Dólar a R$ 5: é hora de comprar para viajar?

Especialistas dão dicas de como planejar financeiramente uma viagem para o exterior em meio à valorização do real ante o dólar

Desde o começo do ano, a moeda americana já acumula perdas de quase 10% ante o real.
12 de Março, 2022 | 07:42 PM

Bloomberg Línea — A flexibilização de medidas de isolamento social ao redor do mundo, em meio à vacinação contra a covid-19, somada à queda do dólar tem levado muitos brasileiros a retomarem seus planos de viagem.

Desde o começo do ano, a moeda americana já acumula perdas de quase 10%, sendo negociada próxima dos R$ 5,00 – no menor patamar desde julho de 2020. Mas é hora de comprar pensando em viajar? Se sim, melhor comprar tudo junto ou aos poucos?

Na avaliação de Eduardo Dellavolpi, planejador financeiro com certificação CFP, o melhor momento para comprar é quando a pessoa tem recursos destinados a isso, ou seja, se planejou e destinou um montante para esse objetivo, no caso, uma viagem.

“Não é porque o dólar está mais baixo que você vai fazer empréstimo, entrar no cheque especial ou utilizar sua reserva de emergência”, destaca.

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Para quem está pensando em adquirir a moeda americana, Nadja Heiderich, professora de Economia e coordenadora do Núcleo de Estudos da Conjuntura Econômica da FECAP, destaca a importância de ficar atento aos indicadores macroeconômicos, como PIB e inflação, para tentar antever o que pode acontecer com a taxa de juros nos próximos meses, bem como a questão política e fiscal do governo – que impactam o câmbio.

A questão internacional, como a guerra na Ucrânia, também é um fator que altera as expectativas dos atores econômicos, diz.

“Isso pode acarretar saída abrupta ou entrada de capital. De igual maneira, se há revisão de expectativas positivas, há redução da taxa de câmbio. Quem precisar adquirir moeda estrangeira, deve fazer ao longo do tempo, acompanhando a cotação, porque 2022 é um ano de instabilidade”, completa, lembrando ainda do contexto de eleições presidenciais no fim do ano.

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O relatório Focus, do Banco Central, mais recente estima dólar negociado a R$ 5,40 em dezembro e a R$ 5,30 ao fim de 2023.

Faça o preço médio

Para quem está pensando em viajar, Dellavolpi sugere uma programação antecipada, de forma a ir comprando a moeda aos poucos, fazendo uma média de preços. Se a pessoa vai viajar daqui dez meses e precisa de US$ 3 mil, por exemplo, ela pode comprar US$ 300 por mês, diz.

Augusto Antoniazzi, assessor de investimentos do escritório Ável Investimentos, concorda. “A pessoa não precisa acertar o ponto excelente, só o ponto. E como fazer isso? Por meio de várias compras ao longo do tempo.”

Veja mais: Todos os olhares se voltam para as moedas da América Latina

Para estimar quanto dinheiro levar na viagem, a recomendação é calcular um custo médio diário, considerando valor de estadia, alimentação, lazer, compras e transporte, multiplicando o montante pelo número de dias que ficará em viagem.

No destino, o ideal seria acompanhar se os valores estão compatíveis com o planejado, para evitar ficar sem dinheiro ou gastar além do orçamento.

Cuidados na hora de comprar dólar

Dellavolpi ressalta que é importante prestar atenção à cotação, se atentando sempre ao dólar turismo e não o comercial, usado no mercado financeiro, por exemplo. É válido ainda pesquisar em bancos e corretoras antes de fechar o negócio, dado que as taxas podem variar.

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A sugestão é evitar gastos com cartão de crédito e saque, uma vez que cobram Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38%.

Além disso, ele destaca que ao fazer uma compra com cartão de crédito, a taxa do dia não é “travada”. Em outras palavras, a pessoa irá pagar a taxa do dia do pagamento da fatura, o que pode levar a uma variação do câmbio – para cima ou para baixo.

“Cuidado também com as compras antecipadas, via internet. Alguns hotéis cobram pelo recebimento das mercadorias também”, reforça.

E o euro?

Assim como com o dólar turismo, a recomendação dos especialistas é fazer o preço médio na compra do euro, ou seja, comprar aos poucos.

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Antoniazzi, da Ável Investimentos, destaca que o euro tende a ser mais sensível no momento atual, por estar mais próximo em relação à guerra na Ucrânia.

“Vemos um movimento de inflação global, mas quando olhamos para a Europa, a questão é mais séria, porque depende da energia a gás, em que um dos maiores exportadores é a Rússia. Com isso, a balança comercial deverá ficar mais fraca, com empresas produzindo menos por conta da inflação, falta de matéria-prima etc”, diz.

Fundos cambiais

Um dos produtos indicados como forma de planejamento financeiro para quem deseja viajar para o exterior são os fundos cambiais.

Isso porque eles buscam acompanhar a flutuação de preço de moedas estrangeiras ou a variação do cupom cambial (taxa de juros em dólares no Brasil).

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Neste caso, contudo, é preciso ficar atento às taxas envolvidas, como a tributação no momento de resgate e taxas de administração, que podem corroer parte do retorno.

Como os fundos cambiais seguem a tabela regressiva do Imposto de Renda, mas os prazos e alíquotas variam de acordo com a classificação do fundo – de curto ou de longo prazo –, quanto mais tempo o investidor puder ficar com a aplicação, melhor.

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Enquanto nos fundos de longo prazo a alíquota inicial é de 22,5%, caindo para 15% após 720 dias, nos de curto prazo, a alíquota mínima é de 20%, no caso de resgates após 180 dias da aplicação. A cobrança ocorre de forma semestral, por meio dos come-cotas.

É importante ressaltar ainda que, caso o investidor resgate o dinheiro em até um mês, ele pagará o IOF, que é zerado após 30 dias.

O que explica a queda do dólar?

Mesmo em um cenário de maior aversão ao risco, a moeda americana segue apresentando queda ante o real, chegando a cair abaixo dos R$ 5 na última semana

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Em relatório divulgado na quinta-feira (10), o time da Ativa Investimentos chama atenção para a forte entrada de dólares no Brasil entre os meses de janeiro e fevereiro, com saldos de R$ 5,6 bilhões e R$ 3,3 bilhões, respectivamente.

Apesar de o movimento de valorização do real poder ser explicado pela continuidade da entrada de dinheiro externo, de olho no diferencial de juros, os economistas Étore Sanchez, Guilherme Sousa e André Coelho, da Ativa, afirmam que há outros fatores na mesa.

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É o caso, por exemplo, da invasão da Ucrânia pela Rússia, com os ativos russos deixando de ser considerados seguros e provocando um redirecionamento de recursos para outros países, como é o caso do Brasil, que possui, segundo a Ativa, boa remuneração, percepção de risco similar à da Rússia antes da guerra, e mais liquidez relativa do que seus pares.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.