Bankman-Fried foi acusado de fraude após colapso da exchange FTX, se juntando a casos recentes como o de Elizabeth Homes, da Theranos
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Bloomberg Opinion — Novamente, mais uma jovem fundadora da Geração Z de uma empresa de tecnologia foi acusada de fraude. Desta vez é Charlie Javice, que, como outros antes dela, estampou capas de revistas e listas de pessoas promissoras com uma história de origem convincente e a promessa de um mundo melhor, e foi recompensada com muitos milhões de dólares.

Agora, o JPMorgan (JPM) a acusa de inventar clientes como parte de uma enorme fraude quando eles adquiriram seu site de planejamento financeiro universitário, o Frank.

Bem, esse não é o primeiro caso. Javice entra para um seleto rol, juntamente com Elizabeth Holmes, da Theranos, Adam Neumann, da WeWork, e Sam Bankman-Fried, cofundador da FTX, para citar alguns nomes. Há muitos outros que receberam menos atenção.

Todos eles se encaixam no mesmo perfil: todos jovens, pelo menos quando começaram, com declarações grandiosas. Mas, na melhor das hipóteses, eles superestimaram muito o que seus negócios realmente poderiam fazer enquanto ganhavam dinheiro – os piores casos foram enquadrados como fraude.

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Felizmente, espera-se que isso aconteça menos no futuro. Duas tendências que permitiram que pessoas com pouca experiência empresarial ou industrial ganhassem milhões ou bilhões de dólares de investidores estão chegando ao fim: as taxas de juros baixas e uma cultura de investimento que tornou um fetiche a juventude no mundo da tecnologia.

Ainda ficamos com a impressão de que há uma falta de ética entre os jovens empreendedores no setor de de tecnologia. Mas cada geração tem uma fatia de pessoas capazes de fraude. Certamente, pessoas de todas as idades cometeram fraudes no passado e no presente.

Uma pesquisa de 2011 descobriu que a idade mais comum para cometer fraudes é entre 35 e 46 anos, embora estes esquemas tendam a ser muito menores. A diferença para os millennials do setor de tecnologia é que estes receberam uma enorme quantidade de capital muito cedo, o que gerava casos espetaculares e muitas manchetes.

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Após o impressionante sucesso de jovens fundadores como Steve Jobs, a “máfia do PayPal” e Mark Zuckerberg, os investidores do setor associaram a juventude com visão e muito retorno. tecnologia deveria mudar o mundo, e ser mais velho significava cumprir normas e processos antigos que atrasavam o processo.

Há alguns anos, Paul Graham, da empresa de capital de risco Y Combinator, disse ao New York Times Magazine: “para investidores, o limite é 32 anos. Após essa idade, eles começam a ficar meio céticos”. Esse pensamento gerou incontáveis histórias de discriminação por idade e fundadores de tecnologia mais preocupados em manter uma aparência jovem do que uma estrela de Hollywood.

Mas ao associar a juventude à visão e à capacidade de “agir rapidamente e inovar”, os investidores subestimaram traços que normalmente seriam considerados importantes, como a experiência no setor e nos negócios e um histórico de sucesso, honestidade e ética. Apesar da preferência por jovens, pesquisas constataram que, quando se trata de investir em unicórnios, é melhor procurar um fundador mais velho.

Tudo isso foi incentivado pelo ambiente de taxas de juros mais baixas. As taxas baixas aumentam o apetite pelo risco, e o que é mais arriscado do que dar milhões de dólares a uma pessoa de 25 anos? Apostar que você encontrou ou próximo Zuckerberg ou o próximo Steve Jobs é mais fácil quando o capital é barato e abundante.

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Um jovem fundador pode não saber como lucrar, mas o potencial para grandes recompensas no futuro ainda valia a pena para alguns investidores quando a suposição predominante era que as taxas permaneceriam baixas o suficiente para que eles pudessem esperar décadas pela recompensa.

Antes do boom da tecnologia, quando as taxas de juros estavam mais altas, os investidores tinham que ser mais perspicazes e práticos. Mas à medida que as taxas caíam e o capital chegava de investidores estrangeiros e fundos de pensão, os fundos de investimento assumiam mais riscos sobre os talentos não comprovados.

E esse talento não comprovado muitas vezes se mostrou imaturo e com delírios de grandeza. Essa dinâmica significou que a linha entre inflar uma ideia de negócio e cometer fraude tornou-se muito tênue nos últimos anos.

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Os tempos estão mudando, e esta fase de investimento pode estar no fim. As taxas estão aumentando e há motivos para pensar que permanecerão altas, ou pelo menos mais altas do que na década passada.

O capital pode não ser tão abundante com o aumento do endividamento e a redução da globalização. E agora, depois de tantos investimentos que vão vergonhosamente mal, talvez a preferência dos investidores em tecnologia por menos experiência diminua.

Nesse caso, fraudes continuarão ocorrendo como sempre, mas espera-se que haja menos histórias de pessoas com seus 20 e poucos anos com grandes sonhos e muita lábia sobre investidores experientes.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Allison Schrager é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de economia. É pesquisadora sênior do Manhattan Institute e autora de “An Economist Walks Into a Brothel: And Other Unexpected Places to Understand Risk”.

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