A pré-campanha do governador João Doria à Presidência da República está enfrentando simultaneamente outros dois teses de estresse nesta semana: 1) a cratera da obra do metrô na Marginal Tietê, uma das principais vias da capital paulista e; 2) a investida do presidente Jair Bolsonaro e do ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura) junto a prefeitos de municípios atingidos pelas chuvas no Estado.
O desabamento da obra da Linha 6, que não deixou vítimas, trincou uma das principais vitrines eleitorais do tucano. A obra – celebrada no passado por Doria como a maior em curso na América Latina – está sendo tocada através de PPP (parceria público-privada) pelas empresas Linha Uni Acciona. Os motivos do desabamento ainda estão em apuração. O local começou a ser concretado e a interdição da marginal, no sentido Ayrton Senna, deve levar ao menos mais dez dias.
POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Um dos pré-candidatos a presidente mais próximos do mercado, o tucano João Doria tem patinado nas pesquisas eleitorais. Ele tem aparecido em quinto lugar – distante do líder, Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro, e atrás de outros nomes que visam emplacar a chamada terceira via, como Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT).
Doria venceu a prévia do PSDB no ano passado, mas políticos influentes no partido, como o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador Eduardo Leite (RS), resistem a apoiar o seu nomes. Em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país, o deputado Aécio Neves opõe-se à candidatura de Doria.
Além desses problemas domésticos do partido, o impacto do desabamento da obra do metrô ainda é incerto para as pretensões do governador.
Veja mais: Estas imagens mostram, quadro a quadro, o colapso da obra do metrô em SP
CONTEXTO: Desde ontem, políticos de esquerda e também ligados ao bolsonarismo buscam responsabilizar politicamente o governador pelo acidente. Nesta quarta (2), falando a apoiadores na saída do Alvorada em Brasília, Bolsonaro alfinetou Doria: “Semana que vem a gente conclui a transposição do São Francisco. Em São Paulo aí, eu vi ontem a transposição do Tietê”
Márcio França (PSB), um dos principais adversários de Doria e pré-candidato ao governo, divulgou em seu perfil no Twitter um vídeo editado com Doria visitando a obra e fazendo promessas, colado com imagens da água do rio Tietê invadindo o canteiro na terça.
“Só mentira e vergonha para SP”, escreveu França, que foi derrotado pelo tucano no segundo turno de 2018.
Políticos bolsonaristas conseguiram levar ao trending topics do Twitter a hashtag #DoriaChamaOTarcisio, referência ao ministro da Infraestrutura, que é o escolhido por Bolsonaro para disputar o governo paulistas.
A APOSTA DE BOLSONARO CONTRA DORIA EM SP: Numa segunda frente, o próprio Bolsonaro resolveu investir pessoalmente nos redutos de Doria. Chuvas deixaram 27 mortos e 660 famílias desabrigadas em São Paulo nos últimos dias.
Diferentemente do que ocorreu com as chuvas de Minas Gerais e da Bahia, quando Bolsonaro não interrompeu as férias em Santa Catarina para visitar os locais atingidos, agora o presidente visitou municípios afetados em São Paulo, levou consigo seis ministros, reuniu-se com prefeitos e prometeu liberação rápida de recursos.
Veja mais: Maia vai de secretário a coordenador de campanha de Doria
De acordo com um ministro palaciano que falou à Bloomberg Línea reservadamente, o presidente recebeu a sugestão de visitar Minas e a Bahia, mas avaliou que não era necessário porque os ministros já tinham se deslocado para os Estados. A ausência do presidente foi fortemente criticada na época. Agora, Bolsonaro resolveu ir pessoalmente.
Não houve contato do presidente com o governador para coordenar ações – o que levou o entorno de Doria a acusar o presidente de tentar politizar as chuvas.
O secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo, Marcos Penido, disse que o governo federal negou o pedido de recursos para a construção de piscinões em Franco da Rocha, um dos municípios atingidos.
O ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) confrontou o auxiliar de Doria hoje em uma entrevista à Globo News. Segundo ele, o governo paulista apenas enviou um ofício em 2020 e foi orientado a como captar os recursos necessários através do Congresso ou de se habilitar a recursos do FGTS para obras.
Segundo Marinho, este era o caminho como se tratava de obras de contenção e prevenção, não de obras emergenciais (à época em que os recursos foram pedidos).
Leia também:
Stuhlberger: Lula ‘quase já ganhou’, mas radicalismo não deve prevalecer
Em seminário interno, Lula diz que candidatura não é ‘só do PT’