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Alexandre Duarte: A transformação digital dos líderes

Para avançar em um contexto ágil e digital, os líderes vão precisar mudar sua mentalidade e comportamento

Tempo de leitura: 5 minutos

Bloomberg Línea Ideias — Pouco a pouco as empresas parecem assimilar uma verdade dura: não há uma transformação digital sustentável sem a construção de uma liderança congruente, capaz de guiar essa mudança. Por trás da nova era digital, das tecnologias emergentes e da nova economia, estão gestores com habilidades de navegar por diferentes mares, apoiados em propósitos claros, empatia e muita coragem para enfrentar as ambiguidades pelo caminho. São profissionais com conhecimento técnico, humildade para reconhecer suas vulnerabilidades, dispostos ao aprendizado contínuo e resilientes para reformular a si mesmos e às companhias nas quais atuam, cientes de que o primeiro passo para transformar suas organizações é se transformar.

Uma pesquisa global realizada pela Deloitte no período pré-pandemia apontou que 80% dos entrevistados acreditavam que a liderança do século 21 tem requisitos únicos, extremamente importantes para o sucesso de uma corporação. Temas como inclusão, responsabilidade social, compreensão do papel da automação e liderança integrada eram alguns dos tópicos que já ganhavam força na agenda dos gestores com visão de futuro. As transformações aceleradas dos últimos dois anos não só concretizaram essa percepção, como ainda agregaram outros valores à cesta dos líderes, incluindo a necessidade de um posicionamento definido e transparente sobre questões ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em ingês).

Dentre as principais habilidades para os gestores, segundo a pesquisa, capacidade de liderar em um cenário cada vez mais complexo e ambíguo (81%), por meio da influência (65%) e de modo remoto (50%) eram as mais destacadas pelos respondentes como essenciais para construir uma gestão coesa na era digital.

Mas enquanto a compreensão dos desafios à frente na jornada é clara, por outro lado ainda há muito o que se avançar. Segundo o mesmo levantamento, apenas 25% dos entrevistados acreditavam estar efetivamente construindo líderes digitais.

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Orquestrando a mudança

Para avançar em um contexto ágil e digital, os líderes vão precisar mudar sua mentalidade e comportamento. Um estudo da Universidade de Harvard apontou que para liderar na era digital, os gestores vão precisar de adaptabilidade, curiosidade, criatividade, além de se sentir confortáveis com a ambiguidade. O que até então eram soft skills ganha status de características fundamentais para uma gestão positiva e bem-sucedida, rumo a um crescimento sustentado e sustentável.

Grande parte das habilidades demandadas dos líderes considerados 6.0, os líderes digitais, guarda uma ligação direta com a tecnologia. Muitas dessas características essenciais para esta era são pilares fundamentais dos avanços tecnológicos que acompanhamos nas últimas décadas. A coragem para romper barreiras e apostar no novo, o compromisso em seguir sempre adiante, ancorado por propósitos claros e compartilhados, são premissas encontradas no open source, um modelo de desenvolvimento de softwares participativo e aberto, baseado na colaboração e na troca livre de opiniões e ideias, capaz, além de muitos outros benefícios, de gerar inovações transformadoras e positivas.

Esse ecossistema construído por comunidades, no qual todos têm liberdade para opinar, mantendo o compromisso com os objetivos e a responsabilidade de entregar uma alternativa capaz de contribuir com a resolução de problemas, é um exemplo do que precisa ser trabalhado dentro das organizações. No mundo de hoje, visão e estratégia ainda são essenciais, mas a capacidade de cocriar e orquestrar uma ação coletiva, sem verticalização, nunca foram tão importantes, principalmente quando falamos das lideranças.

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Escrever um novo capítulo em direção ao futuro do trabalho significa criar condições iniciais para que a organização atinja suas ambições, em meio a um processo contínuo de aprendizado. Mudar rotas, se reinventar e apostar na experimentação devem ser as palavras de ordem nessa nova era, na qual só a provocação para sair da zona de conforto e ir além é capaz de gerar inovação. Quem não embarcar nessa jornada, dificilmente conseguirá seguir adiante por muito tempo.

Cocriando a jornada

Liderar na era digital é, inicialmente, um exercício de confiança.

1. Primeiro confiar em si mesmo, aprendendo a experimentar e se autotransformar para, a partir de então, catalisar essas mudanças para seus colaboradores.

Essa postura requer uma nova visão e atitude em relação ao risco, a fim de se sentir confortáveis com os inevitáveis erros e hipóteses não confirmadas. O amadurecimento da liderança é um caminho dolorido, com altos e baixos. Mas com confiança em si mesmo e nas decisões tomadas junto com a equipe, a estrada se torna menos sinuosa e mais direta rumo aos objetivos.

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2. Nessa jornada, contar com o apoio e a confiança dos liderados é fundamental. O gestor digital não tem medo de mostrar suas vulnerabilidades, de assumir seus erros e, principalmente, de recomeçar. Se despir das amarras e da imagem intocável o coloca em uma posição de conversas francas com suas equipes, clientes e fornecedores. Sua atitude mostra coragem e resiliência para se moldar, aprender e crescer em conjunto, sempre atento e apto a captar os primeiros e mais singelos sinais sobre o que está acontecendo em sua organização e ecossistemas.

3. As conversas autênticas também destacam outra característica essencial dos líderes digitais: dar voz aos valores, propósitos e cultura da organização para cocriar conjuntamente. Algo que requer coragem, inteligência emocional e inteligência contextual. Os líderes devem compartilhar como o propósito e os valores corporativos moldaram suas decisões. Desta maneira começam a criar uma cultura na qual as pessoas se sentem seguras o suficiente para assumir riscos e agir em nome dos interesses organizacionais. Essa cultura é a base para desenvolver a relação de confiança e estreitar os laços para o crescimento não só do próprio líder, mas também de toda a equipe e da corporação.

Profissionais que se importam

Uma pesquisa da PwC mostrou que as pessoas querem trabalhar para líderes que demonstrem que se importam. Os profissionais querem também que as organizações para as quais trabalham cumpram seus propósitos, valores e cultura. Embora quase 40% dos líderes ouvidos tenham afirmado que a confiança entre líderes e liderados é muito importante, essa relação não estará completa até que os líderes intensifiquem, deem vida e conectem suas paixões pessoais aos propósitos e valores da corporação, agindo como uma força motriz e propulsora, criando contexto para que seus liderados tenham sucesso na busca de seus objetivos.

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Entre pessoas, números, dados, resultados, tecnologia, agilidade e inovação, o importante para os líderes digitais é pensar e agir em uma perspectiva de fora para dentro. Equilibrar curiosidade e sede de aprendizado com intencionalidade, criar relações de confiança, explorar e cocriar estimulando a liberdade para a troca de ideias. Ter coragem para romper antigas crenças, para errar e pivotar – sobre si mesmo e no mercado –, mantendo a mente aberta e o olhar claro nos objetivos. Cultivando uma visão 360 graus da dinâmica dentro de suas organizações e dos ecossistemas em que operam, certamente, vão estar muito mais preparados para catalisar as mudanças e avançar em meio ao mar revolto da era digital.

Alexandre Duarte é vice-presidente de Customer Success para a América Latina na Red Hat. Clique aqui para saber mais sobre o autor

--Esta coluna não reflete necessariamente a opinião dos conselhos editoriais da Bloomberg Línea, da Falic Media ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.