Madero acelera integração com Jeronimo e projeta converter 70 restaurantes no ano

Restaurantes que combinam as duas marcas em um único espaço têm aumento de 20% na receita em relação ao formato tradicional, contam o CEO e fundador, Junior Durski, e o CFO, Ariel Szwarc, à Bloomberg Línea

Unidade de operação híbrida do Madero e Jeronino na Oscar Freire
06 de Agosto, 2025 | 05:15 AM

Bloomberg Línea — O chef paranaense Junior Durski escolheu o nome do tataravô Jeronimo — que trocou a Polônia pelo Brasil como imigrante — para criar em 2017 sua marca de restaurantes casuais com foco em hambúrguer smash (prensado na chapa e mais fino), para o público jovem e com autoatendimento.

A proposta do Jeronimo era quase oposta ao conceito da principal marca de Durski, o Madero, que oferece hambúrguer grelhado em ambiente mais tradicional, com atendimento à mesa. Os dois universos, no entanto, começaram a se fundir em 2024, com as duas marcas coabitando o mesmo espaço. E parece que deu certo.

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Em entrevista à Bloomberg Línea, os principais executivos do Grupo Madero informaram que pretendem encerrar 2025 com cerca de 60 a 70 unidades com operação no formato híbrido, que combina as marcas Madero e Jerônimo em um mesmo restaurante.

No final de junho, a companhia tinha um total de 279 restaurantes multimarcas no portfólio, com 36 já convertidos para o formato híbrido.

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“A empresa mantém um ritmo acelerado de conversões e tem transformado de 4 a 5 unidades por mês no novo modelo”, disse o CFO, Ariel Szwarc, à Bloomberg Línea.

A estratégia prioritária consiste em converter unidades Jeronimo existentes para incluir também a marca Madero, uma combinação que tem apresentado resultados “excelentes”, segundo o executivo.

Apenas no segundo trimestre, foram inauguradas quatro novas unidades (três Madero Steak House e uma híbrida) e houve 26 restaurantes convertidos para o formato híbrido, com integração dos cardápios das duas marcas, sendo 18 Jeronimo e 8 Madero Container.

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As unidades híbridas têm se destacado com um aumento médio de 20% no faturamento em comparação com o formato tradicional.

O resultado contrasta significativamente com o mercado geral, que registra números negativos no período, segundo o CFO.

Em um cenário em que o mercado de alimentação fora do lar segue diante de dificuldades, como a guerra de preços entre players como Burger King, McDonald’s e KFC, o Madero conseguiu registrar crescimento de 3,8% em SSS (same-store sales, mesmas lojas, abertas há pelo menos um ano) no segundo trimestre.

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Essa performance foi considerada “extremamente bem” pelos executivos em comparação com concorrentes do setor.

O retorno sobre o investimento nas conversões híbridas tem surpreendido positivamente. A maioria das unidades convertidas apresenta payback (retorno do investimento) entre 6 e 12 meses, com casos extremos que variam de 4 meses até 24 meses, em demonstração da eficiência do modelo, apontaram.

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A primeira conversão se deu na unidade da rua Oscar Freire, no bairro nobre do Jardim Paulista, em São Paulo - anteriormente funcionava apenas como Jeronimo.

Esta operação piloto, revelada pela Bloomberg Línea em reportagem publicada em outubro de 2024, serviu como laboratório para aperfeiçoar o modelo que hoje se expande pelo país.

Impacto positivo no delivery

A estratégia híbrida tem gerado benefícios inesperados para o canal de delivery, segundo o CFO. A participação das vendas por entrega cresceu de 20% para 21,5% do faturamento total no segundo trimestre, um aumento considerado relevante considerando a base total de operações.

O modelo permite que uma única unidade atenda a região com duas marcas distintas, o que otimiza a cobertura geográfica e reduz o tempo de entrega para os clientes. No caso da Oscar Freire, por exemplo, a região passou a ser atendida diretamente, com melhora da experiência do consumidor.

Do ponto de vista operacional, as conversões híbridas demandam poucos ajustes na estrutura de custos, de acordo com o CFO. Embora seja necessário contratar funcionários adicionais, não há necessidade de duplicar posições gerenciais, o que permite manter a eficiência do modelo.

A empresa desenvolveu um mapa logístico baseado na eficiência da engenharia, em que prioriza a conversão de todas as unidades de uma cidade antes de migrar para outra localidade. Isso permite otimizar recursos.

Cautela na expansão da rede

Apesar dos resultados considerados positivos pelos executivos, o Grupo Madero segue com postura cautelosa em relação à abertura de novas unidades.

A taxa Selic em patamar persistentemente elevada tem levado a empresa a focar na redução do índice de endividamento em vez de acelerar a expansão.

A estratégia corrente prevê crescimento apenas em locais onde há suporte de shoppings ou proprietários de terrenos, de forma que isso se traduza em disciplina financeira.

Após nove meses consecutivos de alta nos preços da carne, o Madero registrou estabilização nos custos para agosto. Pela primeira vez, os preços negociados com frigoríficos permaneceram inalterados em relação ao mês anterior.

“Na última sexta-feira, negociamos os preços da carne para agosto. Os frigoríficos nos passaram o mesmo preço de julho. Não mudou nada. Parou de subir”, afirmou o CEO do Madero, o chef Junior Durski.

A empresa havia recebido justificativas constantes de fornecedores sobre a alta dos preços relacionadas à demanda americana por carne brasileira.

As recentes discussões sobre tarifas de 50% dos EUA aos embarques de bens nacionais podem impactar positivamente os custos domésticos, caso o volume de carne exportada seja direcionado ao mercado interno, embora ainda seja cedo para avaliar os efeitos.

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Para lidar com a pressão de custos, o Madero tem ajustado seu mix de produtos. A empresa migrou de volta do acém para fraldinha ,para a produção de hambúrguer já que o primeiro disparou em preço devido à demanda americana, enquanto a fraldinha manteve-se mais estável.

O cardápio também recebeu novidades, como o petit gâteau de chocolate, que complementa a oferta já existente de doce de leite.

Segundo o CEO, o menu executivo tem ganhado força e representado uma parcela importante das vendas - e isso ajuda a manter o tíquete médio.

Digitalização de restaurantes

Ao mesmo tempo em que avança na transformação do formato de lojas, o grupo colhe frutos de sua estratégia anterior de digitalização completa das operações.

Mesmo nas unidades com atendimento presencial com garçons, os pedidos são feitos via tablets e levados digitalmente para toda a cozinha.

As vendas digitais diretas, por meio de totens de autoatendimento, ainda têm muito espaço para expansão, na avaliação dos executivos.

Essa modalidade permite otimizar margens com vendas adicionais (upselling) de forma natural, sem pressionar o cliente.

Antecipação de compromisso no radar

A empresa também mantém política de pagamento em dia de suas obrigações, com vencimentos mensais dos CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) emitidos em 2021 e 2022 honrados pontualmente, segundo o CFO.

Há inclusive possibilidade de antecipação de pagamentos para reduzir ainda mais o endividamento, mas isso dependeria de alguma captação de recursos no mercado, algo que ainda não foi decidido oficialmente.

As últimas captações foram realizadas a CDI mais 2,70%, o que representou melhoria significativa em relação ao CDI mais 3,50% pagos anteriormente, demonstrando melhoria no perfil de risco da empresa.

No primeiro semestre, a dívida líquida do Madero somava R$ 753,9 milhões, uma redução de R$ 20,5 milhões em relação à posição do primeiro trimestre.

A posição de caixa e aplicações financeira estava em R$ 378 milhões. O índice de alavancagem (dívida líquida/Ebitda dos últimos 12 meses) manteve-se “saudável”, em 1,19x, segundo a companhia.

A companhia reportou no fim de julho um lucro líquido de R$ 38,1 milhões no acumulado do primeiro semestre.

O Ebitda ajustado chegou a R$ 275,2 milhões, com margem de 28,4%, enquanto a receita líquida totalizou R$ 968 milhões.

Para os próximos cinco anos, a visão dos executivos é otimista para empresas que sejam consideradas sólidas financeiramente - e eles dizem perseguir esse status.

Promoções agressivas como “dois hambúrgueres por R$ 19,90”, anunciadas na concorrência recentemente, são vistas como insustentáveis e momentâneas.

Eles consideram que o mercado brasileiro está longe de atingir saturação e disseram ver amplas oportunidades de crescimento conforme a economia se recuperar e o poder aquisitivo dos consumidores se normalizar.

Sem janela para um IPO

Por ora, o Madero segue com a estratégia de seguir como empresa de capital fechado, sem retomar, portanto, os planos para um IPO (oferta pública inicial), como era discutido abertamente antes da pandemia.

Junior Durski segue como principal acionista, com quase 60% do capital. A empresa de private equity Carlyle detém 33,4% do Grupo Madero.

Szwarc disse que a empresa de private equity ainda enxerga muito valor na tese de investimento do Grupo Madero.

“Conversamos permanentemente com eles [Carlyle] e estão muito felizes. É o único investimentos que eles têm hoje no Brasil. Todos os outros [CVC, Tok&Stok, Ri Happy e Qualicorp], venderam”, disse o CFO.

“Temos uma parceria muito boa. É capaz que algum dia eles vendam a participação para outro fundo. Não sabemos. Provavelmente a saída deles do capital seria num possível em um IPO, mas não há janela de mercado favorável”, disse o CEO.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.