Pix Crédito vai substituir o cartão tradicional? Tire 10 dúvidas

Nova modalidade do sistema de pagamento instantâneo, previsto para estrear no 2º semestre, promete vantagem a lojistas e usuários

Pix é o pagamento instantâneo brasileiro, lançado no quarto trimestre de 2020. O meio de pagamento criado pelo Banco Central permite que os recursos sejam transferidos entre contas em poucos segundos
09 de Março, 2022 | 07:25 AM

São Paulo — O Pix, sistema de pagamento instantâneo lançado em 2020, é um sucesso no Brasil. Na última sexta-feira (4), ele bateu um novo recorde de transações diárias (58,5 milhões transferências de recursos em tempo real), segundo o Banco Central. Existem mais de 400 milhões de chaves cadastradas, que só em janeiro fizeram 1,3 bilhão de transações, movimentando quase R$ 640 bilhões. No segundo semestre deste ano, a modalidade Pix Crédito deverá ser lançada, gerando expectativas.

No último dia 11 de fevereiro, ao divulgar o balanço de 2021, o CEO do Itaú-Unibanco (ITUB4), Milton Maluhy Filho, informou, durante teleconferência com jornalistas, que já está estudando o lançamento dessa modalidade, provavelmente até o fim do ano. Não é só o maior banco privado do país que está de olho no Pix Crédito.

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“Toda reunião que o Banco Central fez em São Paulo e Brasília para discutir o Pix lotou auditório”, conta Carlos Netto, CEO da Matera, empresa de desenvolvimento de tecnologia para serviços financeiros, fintechs e gestão de riscos, que particiou da idealização do Pix.

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O sandbox regulatório, ambiente de inovação do BC, em conjunto com instituições bancárias, estuda como será a implantação do Pix Crédito, que se mostra uma alternativa para os tradicionais cartões de crédito. A Matera possui uma solução para o Pix que é utilizada por mais de 100 instituições - participantes diretos e indiretos do SPI (Sistema de Pagamentos Instantâneos).

O CEO da empresa tirou 10 dúvidas sobre como será o Pix Crédito, que permitirá ao usuário apontar a câmera do celular para o QR Code do Pix e realizar o pagamento após escolher uma opção de financiamento, como hoje acontece com o cheque especial e o CDC (crédito direto ao consumidor). Carlos Netto diz que PicPay e Mercado Pago já testam a novidade no Brasil e usam o QR Code do Pix para oferecer opções de crédito.

1- O Pix Crédito é um substituto do cartão de crédito?

É um substituto que não mata, vai conviver ao lado do cartão de crédito. Cabe a cada um de nós escolher. Do ponto do usuário final, fica muito equivalente a experiência de uso.

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2- O Pix Crédito é virtual ou vai ter cartão físico?

A princípio, não vai ter o cartão físico, mas existe um estudo na indústria, não do Banco Central, eu estou participando desse estudo, para a gente eventualmente mostrar ao Banco Central que pode ter um cartão Pix. Mas não é isso que está no radar, por enquanto.

3- Os bancos já geram cartões virtuais temporários. O Pix Crédito será assim?

O Pix Crédito não tem nada a ver com a experiência daquele cartão, daquele número de cartão. Seria outro mecanismo de transferir dinheiro: você vai na loja, ver o QR Code e paga. Você vai à padaria, quanto que é? R$ 10? Posso pagar com o Pix Crédito? Pode. Aí só debita no futuro. Ou pode dizer “só aceito débito”.

4-O banco captura receita com o Pix Crédito?

Captura. Vai ver um aceita. É a tese. O projeto está em processo de criação. O banco não vai pagar tua conta na padaria à vista e só te cobrar daqui a 30 dias de graça. Seria um prejuízo gigante pra ele.

5- O banco vai abrir mão da anuidade do cartão?

Pode. A anuidade, os cartões de plástico estão morrendo. No Pix Crédito, nem se fala. Abrir mão da anuidade é quase que um requisito para vingar no mercado. Claro que todo mundo é livre para cobrar o que quiser, mas a gente, o consumidor final, também é livre de não pagar e ir para o outro.

6- Qual a vantagem do Pix Crédito para o lojista?

Ele vai receber o dinheiro em seis segundos, e não em 30 dias. O lojista vai pagar menos, ter um custo menor. Vão ter menos agentes envolvidos na operação. Hoje, quando o lojista recebe um cartão de crédito, muitas partes são remuneradas: o adquirente remunerado, a bandeira é remunerada, tem o custo do plástico, do MV, é um meio complexo, construído há décadas, todo mundo tem de ser remunerado, ninguém trabalha de graça. No caso do Pix Crédito, só vai ter o banco que te deu o crédito e o lojista. Não vai ter mais ninguém. E o Pix, que é do Banco Central que custa um milésimo de real.

7- O Pix Crédito vai ter dispensa de bandeira?

Dispensa de bandeira. A bandeira é o Pix. Se você pensar bem, o Pix é um arranjo de pagamento, assim como a Visa, o Mastercard é um arranjo de pagamento. O Pix já é uma rede de pagamento. Ele já é a rede que transfere dinheiro do banco para o lojista. O Pix permite que o banco mande o dinheiro para um lojista que tem outro banco em seis segundos, sem pagar para ninguém

8- Os cartões tradicionais tendem a ser inimigos do Pix Crédito?

Sim. Tendem a ser inimigos. Eles vão ter uma competição feroz. O Pix hoje queimou muito papel, muito cartão de débito, boleto. O Pix é intenso nas classes menos favorecidas do que na classe média. Quando tiver o Pix Crédito, a classe média tende a preferir a usá-lo por um motivo: o Pix Crédito vai dar mais vantagem do que o cartão. Tanto o lojista vai pagar menos como o banco vai ganhar mais. E se o banco ganha mais, ele vai estimular a gente a usar mais para ele ganhar mais. Ele vai poder dar mais vantagem, dar mais milhas, mais cashback, todos aqueles benefícios que os bancos costumam dar quando você usa o cartão deles. Aí é a real ameaça ao cartão de crédito.

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9- Como o cartão tradicional vai ter de se recriar?

O Pix tem uma abrangência local, funciona só no Brasil. Nas viagens internacionais, as bandeiras tradicionais, como rede de pagamentos, têm o que o Pix não tem: são mundiais. As pessoas não mudam de hábitos da noite pro dia. A explosão do Pix é porque tinha gente que não tinha conta nem cartão. Se o cara não tem nada e aí passa a ter, aí muda rápido. A inércia do hábito é terrível: se você tem o hábito de pagar no cartão... Não acho que o Pix Crédito vai acabar com as bandeiras, ele vai disputar uma fatia boa. O que pode acontecer é as bandeiras pararem de usar suas próprias redes e usarem a rede do Pix para pagar. Elas vão ter de mudar o modelo de negócios.

10- Como o Pix Crédito está ajudando as empresas de tecnologia?

Assim como a internet dinamizou as empresas de tecnologia, quantas empresas nasceram por causa da internet? O Pix, idem. A Matera tinha sei lá 80 mil contas há um tempo atrás, hoje está com 45 milhões de contas. A gente está surfando a onda do Pix como muitas empresas do passado surfaram a onda da internet. É uma transformação brutal. Quem está dando tecnologia para fazer esse negócio funcioanr está indo muito bem, é um oportunidade de ouro para qualquer empresa de internet. E o Pix está ajudando as comunidades mais carentes, onde o Pix está bombando, 90% das vendas de e-commerce nesse segmento são fechadas no Pix. Foi uma transferência de renda que o Pix permitiu.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.