Farm Rio reduz venda para EUA e cogita levar parte de produção à Europa, diz Birman

Em entrevista à Bloomberg News em Nova York, o CEO da Azzas 2154 falou sobre medidas tomadas diante das tarifas comerciais e minimizou rumores sobre tensão com Roberto Jatahy, do Soma

A Farm Rio, da holding Azzas 2154, tem sido uma das marcas brasileiras com presença de destaque em cidades globais como Nova York e Londres (Foto: Reprodução/Instagram)
Por Rachel Gamarski
04 de Junho, 2025 | 01:17 PM

Bloomberg — A Farm Rio, marca brasileira conhecida por suas estampas coloridas usadas por celebridades como Justin Bieber e Beyoncé, está aumentando seletivamente os preços para amortecer o impacto das tarifas comerciais e, ao mesmo tempo, reduz as exportações para os Estados Unidos.

A Azzas 2154, holding controladora da marca, já aumentou alguns preços nos EUA e considera transferir partes de sua produção da China para a Europa, disse o CEO, Alexandre Birman, durante uma entrevista na sede da Bloomberg em Nova York.

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“Não sabemos aonde as tarifas vão parar, mas reduzimos temporariamente as importações para os EUA”, disse Birman.

A Azzas (AZZA3), uma das maiores exportadoras de vestuário do Brasil, enfrenta turbulências tanto nos Estados Unidos quanto em seu mercado doméstico, onde as altas taxas de juros alimentaram preocupações com a demanda.

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Globalmente, as vendas de marcas de moda de nível intermediário conseguiram se sustentar em grande parte, mas as empresas alertaram que as perspectivas para o segundo semestre não são claras.

As vendas de vestuário no Brasil permaneceram saudáveis neste ano, mas a expansão internacional da Azzas pode ser prejudicada por tarifas mais altas.

Oportunidades para calçados

Também há oportunidades: Birman vê uma abertura para a fabricação de calçados brasileiros à medida que as empresas procuram países alternativos para evitar as tarifas dos EUA.

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“Se as tarifas sobre produtos chineses subirem acima de 50%, nos tornaremos competitivos”, disse ele.

“Nesse caso, precisaríamos acelerar os investimentos para expandir a produção local, já que a qualidade da produção chinesa melhorou significativamente nos últimos anos.”

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Os EUA aumentaram as tarifas para até 145% antes de reduzi-las para 30% por 90 dias, enquanto os países trabalham para chegar a um acordo.

O presidente dos EUA, Donald Trump, também aumentou as tarifas para todos os países e ameaçou a União Europeia com uma taxa de 50% se não houver acordo.

Os estados e as pequenas empresas dos EUA estão contestando as taxas no Tribunal de Comércio Internacional dos EUA, que anteriormente decidiu contra as tarifas.

Um tribunal federal de apelações permitiu temporariamente a continuidade da vigência das tarifas, mas a política comercial dos EUA será decidida, em última instância, por uma combinação de decisões judiciais e negociações comerciais entre os EUA e os parceiros comerciais.

Em comentários enviados posteriormente à Bloomberg News, Birman disse que as políticas de Trump estão causando incertezas.

Se as tarifas continuarem a subir, a Azzas poderá transferir a produção de vestuário para Turquia ou Portugal, uma mudança que também apoiaria o lançamento europeu de sua marca Farm Rio.

Atualmente, a empresa tem um número limitado de lojas na região. A empresa também pretende expandir-se no Oriente Médio, no México e na América do Sul.

A marca Farm Rio tem seis lojas nos EUA e mais de cem no Brasil.

A Azzas, formada a partir da fusão da Arezzo e do Grupo Soma no começo de 2024, sofreu apenas um “pequeno impacto” das tarifas até o momento, disse Birman.

A empresa com sede em Belo Horizonte está focada em acelerar as sinergias e melhorar seu fluxo de caixa à medida que integra suas operações.

O grupo tem simplificado as operações de olho no retorno sobre o capital investido, acrescentou ele, e não descartou negócios relacionados às suas marcas.

A empresa também possui outras marcas de luxo, como Animale, Maria Filó, Cris Barros e Fábula, entre outras.

Birman também tem uma marca com seu próprio nome que vende sapatos que custam de US$ 400 a US$ 1.000. A atriz Emily Blunt usou tais sapatos durante a premiação do Oscar de 2023.

Progresso na integração

A integração começa a dar resultados, disse Birman, com ganhos esperados à medida que a empresa simplifica as operações de logística e remessa e combina áreas como comércio eletrônico e atendimento ao cliente.

No primeiro trimestre, a receita aumentou acentuadamente em relação ao ano anterior.

Os investidores estão observando atentamente os sinais de progresso.

Ruben Couto, analista do Santander, disse em uma nota recente aos clientes que o fluxo de caixa operacional negativo da empresa e as altas despesas de capital contribuíram para o aumento da dívida no último trimestre.

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Para combater isso e instilar disciplina financeira, os bônus dos funcionários agora estão vinculados ao fluxo de caixa livre da Azzas, disse Birman.

A administração também planeja reduzir as despesas de capital em R$ 120 milhões no próximo ano, com a redução de gastos com tecnologia e abertura de novas lojas por meio de franqueados.

‘Debates interessantes’ com Jatahy

Birman minimizou uma reportagem recente do jornal Valor Econômico, que noticiou que há tensão com o fundador do Grupo Soma, Roberto Jatahy.

“Há pontos de divergência que geram debates interessantes”, disse Birman sobre seu relacionamento com Jatahy. Ele acrescentou que “tudo é regido por um acordo válido, incluindo um plano de lock-up de 10 anos, para manter seus termos”.

No ano passado, os principais acionistas da empresa concordaram com um plano de lock-up que restringe a venda de suas participações, exceto em casos específicos.

Birman e Jatahy são os principais acionistas da entidade combinada, e a Soma gera cerca de 30% da receita.

As ações da Azzas, listadas na B3, subiram mais de 50% até agora neste ano, com grande parte do salto após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre da empresa no começo do mês passado.

Birman acrescentou que tem um relacionamento “profundo” com os fundadores da Farm Rio, Katia Barros e Marcello Bastos.

“Temos uma conexão com a moda, há um relacionamento construtivo com estratégia para melhorar o negócio”, disse ele.

-- Com a colaboração de Barbara Nascimento.

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