dólar de empresas estrangeiras.

Assim como os demais bancos digitais que surgiram na esteira do Nubank, a Nomad oferece uma conta digital sem taxas e um cartão de débito. A empresa ainda não oferece crédito, mas isso está nos planos.

A conta americana é assegurada pelo FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation). “Se a gente quebra, o que não vai acontecer, nosso cliente terá a conta assegurada em até US$ 250 mil”, explica Vargas.

Se no Brasil o mercado de fintechs para pagamentos domésticos cresceu, o mesmo vale para startups de contas e pagamentos transfronteiriços. A XP lançou uma conta para investimentos em dólar, competindo com a Avenue Securities. A Wise, a britânica Revolut e a Remessa Online, comprada pelo Ebanx, também oferecem conta em dólar e em outras moedas. Mas, para Sigrist, o diferencial da Nomad é que a empresa tem conhecimento do mercado brasileiro.

A fintech recentemente lançou uma atualização na plataforma que facilita a compra individual de ações e ETFs no exterior. “Na época do iFood também tínhamos quatro concorrentes de fora muito maiores, com muito mais dinheiro que a gente e que tentaram entrar no Brasil. Acho que é super importante conhecer o mercado. Temos várias concorrências de várias formas. A gente não quer ser o melhor banco de investimentos no Brasil. Mas, lá fora, a gente se propõe a ser a melhor solução possível em moeda forte para qualquer brasileiro”.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups