WhatsApp quer pagamentos para empresas no Brasil, mas parcerias podem ser entrave

Segundo o Financial Times, a Meta estaria com dificuldades de fechar parcerias com processadores de pagamentos locais; empresa nega

META
20 de Abril, 2022 | 05:11 PM
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Bloomberg Línea — No mês passado, o diretor sênior de parcerias da Meta (FB), Kyle Jenke, esteve no Brasil para encontrar com executivos de grandes empresas que usam a ferramenta do WhatsApp para negócios. O WhatsApp planejava lançar seu recurso de pagamentos no aplicativo para negócios este ano, mas, segundo o Financial Times, a big tech pode ter adiado os planos por dificuldades em fechar acordos com parceiros de pagamentos locais.

Segundo reportagem do jornal desta quarta-feira (20), a regulação e as discordâncias com as condições de pagamento e taxas seriam os principais entraves da negociação no país.

Em entrevista à Bloomberg Línea, durante sua estadia em São Paulo em março deste ano, Jenke havia destacado a importância no negócio para a empresa. “Temos 120 milhões de pessoas usando o WhatsApp no Brasil. E eles querem falar com os negócios. Mesmo no carro, chegando do aeroporto no Brasil, vi um outdoor com ‘Zap’ escrito. O número de empresas no Brasil que usam o WhatsApp para falar com seus clientes mais que dobrou desde o início da pandemia”, disse na época.

O Brasil é um dos maiores mercados para o WhatsApp Business. Não à toa, a empresa está conversando com parceiros para lançar o WhatsApp para negócios no Brasil ainda este ano. Mas, para ser bem-sucedida, a Meta precisa vencer algumas barreiras.

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Empecilhos para as parcerias

Regulação

A primeira barreira é a coordenação regulatória com o Banco Central. Em junho de 2020, dias depois do Facebook anunciar o WhatsApp Pay no Brasil (o primeiro país que receberia o serviço), o Banco Central suspendeu os pagamentos com WhatsApp pedindo tempo para avaliar eventuais riscos ao bom funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) no que diz respeito à concorrência, eficiência e privacidade de dados.

Quando o serviço tinha sido anunciado pelo Facebook, a ideia era que as empresas pudessem acessar o recurso de pagamentos por meio do WhatsApp Business. Seria necessário um novo cadastro ou uma conta Cielo no Facebook Pay, com informações atualizadas como CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), endereço e conta bancária.

As empresas não precisariam ter conta em um dos bancos parceiros do WhatsApp para receber pagamentos, cada transação teria uma taxa de 3,99% e o dinheiro seria transferido em dois dias úteis, sem limites para transações. Os clientes que desejassem pagar pelo WhatsApp precisariam ter um cartão emitido por uma das instituições parceiras da Meta.

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Em 30 de março de 2021, a autoridade financeira do país autorizou o WhatsApp a ter uma licença de iniciador de pagamentos. O relançamento do WhatsApp Pay veio em maio de 2021, com a devida autorização do Banco Central para pagamentos entre pessoas físicas.

Hoje, os pagamentos do WhatsApp são feitos em parceria com as redes de cartões Visa (V) e Mastercard (MA) e a processadora de pagamentos Cielo (CIEL3). O WhatsApp aceita cartões emitidos pelo Banco do Brasil (BBAS3), Inter (BIDI11), Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4), Nubank (NU), Mercado Pago e Sicredi.

Procurado pela Bloomberg Línea, o Banco Central disse que não se manifesta sobre o andamento dos processos de autorização.

Termos e condições

Segundo o Financial Times, outro possível entrave para o lançamento do WhatsApp Pay para negócios neste ano são os parceiros de pagamento, que não teriam aceitado os termos ou as taxas da Meta.

Por meio de nota enviada à Bloomberg Línea, um porta-voz do WhatsApp disse que não considera que o lançamento do serviço de pagamentos de pessoas para negócios (P2M) esteja atrasado no Brasil.

“Oferecemos serviços de pagamentos entre pessoas físicas no País há quase um ano e estamos entusiasmados com a possibilidade de trazer essa inovação para as empresas. Continuamos trabalhando em colaboração com as autoridades locais e parceiros em potencial, e não comentamos os detalhes de discussões regulatórias ou comerciais confidenciais”.

Já a assessoria da Cielo respondeu que “é a adquirente responsável pelas transações peer to peer (P2P) do WhatsApp Pay” e que não comenta outros assuntos.

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Meta está investindo no WhatsApp Business

Além dos pagamentos, o WhatsApp pretende lançar este ano uma API de nuvem para grandes empresas, o que deve reduzir custos para que esses grandes negócios usem o WhatsApp, segundo Jenke.

“Hoje, com a solução on-premise da API na nuvem, nossos parceiros precisam hospedar os dados em servidores ou precisam pagar para hospedá-los na AWS ou no Azure. O que estamos fazendo é que, em vez de fazer isso, eles podem nos deixar lidar com essa peça”, disse Jenke, durante seu período no Brasil.

O WhatsApp tem dois produtos diferentes para negócios. Um é o aplicativo WhatsApp Business, que é gratuito, para pequenos negócios. Outro é uma API para grandes clientes. Para estes, a Meta recentemente mudou seu modelo de remuneração. Ao invés de pagar por cada mensagem, os negócios agora pagam por cada conversa (contando 24 horas da interação).

Jenke explicou que a Meta fez isso para encorajar conversas profundas entre as empresas e os clientes e gerar uma experiência de venda melhor. “A adoção tem sido muito boa, na verdade vimos o crescimento acelerar globalmente e no Brasil depois dessa mudança de preço”. Nos Estados Unidos, os varejistas não são tão adeptos ao WhatsApp Business quanto no Brasil, onde as Lojas Renner (LREN3) pagam pela funcionalidade, por exemplo.

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É na API do WhatsApp Business que parceiros como a startup Take Blip criam softwares para interagir com milhares de pessoas, como explicou o Chief Partnership Officer da Take Blip, Philemon Mattos, que acompanhou Jenke na sede da Meta em São Paulo. A Take Blip atua com comércio conversacional, oferendo soluções de comunicação entre marcas e consumidores em aplicativos de mensagens, como o WhatsApp, Instagram e Messenger.

“Esses usuários são mais livres para usar. Se você ligar para um call center e ficar 10 minutos em um call center eles vão cobrar. Pagar a conversa no WhatsApp deixa todo mundo mais livre. Você vê muita gente reclamando do telemarketing. No WhatsApp podemos capacitar os usuários a controlar o ritmo da conversa e que tipo de conversa eles querem. No call center você tem que ficar no telefone, mas no WhatsApp você pode falar com várias marcas ao mesmo tempo”, disse Mattos.

No próximo mês, o WhatsApp realizará uma conferência sobre mensagens para negócios para clientes, parceiros e executivos.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups