XP tem lucro de R$ 4 bi no ano e diz que ‘está só começando’

Grupo financeiro tem média de R$ 1 bi por tri em 2021 e evita discurso pessimista sobre evolução de ano eleitoral

Desde o IPO em 2019, a XP conseguiu multiplicar seu lucro por quatro e diz ter portfólio de produtos para os ciclos econômicos mais desafiantes
08 de Fevereiro, 2022 | 06:45 PM

São Paulo — O grupo financeiro XP (XP) emplacou uma sequência de quatro trimestres de lucro na casa de R$ 1 bilhão. Resultado foi que o grupo fechou 2021 com lucro de R$ 4,003 bilhões, aumento de 76% em relação ao ano anterior (R$ 2,27 bilhões). O quarto trimestre respondeu por R$ 1,086 bilhão, crescimento de 51% na comparação com igual período do ano passado (R$ 721 milhões) e de 5% ante o terceiro trimestre de 2021 (R$ 1,039 bilhão).

“Foi um ano excepcional em todos os aspectos. Desde o IPO em 2019, multiplicamos nosso lucro líquido ajustado por 4″, disse Bruno Constantino, sócio e CFO da XP Inc., em teleconferência com jornalistas, evitando fornecer guidance ao ser questionado pela Bloomberg Línea se a trajetória de lucro trimestral na casa do bilhão é sustentável.

Veja mais: Banco Pan reduz ritmo de emissão de cartão de crédito devido ao risco

Foi a quarta instituição financeira a divulgar lucro anual na casa de bilhão (em reais) nesta safra de balanços no país. Na noite de hoje, Bradesco anunciou um lucro anual de R$ 21,945 bilhões (+32%), enquanto Itaú Unibanco anuncia seus números na próxima quinta-feira (10). Na semana passada, a unidade brasileira do banco espanhol Santander reportou um lucro de R$ 16,437 bilhões em 2021. Já o BV encerrou o ano com lucro recorde, alcançando R$ 1,569 bilhão, 47,6% maior que o registrado em 2020. Fora da lista das companhias com lucros bilionários (em reais), o Banco PAN, controlado pelo BTG Pactual (calendário: dia 16 solta seu 4º tri), apresentou resultado positivo de R$ 775 milhões, alta de 18%.

PUBLICIDADE

O lucro bilionário da XP não se converterá ainda em pagamento de proventos aos acionistas. “Não pretendemos distribuir dividendos agora”, disse Constantino, explicando que 100% da rentabilidade é reinvestida em seu plano de expansão, como uma companhia de alto crescimento (”high growth”).

A plataforma digital de serviços financeiros superou o número de 10 mil agentes autônomos de investimento. “É uma marca emblemática”, classificou Constantino, associando o crescimento dessa profissão à “agenda de redução de custo fixo” pelos bancos tradicionais com fechamento de agências.

Veja mais: XP quer investir em até 30 startups em novo fundo de venture capital

PUBLICIDADE

Sobre os riscos atribuídos ao ano eleitoral de 2022, o executivo repetiu o padrão dos encontros anteriores com a imprensa, evitando um tom pessimista capaz de amplificar a narrativa de cautela e preocupação que costuma povoar relatórios de macroeconomia do mercado sobre o aperto monetário diante de pressões inflacionárias, em meio às incertezas sobre como será o próximo governo federal na condução das finanças públicas, principalmente do quadro fiscal. O CFO não soube responder imediatamente sobre como a XP vai monitorar a disputa presidencial, se vai contratar pesquisas ou promover encontros com os candidatos. “Temos um time político que faz isso para nossos clientes institucionais”.

Constantino repetiu algumas falas que o comando da XP costuma adotar para ilustrar o posicionamento do grupo sobre seus próximos passos, como a frase “só estamos começando”, como se viu no dia 15 de dezembro durante o seu primeiro Investor Day, e as frequentes críticas à qualidade do atendimento dos “bancões” aos clientes e às práticas de cobrança de taxas e tarifas por serviços que a plataforma digital fornece gratuitamente.

Mesmo com lucro trimestral e anual na casa do bilhão de reais, como ocorreu em 2021, o CFO não considera que a XP faça parte do mesmo grupo das instituições financeiras, como os maiores bancos privados do país, a que o comando da companhia costuma se contrapor em suas falas públicas. “A indústria de investimentos no Brasil ainda é altamente concentrada”, disse Constantino.

Crédito

Os números do resultado financeiro e desempenho operacional ilustram o melhor ano da história do grupo. A carteira de crédito da XP atingiu R$ 10,2 bilhões em 31 de dezembro, um crescimento de 164% na comparação anual. Já os cartões de crédito XP geraram R$ 4,4 bilhões em TPV (Total Purchased Value, valor transacionado) no quarto trimestre, um crescimento de 35% em relação ao trimestre anterior e totalizando R$ 10,3 bilhões de TPV total no primeiro ano de operação.

A receita bruta cresceu 47% em relação ao ano anterior e chegou a R$ 12,8 bilhões. O Ebitda ajustado foi de R$ 4,8 bilhões frente R$ 2,9 bilhões, um crescimento de 66%.

“Em 2021, aceleramos o crescimento em novas verticais de negócios, como cartão, crédito e seguros, sendo que em alguns casos já é possível ver com clareza a relevância delas em nosso resultado. Foi um ano também de intenso crescimento do nosso core business de investimentos. Em 2022, seguiremos impulsionando essas e outras verticais para que possamos nos posicionar como uma instituição financeira capaz de cuidar de toda a vida financeira dos nossos clientes e seguir melhorando a vida das pessoas”, afirmou Thiago Maffra, CEO da XP, em nota.

PUBLICIDADE

O total de Ativos sob Custódia (Assets Under Custody, AUC, na sigla em inglês) foi de R$ 815 bilhões em 31 de dezembro, um crescimento de 23% em relação ao mesmo período em 2020. A captação líquida ficou em R$ 230 bilhões, 16% superior na comparação ano contra ano. A base de clientes ativos cresceu 23%, totalizando 3,4 milhões.

“Empreender é trazer experiências cada vez melhores para os clientes com resultados financeiros sustentáveis. Nesses tempos de abundância de capital e explosão de empreendedorismo, repetimos com frequência para as nossas equipes que fazer bem feito é fácil, o difícil é fazer bem feito trazendo resultados sólidos para os acionistas, equilibrando e aprimorando as finanças básicas da companhia (receitas e despesas)”, disse Constantino.

Leia também

Bank of America faz alerta sobre riscos nas bolsas dos EUA

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.