Blockchain pode movimentar quantidades elevadas de recursos de forma anônima e fora da supervisão bancária
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(Bloomberg Opinion) – A espetacular violação de segurança na Colonial Pipeline no mês passado despertou a atenção para um grande problema de criptomoedas como o bitcoin. Seu principal uso como meio de troca, em oposição à sua função de reserva de valor, é para pagamentos relacionados ao crime – neste caso, mais de US$ 4 milhões em resgate a hackers que derrubaram uma parte significativa do fornecimento de combustíveis da América. Esta é uma área em que a atitude laissez-faire em relação à inovação tecnológica não pode ser aplicada.

Lidar com dinheiro é um dos aspectos mais arriscados e inconvenientes quando se é um criminoso. O dinheiro físico pode ser difícil de armazenar, transferir ou gastar sem atrair atenções indesejadas. As contas bancárias são sujeitas a exigências contra a lavagem de dinheiro, elaboradas para revelar as verdadeiras fontes e beneficiários dos recursos.

Portanto é fácil ver porque as critpomoedas atraem os foras da lei. Grandes quantidades podem ser movimentadas e mantidas na forma eletrônica. Endereços anônimos podem ocultar identidades reais. Uma rede mundial de computadores dispersa processa transações sem que nenhuma autoridade central soe alarmes. Segundo uma estimativa, os esquemas de ransomware como o que invadiu os sistemas da Colonial, recolheram o equivalente a quase US$ 370 milhões em criptomoedas em 2020, três vezes mais do que no ano anterior.

Certamente a ampla maioria das transações com bitcoins e outras principais criptomoedas estão relacionadas à especulação, e não ao crime. Observe, porém, que a especulação também pode levar ao crime, se ela envolver evasão fiscal – outra questão que agora está recebendo uma atenção urgente do Internal Revenue Service dos EUA.

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Enquanto meio de pagamento, a principal vantagem das criptomoedas até agora parece ser a de ocultar ganhos ilícitos. Para a maioria dos propósitos honestos, sua volatilidade, ineficiência e pegada de carbono terrível as tornam indesejáveis. As moedas digitais emitidas pelos governos, hoje em desenvolvimento por bancos centrais em várias partes do mundo, têm um potencial muito maior de melhorar o dinheiro físico e os depósitos bancários – e também poderão proporcionar benefícios como um sistema financeiro mais estável e equitativo.

É encorajador ver que as autoridades estão sujeitando as criptomoedas a um maior escrutínio. Elas estão ficando melhores em desmascarar as pessoas por trás das transações com bitcoins, e em examinar minuciosamente suspeitos possibilitadores de atividades criminosas como o bitcoin Fog e a Binance. E elas estão acertadamente desenvolvendo meios para aplicar as regras contra a lavagem de dinheiro às criptomoedas de uma forma mais ampla, inclusive contra versões que “reforçam o anonimato” como Zcash e Monero. O objetivo primordial deveria ser assegurar que as moedas virtuais e ativos digitais não sejam mais úteis para pagamentos ilícitos do que suas contrapartes tradicionais.

Sujeitar as strartups que experimentam com a blockchain – a tecnologia que sustenta a bitcoin – ao peso total da regulamentação seria errado. A tecnologia ainda pode ter usos novos e valiosos. As autoridades deveriam criar ou manter ambientes de testes (sandboxes) reguladores, em que ideias podem ser testadas. Mas se, e quando, esses aplicativos estiverem prontos para uma adoção mais ampla, eles deverão ser taxados e regulamentados tão cuidadosamente quanto os serviços que eles querem substituir.

Se as criptomoedas acabarem se mostrando boas para algo além do crime, elas ainda podem ser bem-sucedidas.

Toni Sciarretta

Toni Sciarretta

News director da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista com mais de 20 anos de experiência na cobertura diária de finanças, mercados e empresas abertas. Trabalhou no Valor Econômico e na Folha de S.Paulo. Foi bolsista do programa de jornalismo da Universidade de Michigan.