Como é formado o preço da gasolina - e como a tensão global pesa no bolso

Preço do petróleo dispara no mercado internacional, no maior patamar desde 2014, e renova temores de interrupção nas exportações de energia

Rali do petróleo é impulsionado ainda pelo aumento da demanda mundial, interrupções no fornecimento e queda de estoques
24 de Fevereiro, 2022 | 04:27 PM

Bloomberg Línea — A notícia de invasão da Ucrânia pela Rússia levou os mercados a desabarem nesta quinta-feira (24), com investidores mais cautelosos diante do aumento de aversão ao risco, enquanto as commodities, como o petróleo, dispararam no mercado internacional.

Mais cedo, os preços do petróleo subiram acima de US$ 100 o barril pela primeira vez desde 2014 após a Rússia atacar pontos em toda a Ucrânia, provocando temores de uma interrupção nas exportações de energia em um momento de oferta já apertada.

Isso porque cerca de metade das exportações de petróleo e condensado de gás natural da Rússia vai para a Europa.

O rali da commodity é impulsionado ainda pelo aumento da demanda mundial, interrupções no fornecimento e queda de estoques.

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Como é formado o preço da gasolina no Brasil?

No Brasil, o preço da gasolina ao consumidor final é composto por quatro fatores: preços do produtor ou importador de gasolina; carga tributária; custo do etanol obrigatório; e margens da distribuição e revenda.

A parte que confere à Petrobras (PETR3; PETR4) é a primeira, referente ao preço do combustível nas refinarias.

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O preço final na bomba, contudo, incorpora ainda a carga tributária – que tem peso relevante – e a ação dos demais agentes do setor de comercialização, como importadores, distribuidores, revendedores e produtores de biocombustíveis.

A maior fatia do preço da gasolina é composta por impostos. Juntos, ICMS, PIS/Pasep e Cofins somam quase 40% do valor total do combustível, sendo 26,7% para o primeiro e 10,4% para os demais. Com a Petrobras (a realização) ficam atualmente 34% do preço final.

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Na sequência, entra o etanol anidro, que representa 15,7% do preço final. Isso porque a gasolina vendida nos postos é uma mistura entre gasolina (73%) e etanol anidro (27%). Já o lucro das distribuidoras e revendedoras é de 13,1%.

E qual o impacto de tensões externas?

Como dito anteriormente, os combustíveis derivados de petróleo são commodities e, assim como produtos como trigo, café e metais, por exemplo, têm seus preços atrelados aos mercados internacionais, cujas cotações variam diariamente – para cima ou para baixo.

À Bloomberg Línea, João Lorenzi, sócio e analista de commodities na Encore Asset Management, destaca que todas as commodities estão “apertadas” atualmente com relação à oferta – por isso o preço elevado –, e qualquer coisa que altere a dinâmica do setor, é relevante, como é o caso da tensão geopolítica na Ucrânia.

Isso porque a Rússia é extremamente relevante na produção de petróleo, afirma, representando cerca de 11% de toda a produção global. O país é o terceiro maior produtor da commodity, atrás apenas de Estados Unidos e Arábia Saudita.

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O analista lembra que em 2018 a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) fez um acordo para cortar a produção mundial em 1,2 milhão de barris por dia (cerca de 1,2% da oferta diária), o que levou a um aumento da ordem de US$ 10 no preço do barril. “Considerando que a Rússia produz 10,5% da oferta mundial, o impacto seria muito maior”, destaca.

Por conta disso, Lorenzi avalia que uma sanção para o setor de óleo e gás seria improvável, uma vez que os governos dependem muito da produção russa e também, devido à proximidade das eleições de meio de mandato este ano no congresso dos Estados Unidos, de forma a evitar um aumento no preço da gasolina no país.

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Segundo Lorenzi, caso o preço do petróleo permaneça elevado, acima dos US$ 100, nos mercados internacionais por pouco tempo, voltando depois a patamares mais baixos, o impacto será apenas um “susto” no mercado. Porém, se o preço permanecer elevado por muito tempo, o consumidor brasileiro pode vir a sofrer na ponta final.

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O analista reforça, contudo, que independentemente do cenário, a defasagem da gasolina da Petrobras já está em 15% em relação aos mercados internacionais – o que contribui para perspectivas de elevação nos preços.

(Atualizado dia 24/02/2022 às 16h26, horário de Brasília, com invasão da Rússia na Ucrânia)

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.