Elon Musk nuevo propietario de Twitter
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Bloomberg Opinion — Na semana passada, a Neuralink, de Elon Musk, recebeu a aprovação da Food and Drug Administration (FDA) – órgão americano semelhante à Anvisa no Brasil – para realizar testes clínicos em humanos, algo que um ex-funcionário da FDA disse ser “realmente um grande negócio”.

Não discordo, mas sou cético quanto ao fato de que essa tecnologia “mudará tudo”. Nem todo avanço tecnológico profundo tem amplas implicações sociais e econômicas.

Com o dispositivo da Neuralink, um robô insere cirurgicamente um dispositivo no cérebro que pode decodificar algumas atividades cerebrais e conectar os sinais cerebrais a computadores e outras máquinas. Uma pessoa paralisada do pescoço para baixo, por exemplo, poderia usar a interface para manipular seu ambiente físico, bem como para escrever e se comunicar.

Isso seria de fato um avanço para pessoas com paralisia ou lesões cerebrais. Para outras pessoas, não tenho tanta certeza. Para fins de argumentação, como há muitas empresas trabalhando nesse espaço, suponha que essa tecnologia funcione como anunciado. Mas quem exatamente vai querer usá-la?

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Um dos receios é que as conexões entre cérebros e máquinas sejam caras e que somente os ricos possam pagar por elas. Essas pessoas se tornarão uma nova classe de “super-pensadores”, dominando-nos com seus intelectos superiores.

Não acho que esse cenário seja provável. Se me oferecessem US$ 100 milhões para uma conexão permanente entre meu cérebro e um computador, eu não aceitaria, pelo menos por causa do medo dos efeitos colaterais e de possíveis danos neurológicos. E eu gostaria de ter certeza de que o nexo de controle vai de mim para o computador, e não vice-versa.

Além disso, há outras maneiras de aumentar minha inteligência com computadores, principalmente com as recentes inovações em IA. É claro que posso pensar mais rápido do que posso falar ou digitar, mas não tenho muita pressa.

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Uma visão relacionada à interface direta cérebro-computador é que os computadores serão capazes de injetar rapidamente conhecimento útil em nossos cérebros. Imagine ir para a cama, ligar seu dispositivo cerebral e acordar sabendo chinês. Parece incrível, mas se isso fosse possível, o mesmo aconteceria com todos os tipos de outros cenários (nem todos benéficos) em que um computador pode alterar ou controlar nosso cérebro.

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Também considero esse cenário remoto – diferentemente de usar o cérebro para manipular objetos, ele parece uma verdadeira ficção científica. As tecnologias atuais leem os sinais cerebrais, mas não os controlam.

Outra visão para essa tecnologia é que os proprietários de computadores desejarão “alugar” os poderes dos cérebros humanos, da mesma forma que as empresas alugam atualmente um espaço na nuvem.

Os programas de software não são bons em algumas habilidades, como identificar falas ou imagens inaceitáveis. Nesse cenário, os cérebros conectados vêm em grande parte de trabalhadores com baixos salários. Da mesma forma, as empresas de mídia social e a OpenAI já usaram mão de obra barata no Quênia para avaliar a qualidade da produção.

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Esses investimentos podem ser bons para aumentar os salários dessas pessoas. Muitos observadores podem fazer objeções pois uma nova e mais insidiosa distinção de classe terá sido criada – a de pessoas que precisam se conectar a máquinas para ganhar a vida.

Será que existem cenários em que trabalhadores com salários mais altos desejam ser conectados a uma máquina? Não seria útil para um espião ou negociador corporativo receber inteligência de computador em tempo real enquanto toma decisões? Os esportes profissionais permitiriam essas interfaces cérebro-computador? Elas podem ser úteis para dizer a um jogador de futebol quando deve ou não chutar a bola.

Quanto mais pondero sobre essas opções, mais cético fico em relação aos usos em larga escala da interface cérebro-computador para pessoas sem deficiência. A inteligência artificial vem progredindo em um ritmo incrível e não requer nenhuma intrusão em nossos corpos, muito menos em nossos cérebros. Sempre há tampões de ouvido e alguma versão futura do Google Glass.

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A principal vantagem da interface direta cérebro-computador parece ser a velocidade. Mas a velocidade extrema é importante apenas em uma classe limitada de circunstâncias, a exemplo de competições esportivas.

É claro que empresas como a Neuralink podem provar o contrário. Mas, por enquanto, mantenho minhas apostas na inteligência artificial e nos grandes modelos de linguagem.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. É coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives, and Winners Around the World”.

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