Magalu reforça o capital para retomar expansão, diz CFO. Só falta o juro cair

Empresa tem gerado caixa suficiente para bancar investimentos e até pagar juros da dívida, diz Roberto Bellissimo à Bloomberg Línea. Aposta no Magalu Pay complementa estratégia de crédito, de olho no próximo ciclo de crescimento da economia

Empresa com atuação no e-commerce ainda tem força de vendas em lojas físicas, que totalizaram R$ 4,7 bilhões no segundo trimestre de 2025
13 de Agosto, 2025 | 05:00 AM

Bloomberg Línea — O Magazine Luiza (MGLU3), liderado pelo CEO Fred Trajano, tem buscado se preparar para um momento que parece distante: uma retomada sustentável do varejo brasileiro.

Enquanto a economia do país convive com o peso de juro de 15% ao ano, que freia o consumo de bens duráveis, a empresa trabalha para fortalecer sua estrutura financeira e o seu ecossistema de serviços.

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O racional é que, no momento em que o cenário mudar, a empresa estará em posição privilegiada para capturar as oportunidades de um mercado cujo consumo está, de certa forma, represado há muitos anos.

“Temos a disciplina de gerar caixa, dar lucro e reduzir o endividamento, porque sabemos da importância disso para o longo prazo”, disse o CFO do Magazine Luiza, Roberto Bellissimo, em entrevista à Bloomberg Línea.

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O executivo projetou benefícios para o momento em que os juros começarem a cair - algo previsto por uma ala crescente do mercado para a virada deste ano para o próximo: crescimento de vendas, alavancagem operacional, diluição de custos, redução de despesa financeira e melhoria da inadimplência.

Ainda assim, o mercado projeta juros básicos a 12,50% ao ano ao fim de 2026 segundo o relatório Focus, um patamar que alivia o custo do capital, mas ainda elevado para estimular o consumo de forma sustentada, segundo economistas.

“Mesmo em um cenário de juros muito altos, estamos dando lucro, gerando caixa e se fortalecendo para o próximo ciclo de crescimento”, afirmou o executivo.

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No primeiro semestre, a companhia captou US$ 180 milhões com o IFC (International Finance Corporation), o braço de investimentos do Banco Mundial, e o BID Invest, com cheques de US$ 130 milhões e US$ 50 milhões, respectivamente.

Esses recursos foram direcionados para investimentos em tecnologia e também para o fortalecimento da estrutura de capital, segundo o executivo.

Roberto Belíssimo, CFO do Magazine Luiza

Com dívida bruta de R$ 6,2 bilhões e caixa de R$ 8 bilhões, a companhia manteve posição líquida positiva de R$ 1,8 bilhão no final de junho.

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“A operação gerou caixa suficiente para investimentos, leasing e até para pagar os juros. O resto fica por conta da movimentação da estrutura de capital. Captamos, pagamos dívida e dividendos", disse Bellissimo.

A estratégia atual de empresas que comercializam bens duráveis como eletrodomésticos, eletrônicos e móveis - caso do Magazine Luiza - é priorizar a rentabilidade, controlar despesas e garantir o crédito aos seus clientes (veja mais abaixo), enquanto aguardam ventos mais favoráveis ao mercado.

O ceticismo está presente na visão do sell side.

“O Magalu continua a apresentar melhora nos resultados operacionais, com a margem Ebitda se expandindo mais uma vez, mas o atual nível elevado das taxas de juros naturalmente continua sendo um peso sobre os lucros”, apontaram analistas de equity research do Itaú BBA em relatório sobre o resultado do segundo trimestre, divulgado na última semana.

“O crescimento permanece desafiador no ambiente atual, com altos níveis de endividamento das famílias e de taxas de juros, e seguimos cautelosos, esperando uma desaceleração no crescimento das vendas do varejo no segundo semestre”, disseram os analistas liderados por Rodrigo Gastim.

Diversificação do ecossistema

A estratégia de diversificação do ecossistema Magalu tem mostrado resultados positivos, segundo o CFO, com destaque para o crescimento das subsidiárias Netshoes, KaBuM! e Época Cosméticos, que registraram lucros líquidos de R$ 24 milhões, R$ 12 milhões e R$ 7 milhões, respectivamente, no segundo trimestre.

O segmento de serviços financeiros também ganhou força com o Magalubank, que apresentou lucro de R$ 102 milhões na LuizaCred.

A plataforma de publicidade Magalu Ads, no segmento de retail media, cresceu 66% em receita na comparação com o mesmo período do ano anterior, impulsionada pela expansão do tíquete médio tanto para marcas quanto para sellers.

O Magazine Luiza encerrou o segundo trimestre com vendas totais de R$ 15,3 bilhões e Ebitda ajustado de R$ 727 milhões, equivalente a uma margem de 8%.

A empresa manteve equilíbrio entre os canais online e físico: as vendas digitais representaram 69% do total de R$ 15,3 bilhões em receitas, enquanto as lojas físicas contribuíram com R$ 4,7 bilhões.

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O crescimento de 3,5% no conceito de mesmas lojas físicas e de 5% no e-commerce para produtos com tíquete acima de R$ 1.000 evidenciaram a recuperação gradual do consumo em categorias de maior valor agregado, segundo Bellissimo.

A operação logística do Magalog também se fortaleceu e chegou a 90 clientes externos: a divisão tem se consolidado como um dos maiores operadores logísticos do país, com 95% de nível de serviço (relacionado à satisfação do cliente) e capacidade de entrega por meio de até dez centros de distribuição, segundo o CFO.

O momento de preparação para um crescimento mais sustentado vem acompanhado também da perspectiva de ampliação do “parque” de lojas.

A empresa planeja inaugurar até o fim do ano uma loja conceito chamada Galeria Magalu, no espaço onde funcionava a Livraria Cultura no Conjunto Nacional, no ponto nobre da avenida Paulista, em São Paulo. O local reunirá todas as marcas do ecossistema: Magalu, Netshoes, KaBuM, Época e Estante Virtual.

Segundo o CFO, o projeto da Galeria Magalu representa a consolidação da visão integrada entre loja física e operações 1P (produtos próprios) e 3P (marketplace), como demonstração da unificação de todas as suas frentes de negócio em uma “experiência única” para o consumidor.

Nova financeira aposta no crediário direto

O Magazine Luiza estruturou uma nova frente de negócios financeiros com o lançamento do Magalu Pay, que funcionará como uma financeira independente da joint venture com o Itaú (ITUB4), a LuizaCred.

A estratégia visa atender diferentes perfis de consumidores com produtos complementares de crédito, segundo o CFO.

A nova financeira é comandada desde maio por Jorg Friedemann, que antes atuava como IRO (Investor Relations Officer) do Nubank.

O objetivo do Magalu Pay é oferecer um “carnê digital” que permitirá parcelamentos em até 24 meses com taxas de juros entre 6% e 7% ao mês. O produto poderá ser acessado tanto pelo aplicativo quanto nas lojas físicas, com pagamento via Pix ou saldo da conta digital do próprio app da empresa.

Enquanto a LuizaCred permanece focada em cartões de crédito, o Magalu Pay será dedicado ao CDC (Crediário Direto ao Consumidor), mirando especialmente consumidores das classes B e C.

A complementaridade dos produtos permite diferentes estratégias de consumo.

“Há cliente que tem um cartão, mas não quer usar todo o limite do cartão, e daí faz um CDC para uma compra parcelada em 18, 24 meses”, exemplificou.

Segundo ele, o CDC também oferece vantagens para o controle de risco da operação.

Por outro lado, se um cliente com cartão gerar uma inadimplência de R$ 6.000, a margem das vendas internas não é suficiente para cobrir esse prejuízo, dado que o crédito pode ser usado em outros estabelecimentos.

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“São produtos complementares, para públicos complementares, para nossa estratégia de financiamento ao consumidor”, resumiu o CFO.

A abordagem busca maximizar as oportunidades de crédito sem comprometer a saúde financeira da operação.

O Magalu Pay também centralizará todos os serviços de pagamento no checkout da empresa, oferecendo uma experiência integrada ao consumidor.

Entre as facilidades estão o processamento de Pix, possibilidade de usar dois cartões de crédito simultaneamente e pagamento com cartão sem necessidade de digitar o código de segurança.

A estratégia se insere no movimento mais amplo do varejo brasileiro, em que diversas empresas têm criado suas próprias soluções de pagamento digital, a exemplo do 99Pay e do Mercado Livre Pay, que buscam maior controle sobre a experiência de compra e novas fontes de receita por meio de serviços financeiros.

Na B3, as ações da Magazine Luiza acumulam alta de 8,3% em 2025, com a companhia sendo avaliada em R$ 5,2 bilhões. Em 12 meses, no entanto, a desvalorização acumulada chega a 45,6%.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 30 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.