Itaú: Compra de 11,38% da XP deve acontecer ‘nos próximos meses’

CEO do Itaú-Unibanco diz que o valor da aquisição está sendo calculado neste momento

Itaú-Unibanco estuda lançar Pix Crédito, uma alternativa aos tradicionais cartões de crédito, em discussão pelo Banco Central com as instituições financeiras
11 de Fevereiro, 2022 | 11:41 AM

São Paulo — O CEO do Itaú-Unibanco (ITUB4), Milton Maluhy Filho, disse, nesta sexta-feira (11), que a instituição financeira está calculando o valor de aquisição de 11,38% da XP Inc. (XP) e que a compra deve acontecer “nos próximos meses”.

Em teleconferência realizada com jornalistas para comentar o resultado financeiro do quarto trimestre de 2021, o executivo afirmou ainda que “todas aprovações regulatórias foram cumpridas” nesse negócio. Em novembro de 2021, o Banco Central autorizou a transação, que estava prevista no contrato de 2017, quando o Itaú comprou 49,9% da XP por R$ 6,3 bilhões.

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“A XP acabou de publicar seu resultado. Neste momento, a gente está calculando o valor dessa aquisição, e ela deve acontecer nos próximos meses. De fato, todas as aprovações regulatórias foram cumpridas. O que falta para gente é fazer essa liquidaçao financeira junto com a XP. Tem pontos menores, questões muito mais processuais ou um outro aspecto, mas a gente deve ter isso concluído nos próximos meses. Aí a gente vai ter naturalmente o valor definido e a compra e venda, complementada”, afirmou o CEO, em resposta à pergunta de Bloomberg Línea.

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Ele esclareceu que a transação (a compra de 11,38% em 2022) foi negociada em 2017 em um contrato a termo, mas já pactuado. “Não é uma opção que o banco pode decidir nem uma opção que o vendedor pode não exercer. Foi uma compra e venda negociada em determinadas condições financeiras - 19x o lucro de 2021″, disse o executivo. A XP reportou lucro de R$ 4 bilhões em 2021.

Em dezembro, a Itaúsa, holding do Itaú, reduziu sua participação na XP vendendo fatia de 1,39% por R$ 1,2 bilhão, prevendo impacto positivo de R$ 900 milhões com os ganhos da operação no quarto trimestre. Por essa referência de preço, naquele mês, a fatia de 13,38% seria da ordem de R$ 10 bilhões.

A operação de compra pelo Itaú de 49,9% da XP foi aprovada pelo BC em 2018, mas com restrições, a fim de preservar o ambiente de concorrência. Na época, o BC e as duas instituições assinaram um acordo que vetava o Itaú de adquirir o controle da XP no futuro.

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Em 2021, houve a cisão da participação do Itaú na XP. Em outubro, a XP iniciou negociações de BDRs (recibos de ações listadas no exterior) na B3. Os acionistas do Itaú receberam BDRs da XP, após a aprovação da incorporação da XPart pela XP Inc. anunciada em outubro. A XP herdou uma base acionária de 500 mil investidores do Itaú, incluindo centenas de milhares de pessoas físicas, além de fundos globais.

Controladores do Itaú possuem cerca de 18% da XP por meio da Itaúsa e Iupar (Itaú Unibanco Participações). O conselho de administração da XP tem dois assentos para o grupo Itaú.

Confira a cronologia da união e separação entre Itaú e XP

2017

11/05 - Itaú anuncia acordo para comprar 49,9% da XP com opção de elevar para 75% (12,5% em 2020 e 12,5% em 2022)

2018

10/8 - BC aprova entrada do Itaú na XP, mas Acordo em Controle de Concentração (ACC) veta Itaú de ter o controle

2019

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11/12 - XP estreia papéis na Nasdaq, fazendo a participação do Itaú ser diluída para 46% das ações da XP

2020

2/12 - XP faz follow-on nos EUA. Na oferta, Itaú vende 5% e transfere 41% para nova holding, a Newco

2021

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31/1 - Itaú aprova cisão da sua participação na XP, criando uma nova companhia, a XPart, que recebe 40,5% da XP

2/10 - Itaú aprova incorporação da XPart pela XP. Em troca, acionistas recebem ações ou BDRs (recibos) da XP

4/10 - XP inicia negociação de BDRs na B3 e herda base acionária de 500 mil investidores do Itaú

8/11 - Itaú diz que BC autorizou o grupo a comprar 11,38% da XP em 2022, data prevista no contrato de 2017

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14/12 - Itaúsa diz que vendeu 1,39% da XP por R$ 1,2 bilhão, reduzindo sua participação no capital da plataforma

2022

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11/2 - CEO do Itaú confirma que banco vai comprar fatia da XP, como previsto no contrato e autorizado pelo BC

Ideal

Sobre o anúncio da compra da corretora digital Ideal, anunciada no mês passado, o CEO do Itaú-Unibanco disse que o negócio ainda está em fase de aprovação de aval regulatório para só depois discutir a integração.

“A nossa visão aqui tem muito a ver com trazer não só uma plataforma totalmente digital de corretora, com tecnologia de ponta, mas com um time altamente capacitado e experiente de mercado que possa nos ajudar a complementar aquilo que o banco hoje não tem, para a gente não ter que desenvolver do zero”, comentou.

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A aquisição da Ideal vai permitir que o Itaú complemente seu ecossistema de investimentos. “A gente entra em mercados que hoje a Ideal atua e que a gente não tem uma plataforma “ideal” (riso) para fazer a oferta para nossos clientes e por outro lado certamente pode nos ajudar a crescer em todo nosso ecossistema de investimento”, disse o CEO.

O Itaú tem aumentado sua presença no mundo digital, em meio à maior concorrência do segmento com o avanço de plataformas como a da XP e do BTG Pactual, além das fintechs/unicórnios/neobancos, como Nubank e C6 Bank.

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Nossa estratégia de digitalização e de expansão dos negócios passa por melhorar e investir naquilo que a gente tem e também fazer associações ou eventuais aquisições que complementem o nosso ecossistema. A Ideal vem muito nesse sentido. Nosso foco é expandir os produtos e serviços para toda a base de cliente, seja institucional ou do varejo”, afirmou o executivo.

Pix Crédito

O Itaú teve um lucro de R$ 7,159 bilhões no quarto trimestre, alta de 32,9% na base anual, com retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) de 20,2%. Em 2021, o lucro atingiu R$ 26,879 bilhões, aumento de 45%.

Os resultados foram atribuídos a fatores como o crescimento da margem financeira com clientes, impulsionado pelo maior volume de crédito e da mudança de mix de produtos, com maior crescimento relativo de produtos com melhores spreads, como cartões de crédito.

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Também contribuiu para os resultados o aumento das receitas de prestação de serviços em razão da melhora na atividade econômica e do consequente crescimento das receitas com cartões.

O CEO do banco disse hoje que o banco está estudando o lançamento da modalidade Pix Crédito, provavelmente até o fim do ano. “Por enquanto, está na fase das ideias e dos desenhos, não tenho muito informação para antecipar”, afirmou.

O Pix Crédito é descrito como uma alternativa para os tradicionais cartões de crédito e está em estudos no sandbox regulatório, ambiente de inovação do Banco Central, em conjunto com instituições bancárias. Hoje, no Brasil, o PIX é um dos métodos de pagamento mais utilizados para transações.

(Atualiza às 19h40 com cronologia e detalhes do caso; Corrige, no dia 8/4, percentual de ações da futura transação de 13,38% para 11,38%)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.