Investidores aumentam pressão por práticas ESG no agronegócio

Regularidade trabalhista, ambiental e registro nos órgãos de fiscalização são algumas das exigências para aplicadores aportarem recursos em fundos lastreados em ativos do setor

A cada ano, a agricultura avança sobre áreas improdutivas, antes dedicadas à pecuária. A estratégia tem sido usada para ampliar a área plantada sem a necessidade de converter florestas em áreas produtivas
28 de Julho, 2021 | 10:45 AM

São Paulo — O agronegócio sempre foi um setor que atraiu a atenção de investidores. Nos últimos meses, essa atenção aumentou ainda mais com o IPO de mais empresas com atuação no setor. Junto com os olhares, cresceram também as exigências pelas adoção e comprovação de execução de boas práticas ambientais, sociais e de governança, resumidas na sigla ESG. Seguir essas políticas tornou-se um quesito básico para quem busca se financiar na bolsa.

Mas a regra não vale apenas para quem vai à bolsa. Especializada em comprar terras degradadas de pecuária, transformá-las em áreas para agricultura por meio de arrendamento para uma posterior venda, a AGBI Real Assets diz que os veículos de investimento lançados pela gestora possuem cláusulas que impedem que novos desmatamentos sejam realizados nas terras adquiridas, por exemplo.

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Do ponto de vista do investidor, boas práticas ESG se tornaram uma ferramenta de análise e gestão de riscos e uma nova opção de investimento. Para os arrendatários, áreas de produção regularizadas são cada vez mais uma exigência nos financiamentos, seja por parte de bancos ou outros agentes de crédito. Mas também são uma oportunidade para acessar linhas novas, como os “green bonds”, cada vez mais comuns no mercado.

“Já analisamos R$ 44 bilhões em ativos, mas apenas 0,74% disso entrou efetivamente nas cotas dos nossos fundos. As áreas que compramos precisam estar georreferenciadas, com todos os documentos em ordem, sem pendências trabalhistas, no Ibama ou qualquer outro órgão porque essas são exigências dos investidores”, afirma Gustavo Fonseca, um dos sócios da AGBI.

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Pelo modelo de negócio da AGBI, as terras adquiridas são áreas de pastagem degradadas, que são arrendadas para produtores interessados em expandir a produção, sem a necessidade de adquirir novas terras. Do arrendatário, também são exigidos compromissos de governança para garantir que todo o ciclo de investimento não seja “contaminado” com alguma prática que fira os princípios ESG.

CONTEXTO: Com mais R$ 210 milhões em ativos agrícolas sob gestão, a AGBI tem atualmente dois veículos de investimento ativos, com prazos médios de maturação de oito anos. Tendo lançado o primeiro fundo em 2013, a gestora tem voltado suas atenções para aquisição de áreas em Mato Grosso, sul do Maranhão e Rondônia.

“Mas não está fácil. Quando começamos, em 2012, o preço médio de um hectare útil era de R$ 9 mil a R$ 10 mil. Hoje, dificilmente se encontra uma área por menos de R$ 17 mil, seguindo todas as exigências que temos”, afirma Fonseca.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.