Banqueiro vê Meirelles como ministro dos sonhos no governo Lula

Meirelles, que também foi presidente do Banco Central no governo Lula, tinha “boas relações com o Congresso”, disse Ricardo Lacerda, da BR Partners

Ricardo Lacerda, fundador da BR Partners: Meirelles seria ministro dos sonhos no governo Lula
Por Cristiane Lucchesi
10 de Março, 2022 | 02:24 PM

Bloomberg — O presidente do banco com melhor desempenho na bolsa brasileira disse que os investidores não devem temer a possibilidade de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de outubro, desde que ele nomeie uma equipe econômica favorável ao mercado.

“O Lula não me assusta, se vier com o time certo”, disse Ricardo Lacerda, presidente da BR Advisory Partners Participações.

Para Lacerda, Henrique Meirelles foi o “melhor ministro da Fazenda do Brasil de todos os tempos” quando ocupou o cargo, de 2016 a 2018, e é o “nome dos sonhos” de banqueiros e investidores para ocupar de novo essa função.

Meirelles, que também foi presidente do Banco Central no governo Lula, tinha “boas relações com o Congresso, metas corretas e era capaz de atrair técnicos de qualidade para o governo”, disse Lacerda em entrevista.

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Meirelles está entre as pessoas que Lula gostaria de ter em sua equipe, disse uma fonte do PT com conhecimento do assunto no início deste mês. Isso apesar de Lula ser do PT e Meirelles estar ajudando a formular o programa econômico do governador de São Paulo, João Doria, membro do PSDB que também planeja concorrer à presidência. Meirelles é secretário de Fazenda e Planejamento de Doria.

Lula, que está na frente do presidente Jair Bolsonaro nas pesquisas de opinião, foi presidente do Brasil de 2003 a 2010. Durante seu mandato, formou uma equipe com alguns membros que foram considerados muito intervencionistas por alguns investidores, perdendo a confiança dos mercados.

Entre eles está o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que Lacerda disse que “promoveu uma verdadeira destruição na economia”. Lula também se opõe a alguns dos esforços de privatização de Bolsonaro, como a venda da Centrais Elétricas Brasileiras.

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As ações da BR Advisory Partners subiram cerca de 33% este ano, o melhor desempenho entre os bancos brasileiros. A instituição financeira usou o capital levantado na oferta pública inicial de ações no ano passado para aumentar sua participação no mercado de banco de investimento. Lacerda fundou a BR Partners em 2009, após um período como presidente do Goldman Sachs no Brasil.

Como muitos outros banqueiros e gestores de fundos, Lacerda disse que o melhor resultado eleitoral possível seria uma terceira via entre Lula e Bolsonaro. O banqueiro é filiado ao Partido Novo -- que defende uma drástica redução do papel do Estado na economia -- e disse que votará no candidato de seu partido ou em outro candidato mais centrista com maior chance no primeiro turno. Mas ele afirmou que as chances de esses candidatos irem para o segundo turno são pequenas.

“Olhando as pesquisas, acredito que há uma chance de 90% a 95% de Lula e Bolsonaro serem os candidatos no segundo turno”, disse Lacerda, acrescentando que provavelmente votará contra um ou outro, em vez de votar em favor de um candidato.

Um fato que está reduzindo a preocupação dos investidores com o resultado da eleição é que o Brasil agora tem um Banco Central independente, e seu atual presidente, Roberto Campos Neto, “está fazendo um ótimo trabalho”, disse Lacerda. Campos Neto afirmou que ficará até o final de seu mandato em dezembro de 2024, independente de quem for o próximo presidente.

Lacerda é crítico às posições ideológicas de Bolsonaro em várias questões, incluindo sobre vacinas contra a Covid-19, meio ambiente e diversidade. Mas ele elogiou a venda de ativos estatais que está sendo feita pelo governo e disse que alguns membros de sua equipe devem permanecer caso Bolsonaro seja eleito para um próximo mandato.

Em particular, Lacerda apoia Paulo Guedes como ministro da Economia e Gustavo Montezano como presidente do banco de desenvolvimento BNDES. “Eles estão vendendo ativos na hora certa, com os preços certos, com as melhores estruturas”, disse Lacerda.

Privatizações

Lula provavelmente diminuiria o ritmo de privatizações, segundo Lacerda, e isso seria um “pequeno retrocesso em relação ao atual governo”. Mas o banqueiro disse acreditar que Lula não vai reestatizar estatais privatizadas e nem administrar o orçamento do governo de uma forma irresponsável. A indicação de Meirelles como ministro seria um sinal claro nessa direção, disse ele.

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Outros bons nomes para liderar a equipe econômica de Lula, segundo Lacerda, seriam Rui Costa, governador baiano que é filiado ao PT, e Geraldo Alckmin, ex-governador do estado de São Paulo que deixou o PSDB para ingressar no PSB para possivelmente se tornar vice de Lula.

“Ambos são políticos muito balanceados, muito experientes e com boas ideias”, disse Lacerda. Um ministro da economia com experiência política seria o mais indicado para trabalhar com o Congresso, e isso é uma necessidade, porque “para o Brasil melhorar, você precisará de reformas constitucionais”, afirmou Lacerda.

“Vai caber ao governo Lula mostrar essa responsabilidade fiscal e tentar conciliar uma agenda de Estado forte”, disse. “Eu acho que dá para conviver com isso sim.”

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