Temporada de unicórnios: Seis startups devem entrar para o clube do bilhão no Brasil

Entre as apostas estão banco digital, gestora cripto, edtech, health tech e empresa de contabilidade; investidores falam sobre os fatores que devem gerar valuations bilionários no Brasil

Critérios para escolher possíveis unicórnios, como receita e mercado endereçável, continuam os mesmos, mas o leque de oportunidades aumentou
Por Angelica Mari
26 de Agosto, 2021 | 10:37 AM

Bloomberg Línea — A digitalização acelerada e o amadurecimento do ecossistema de startups têm despertado o interesse de fundos locais e internacionais por empresas que de alto potencial de crescimento.

Os números

  • Startups brasileiras receberam um recorde de US$ 5,2 bilhões de fundos de venture capital no primeiro semestre de 2021, segundo dados da plataforma de inovação aberta Distrito;
  • Quatro novos unicórnios surgiram no período: a empresa de produtos digitais Hotmart, a corretora de criptomoedas Mercado Bitcoin e o e-commerce MadeiraMadeira, além do banco digital C6 Bank, que teve 40% adquiridos pelo JPMorgan Chase.

“O capital estava aguardando a disponibilidade de talento e a produção de grandes resultados – e temos visto muitos exemplos nestas duas frentes”, diz Scott Sobel, fundador do Valor Capital Group, fundo que investe em unicórnios brasileiros como a Gympass e Loft.

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  • O Brasil vê algo parecido com a “máfia” do PayPal no Vale do Silício, diz Maria Fernanda Musa, diretora de aceleração de negócios da Endeavor;
  • “Temos capital disponível e exemplos de fundadores de sucesso que inspiram outros a construir algo similar”, argumenta.
  • O ecossistema brasileiro tem um quê da euforia do Vale no início dos anos 2000, mas os fundamentos são diferentes, diz Sobel: “Uma grande população conectada e um alto engajamento nas redes sociais são características únicas do Brasil”;

O que mudou com a Covid-19

Critérios para escolher possíveis unicórnios, como receita e mercado endereçável, continuam os mesmos, mas o leque de oportunidades aumentou.

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  • “A intensidade no uso e a penetração da Internet aumentaram significativamente, e isso nos permite imaginar mercados maiores do que no passado”, diz Hernan Kazah, cofundador do fundo Kaszek Ventures, que investe em unicórnios como Nubank e Creditas.
  • Fabien Mendez, CEO da Loggi, unicórnio brasileiro de logística e investidor anjo, associa a atual ebulição de startups a uma nova revolução industrial, impulsionada pelo acesso a poder computacional, além da conectividade e a automação;
  • “Essa mudança secular na economia, combinada à disponibilidade de talento e capital devem gerar muitos unicórnios”, prevê.

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  • Há uma “descentralização do Vale do Silício” em curso, diz Brian Requarth, cofundador do marketplace imobiliário Viva Real, vendido para a OLX no ano passado por R$2,9 bilhões, e cofundador do fundo pré-seed Latitud: “As condições de acesso a capital serão mais equitativas”;
  • A migração do capital para empresas de base tecnológica traz um poder inédito para certos fundadores, diz Gustavo Araújo, sócio do Distrito;
  • Há liquidez de sobra, e investidores precisam provar que são o melhor parceiro para uma startup muito disputada”.

Apostas para o futuro

Segundo Requarth, da Latitud, todos os segmentos da economia estão sendo conduzidos a uma “era tech-first”: “A prioridade passa a ser encontrar quem vai construir estas empresas,” diz.

Mas: Investidores continuam fiéis a certos segmentos. Requarth ressalta que fintech continuará sendo a “droga de entrada” para investidores no Brasil.

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  • “Ainda veremos muitas inovações em fintech, tanto em serviços para consumidores quanto para empresas e infraestrutura”, diz Kazah, da Kaszek Ventures.
  • “Vemos o Brasil como um dos maiores mercados de cripto no mundo, e que mercados emergentes obterão muito valor com o blockchain”, acrescenta Sobel, da Valor Capital.

Veja a seguir seis apostas do mercado de possíveis futuros unicórnios brasileiros:


Contabilizei

Startup fornece serviços de contabilidade e abertura de empresadfd

O que é:

  • Startup que fornece serviços de contabilidade e abertura de empresa com a proposta de democratizar o acesso e redução de burocracia para autônomos e pequenos negócios;
  • Fundada em 2013, tem mais de 30 mil clientes e automatiza processos e rotinas contábeis. Clientes da empresa tem acesso a atendimento telefônico e a opção de uma conta bancária integrada gratuita;
  • A startup diz ter gerado mais de R$ 650 milhões em economias a pequenos e microempresários com seu modelo desde sua fundação.

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Cifras: Em janeiro de 2021, a Contabilizei recebeu um aporte Série C liderado pelo Latin America Fund do SoftBank, que já investe em unicórnios como Creditas, QuintoAndar e MadeiraMadeira.

Mercado: Mais de 1 milhão de pequenas e microempresas foram abertas entre janeiro e abril deste ano, segundo pesquisa do Sebrae, que elenca a digitalização de processos como um dos temas mais frequentes neste segmento, atrás apenas de obtenção de crédito.


Hashdex

Startup diz ter mais de 150 mil investidores, incluindo os acionistas de seu Exchange Traded Funddfd

O que é:

  • Gestora focada em criptoativos, a Hashdex diz ter mais de 150 mil investidores, incluindo os acionistas de seu Exchange Traded Fund (ETF, fundo negociado em bolsa) de criptoativos e dos seus demais fundos, com cerca de R$ 4 bilhões sob gestão.
  • Em fevereiro deste ano, lançou na Bermuda Stock Exchange o primeiro ETF de criptoativos aprovado no mundo, que segue o Nasdaq Crypto Index (NCI), índice co-desenvolvido pela startup e a Nasdaq. Em abril, estreou o primeiro ETF de criptoativos da Bolsa brasileira (B3), movimentando R$ 156 milhões na estreia.
  • Em junho, anunciou que irá distribuir fundos de investimento nos Estados Unidos com a gestora norte-americana Victory Capital, com produtos que seguem o NCI.

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Cifras: No início de maio, a Hashdex recebeu um investimento de US$ 26 milhões, em uma rodada liderada pelo Valor Capital Group, com participação de Softbank, Coinbase Ventures e outros investidores.

Mercado: Há um forte movimento global de valorização de criptomoedas em curso, e o Brasil não é exceção. Mais de R$ 95 bilhões em cripto foram declarados por brasileiros à Receita nos primeiros cinco meses de 2021, ante R$ 32,91 bilhões em 2020.


Olist

Plataforma ajuda lojistas a venderem em marketplaces nacionais e internacionais com tecnologias de vendas e inteligência de mercadodfd


O que é:

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  • Plataforma que ajuda lojistas a venderem em marketplaces nacionais e internacionais com tecnologias de vendas e inteligência de mercado que apoiam mais de 100 mil lojas virtuais em 170 países;
  • Em fevereiro deste ano, a empresa fundada em 2015 anunciou um investimento na nocnoc, startup que viabiliza a comercialização de produtos oriundos de vendedores estrangeiros em marketplaces na América Latina, principalmente o Brasil.
  • Investimentos em M&As e novas unidades de negócio fazem parte do plano estratégico atual da startup. Além da nocnoc, a Olist comprou a PAX Logística, que conecta varejistas a marketplaces, e a Clickspace, especializada em soluções para marketplaces e comércio via redes sociais no final de 2020.

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Cifras: Em novembro de 2020, a empresa levantou R$ 310 milhões com o Softbank em uma rodada Série D. O mega-fundo japonês já havia investido R$ 190 milhões na empresa no final de 2019.

Mercado: Marketplaces passaram a representar mais da metade do comércio online mundial desde a emergência da pandemia, segundo a Statista. O e-commerce brasileiro gerou R$ 30 bilhões em faturamento no primeiro semestre do ano passado através de lojas que atuam nestas plataformas, segundo a E-Bit Nielsen, uma alta de 56% em relação a 2019.


Alice

Startup é gestora de planos de saúde individuaisdfd

O que é:

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  • Gestora de planos de saúde individuais, e se autodenomina primeira empresa de saúde do país que foca na promoção da saúde de seus “membros”, ao invés da doença.
  • Além de uma equipe de especialistas como médicos e nutricionistas que conduzem um plano de ação de saúde com o segurado online, a Alice disponibiliza telemedicina e consultas presenciais em um centro médico em São Paulo e atendimento através de instituições parceiras como o Hospital Albert Einstein e a rede de laboratórios Fleury.
  • Quando a empresa anunciou seu último aporte, tinha 1.100 clientes e pretende quintuplicar a base até o fim do ano.

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Cifras: Sete meses depois de seu lançamento em 2020 e um aporte seed que incluiu a participação de David Vélez, do Nubank, a empresa recebeu em fevereiro deste ano um investimento de US$ 33,3 milhões, a maior rodada série B recebida por uma healthtech até então.

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Mercado: Com a telemedicina regulamentada pelo Ministério da Saúde em 2020, o setor de healthtechs passa por um ponto de inflexão. Há oportunidades para aumentar a adesão a novos formatos e funcionalidades, por consumidores, que buscam alternativas a atual oferta de convênios médicos.


Descomplica

Plataforma de educação a distância com cursos preparatórios para Enem, vestibulares concursos públicosdfd

O que é

  • Plataforma de educação a distância com cursos preparatórios para Enem, vestibulares concursos públicos, além de reforço universitário e ensino superior. A empresa diz alcançar 5 milhões de usuários por mês em todas as suas frentes educacionais.
  • Foi a primeira edtech a entrar no segmento de ensino superior e oferece cursos de graduação e pós-graduação através da Faculdade Descomplica, lançada em 2020. A meta é chegar a um milhão de alunos nessa frente, com uma rápida expansão de cursos;
  • A estratégia de crescimento da startup fundada em 2011 tem a aquisições de tecnologias e faculdades entre seus principais pilares.

Cifras: Em fevereiro de 2021, a startup recebeu um aporte de R$450 milhões, liderado coliderada pelos fundos de investimento Invus Opportunities e SoftBank, com participação do fundo Valor Capital Group, Península Participações, a Chan Zuckerberg Initiative (CZI) e Amadeus Capital Partners. The Edge, guitarrista da banda irlandesa de rock U2, também co-investiu.

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Mercado: Segundo a Global Market Insights, o mercado de ensino a distância deve ultrapassar US$ 1 trilhão até 2027, puxado pela migração para o ensino híbrido. No Brasil, 63,8% das edtechs mantiveram ou aumentaram o faturamento em 2020, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). A grande maioria (70,6%) está concentrada na educação básica.

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Neon

Banco digital, com cerca de 12 milhões de clientesdfd

O que é

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  • Banco digital, com cerca de 12 milhões de clientes. O perfil típico do cliente da startup é o trabalhador das classes C e D.
  • Com um portfolio de serviços para pessoa física, a startup também atende o segmento de microempreendedores individuais (MEIs), fortalecido com a compra da startup MEI Fácil em 2019.
  • Além de mais aquisições, áreas de foco atuais para a empresa incluem a oferta de produtos de crédito e investimento para pessoas físicas, além de serviços para MEIs.

Cifras: Em setembro de 2020, o Neon recebeu um aporte de US$ 300 milhões em um aporte Série C, liderado pela General Atlantic. Outros investidores como a gestora global de ativos BlackRock, Vulcan Capital e Endeavor também participaram. À época, a empresa relutou em se autodeclarar unicórnio, mas a próxima rodada deve oficializar o fato.

Mercado: Em meio ao desemprego crescente, o número de MEIs no Brasil chegou a 11,3 milhões em 2020, segundo dados do Sebrae. Serviços para microempreendedores são apontados por especialistas como uma das maiores oportunidades para a diferenciação de bancos digitais, e podem incluir ofertas de crédito, além de maquininhas e antecipação de recebíveis.

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