Bloomberg — Há um ano, a Eli Lilly (LLY) estava prestes a se tornar a primeira empresa farmacêutica a atingir um valuation de US$ 1 trilhão. Ela ainda não atingiu esse patamar.
Em vez disso, uma série de resultados trimestrais aquém das elevadas expectativas, um revés para seu medicamento para a obesidade e as ameaças de tarifas altíssimas levaram os investidores da Lilly a uma jornada turbulenta, apenas para depositá-los quase exatamente no ponto em que inicialmente estavam.
Com uma queda de 21% em relação ao recorde de agosto de 2024, a Lilly é negociada a US$ 762 por ação e vale US$ 722 bilhões. Nada mal - longe disso -, mas não os números elevados que os investidores esperavam.
“Há muitos investidores bastante frustrados que podem ter pago US$ 800 ou US$ 900 por ação”, disse Ken Mahoney, CEO da Mahoney Asset Management.
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“Há muitas pessoas presas nas ações e que gostariam de ver o preço subir, obviamente, mas, novamente, elas estão pedindo muito.”
Há 12 meses, a expectativa não parecia tão monumental.
A empresa com sede em Indianápolis tinha uma das ações mais concorridas de Wall Street, chegando a se tornar a nona mais valiosa do S&P 500, com uma avaliação máxima de US$ 912 bilhões.
O medicamento para obesidade da Lilly, conhecido como Zepbound, “roubava” participação de mercado de seu maior rival, o Wegovy, da Novo Nordisk (NVO).
A empresa também apresentava uma perspectiva promissora para seus medicamentos com GLP-1. Desde então, a Lilly teve um desempenho inferior ao do S&P 500 em cerca de 23 pontos percentuais.

A trajetória começou a ficar instável no outono passado no hemisfério norte, quando a farmacêutica registrou uma rara queda nas vendas trimestrais e reduziu sua previsão de receita anual.
Expectativas frustradas
A situação tornou-se mais turbulenta nos últimos oito meses.
O Zepbound e a injeção para diabetes, o Mounjaro, ficaram aquém das estimativas em dois trimestres consecutivos, levantando questões sobre a capacidade da administração de prever a demanda.
“As expectativas aumentaram”, acrescentou Mahoney.
“É assim que funciona em Wall Street. Você tem alguns trimestres bons e continua a elevar as estimativas, ou a concorrência entra em cena porque é um ótimo lugar para se estar e, quando você percebe, eles não estão atingindo esses números.”
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Então, em maio, a administradora de benefícios farmacêuticos CVS Health retirou o Zepbound de sua lista de medicamentos preferenciais e o substituiu pelo Wegovy, da Novo. A notícia fez com que as ações da Lilly despencassem 12%, a pior queda desde outubro de 2008.
A Lilly vinha expandindo sua participação no mercado até que a mudança da CVS Health entrasse em vigor, embora a extensão dos danos não fique clara até que a empresa divulgue os resultados do terceiro trimestre.
E há ainda o “lugar especial” da indústria farmacêutica na guerra comercial de Donald Trump.
O presidente ameaçou com tarifas debilitantes em um esforço para forçar a volta da fabricação de medicamentos para os EUA. Na semana passada, ele exigiu que os principais fornecedores reduzissem drasticamente os custos ou enfrentassem penalidades adicionais não especificadas.
As ameaças tiraram o brilho do que antes era uma indústria reluzente.
“É um setor pouco apreciado no momento”, segundo Rhys Williams, estrategista-chefe da Wayve Capital Management.
Chance de reviravolta
A Lilly tem, no entanto, a chance de retomar sua trajetória rumo à avaliação de US$ 1 trilhão. A empresa deve divulgar nos próximos meses os resultados de dois ensaios clínicos em fase avançada de um medicamento experimental oral chamado orforglipron, para o tratamento da obesidade.
O Zepbound também pode obter aprovação regulatória para tratar outras doenças, como cardíacas e hepáticas, o que ampliaria o acesso a mais pacientes.
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Boas notícias para o Zepbound surgiram no dia 1º de agosto, após a notícia de que o Medicaid e alguns planos do Medicare irão experimentar a cobertura de medicamentos caros para perda de peso. As ações da Lilly subiram 3%.
Allen Bond, gestor de portfólio da Jensen Investment Management, aposta que é hora de comprar ações da Lilly.
“O momento é muito positivo e eles estão muito bem posicionados”, disse Bond, que comprou ações da farmacêutica pela primeira vez em junho.
“Eles também têm outras franquias de medicamentos muito boas que não são GLP-1s e têm um histórico muito bom de colocar medicamentos no mercado.
Os resultados do ensaio deixam o orforglipron à beira de ser comercializado, de acordo com o analista Evan David Seigerman, da BMO Capital Markets. Ele espera que os dados positivos coloquem o comprimido no caminho certo para a aprovação regulatória em 2026.
“Esperamos que as ações da Lilly possam ser negociadas com alta de 7% a 10% com base nos dados positivos, pressionando a Novo e a Amgen”, disse Seigerman. Ele estabeleceu um preço-alvo de US$ 920 para as ações.
A queda no preço das ações deu um significado extra ao resultado do segundo trimestre da Lilly, divulgado na quinta-feira (7).
As expectativas moderaram-se depois de a Novo ter reduzido a sua previsão de crescimento das vendas na semana passada.

Parte da moderação se deve aos problemas da Novo, que levaram a farmacêutica dinamarquesa a substituir seu CEO. Apesar das preocupações de que a Lilly possa enfrentar dificuldades semelhantes, Wall Street continua otimista.
Todos, exceto oito dos 37 analistas acompanhados pela Bloomberg, classificam a empresa como uma boa opção de compra, com um consenso de que as ações atingirão US$ 960 nos próximos 12 meses, um salto de 26% em relação aos níveis atuais e uma avaliação de US$ 910 bilhões — quase exatamente o patamar em que atingiu seu pico em agosto passado.
Mahoney continua um pouco cético e espera para ver dois trimestres de crescimento acelerado antes de se tornar otimista.
“Trimestres consecutivos em que as empresas atingem as estimativas e, em seguida, aumentam as projeções... isso seria muito atraente”, disse Mahoney. “Essa é a nossa definição de como entramos em ações. Após os resultados trimestrais, certifique-se de que não há nenhuma ‘bomba prestes a explodir’.”
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