O banco central da China reduziu a taxa de juros nesta segunda-feira (15), uma surpresa para economistas e o primeiro corte desde janeiro
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Bloomberg Opinion — A frágil economia da China exige uma tábua de salvação do banco central, independentemente dos alertas de que a inflação tem subido e precisa ser contida. Com o crescimento estagnado e a demanda por crédito em queda, o Banco Popular da China (PBoC) deixou claro que a recuperação vem primeiro.

Os aumentos de preços podem ser preocupantes, mas são um problema de segunda ordem – por enquanto. Pequim deve levar em conta o cenário sombrio.

O PBoC reduziu a taxa de juros nesta segunda-feira (15), uma surpresa para economistas e o primeiro corte desde janeiro. A redução da taxa de referência para empréstimos de um ano foi modesta para os padrões de ajustes globais em termos de juros – 10 pontos-base – , mas chocou porque o banco central parecia nitidamente menos dovish (isto é, favorável a juros mais baixos) ultimamente.

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Apenas alguns dias antes, autoridades pareciam demover investidores da noção de que cortes das taxas poderiam ser úteis. O perigo emergente era a inflação; ainda modesta em relação aos Estados Unidos e à Europa, mas ainda assim ganhava força.

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Não é que a recuperação da China, que passou de um êxito mundial a um caso decepcionante, não pudesse ser auxiliada. O crescimento do crédito caiu no mês passado, prejudicado por problemas no mercado imobiliário e pela demanda anêmica de empresas e consumidores.

Menos de uma hora após o corte dos juros, relatórios mostraram que a produção industrial ficou aquém das estimativas, as vendas no varejo cresceram menos do que o previsto e os investimentos diminuíram. O desemprego entre jovens é recorde e se aproxima de 20%. Os fracos dados tornam a meta de crescimento anual do governo de “cerca de 5,5%” ainda mais exagerada.

O PBoC precisa melhorar a comunicação. Esse é um requisito básico para a autoridade monetária da segunda maior economia do mundo – e com aspirações à liderança mundial. O relatório trimestral de política monetária do banco, divulgado na quarta-feira (10), prometeu evitar estímulos em larga escala e impressão excessiva de dinheiro.

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Os preços ao consumidor subiram 2,7% em julho em relação ao ano anterior, o maior ganho em dois anos. A inflação pode ultrapassar 3% este ano, projetou a autoridade. “Não podemos baixar a guarda facilmente”, disse o relatório.

Embora o PBoC pareça tentar resistir às expectativas de estímulos em massa, existem limites claros para a resistência: ao contrário de suas contrapartes em outras grandes economias, o banco central não é independente do governo.

Se os líderes do Partido Comunista ordenarem novos cortes, as autoridades monetárias dificilmente irão recusar. Além disso, é provável que a economia necessite de mais assistência na frente monetária. Os surtos persistentes de covid-19 e a preferência de Pequim por lockdowns vão frear qualquer aceleração significativa no crescimento.

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Com alguma simpatia pelo presidente do PBoC, Yi Gang, vale a pena notar que o Federal Reserve e o Banco Central Europeu – vistos como o padrão-ouro da autonomia – também sofreram tropeços embaraçosos de comunicação no último ano.

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Embora o Fed e o BCE tenham subido os juros, a redução das taxas por Pequim fortalecerá a narrativa de que os principais motores econômicos do mundo estão se movendo em direções de políticas fundamentalmente diferentes. Nenhuma delas incentiva a visão de que o mundo pode evitar uma nova retração.

A China contribui e, ao mesmo tempo, é vítima de uma economia mundial incerta. Quando o Fundo Monetário Internacional cortou as previsões no mês passado e alertou para a perspectiva de uma nova recessão global, uma das maiores revisões foi para a China.

Nas últimas décadas, estivemos mais acostumados com a China sendo uma fonte de resiliência quando outras potências como EUA, Europa e Japão oscilavam. Não é o caso agora. Esse crescimento mais baixo das principais economias reduz a demanda por produtos fabricados pela China, agravando o desafio.

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Não pense que o PBoC já concluiu a tarefa. Melhor observar o que o banco faz, pelo menos tanto quanto o que diz.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Daniel Moss é colunista da Bloomberg Opinion e cobre economias asiáticas. Anteriormente, foi editor executivo da Bloomberg News para economia.

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