PayPal aposta em plataforma global com carteiras digitais e atrai Mercado Pago

Iniciativa chamada de PayPal World conecta meios de pagamento locais, nasce com base com 2 bilhões de usuários e promete simplificar ato de compra, conta o CEO global, Alex Criss, à Bloomberg Línea; Pix, no entanto, não entra na largada

Desde que assumiu como novo CEO há pouco mais de 18 meses, Alex Chriss tem reposicionado a companhia e dado maior atenção aos mercados emergentes - e com maior potencial de  crescimento - na Ásia e na América Latina
23 de Julho, 2025 | 01:00 AM

Bloomberg Línea — Em momento de fragmentação da indústria de pagamentos global, com modelos que ganham mercados como o Pix brasileiro e o o UPI indiano, o PayPal decidiu se mover na direção contrária e lançar a PayPal World, uma plataforma desenvolvida para conectar carteiras digitais locais e meios de pagamentos.

O anúncio global nesta quarta-feira (23) é antecipado em primeira mão no Brasil pela Bloomberg Línea.

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A iniciativa, prevista para começar a operar a partir do último trimestre deste ano, no outono no hemisfério norte, reúne inicialmente o Mercado Pago (América Latina), o UPI (Índia), a TenPay Global (China) e a Venmo (Estados Unidos).

O projeto envolve a tese de criar uma rede aberta e interoperável que permita pagamentos e transferências entre países com a mesma fluidez de uma compra local.

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E, com isso, fazer com que usuários realizem transações apertando apenas o botão de checkout do Paypal, sem necessidade de transferências e uso de cartões.

“O que realmente estamos tentando criar é uma plataforma de identidade interconectada para que as carteiras possam interagir entre si”, afirmou Alex Chriss, presidente e CEO do PayPal, em entrevista exclusiva à Bloomberg Línea.

“É mais do que simplesmente permitir que um pagamento seja aceito por um comerciante. Trata-se, de fato, de permitir que consumidores e comerciantes tenham um ponto de conexão na plataforma e possam agora interagir com bilhões de outros pontos no ecossistema para poder transacionar”, explicou.

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A ambição da companhia americana é que o projeto funcione como uma espécie de plataforma universal, que conecte um número cada vez maior de carteiras digitais - as digital wallets - e meios de pagamento.

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De acordo com a companhia, o PayPal World começa com uma base com mais de 2 bilhões de usuários, distribuídos por esses cinco primeiros integrantes acima citados, incluindo a própria PayPal.

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Os números são alavancados pelo sistema indiano indiano UPI e pela plataforma chinesa TenPay. O Mercado Pago, com atuação na América Latina, conta com mais de 60 milhões de usuários.

“O que um cliente do Mercado Pago precisa fazer é encontrar o botão de pagamento em um site de um comerciante no Reino Unido, por exemplo. O sistema vai reconhecer o usuário, abrir a carteira e permitir que faça a transação sem precisar se preocupar em criar uma nova carteira, fazer conversão de moeda ou qualquer coisa do tipo”, disse o CEO global do PayPal.

Alex Chriss, CEO do PayPal: O PayPal World, ao longo do tempo, será capaz de conectar todas as wallets do mundo juntas com agentes que façam sentido

Questionado sobre a ausência do Pix na plataforma neste momento, o executivo afirmou que “adoraria” contar com o principal meio de pagamento brasileiro, mas alegou que é “muito difícil” negociar com meios de pagamentos que contam com milhões de consumidores e estão ligados a governos - o Pix é operado pelo Banco Central.

“Estamos lançando com cinco empresas, mas pode ter certeza de que estaremos falando com as maiores plataformas e com as maiores carteiras”, afirmou.

O método de pagamento indiano UPI, que foi uma inspiração para o Pix, é controlado pela NPCI (National Payments Corporation of India), uma entidade privada sem fins lucrativos composta por bancos privados e públicos e supervisionada pelo banco central local.

Novas receitas

O lançamento faz parte das estratégias da companhia americana para avançar não só no mercado de pagamentos mas também no e-commerce, uma linha adotada por Criss desde que chegou à liderança em 2023.

O executivo tem buscado imprimir uma agenda de transformação do negócio, em busca de criar novas linhas de receita, e indo além das fronteiras dos Estados Unidos.

No último ano, a receita líquida GAAP do PayPal cresceu 7%, para US$ 31,8 bilhões, com um lucro líquido de US$ 4,15 bilhões (-2%).

Na divisão geográfica das receitas, os EUA responderam por 57% do total, e os demais países, por 43%. A companhia está presente em mais de 200 países.

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“Nós geramos receita como empresa ao oferecer aos comerciantes a capacidade de acessar muitos consumidores”, afirmou o CEO.

“O que fizemos agora é permitir que qualquer usuário possa clicar nesse botão — ou seja, ampliamos o mercado endereçável para o comerciante. Agora, eles podem vender para mais de 2 bilhões de novos usuários."

De acordo com ele, a plataforma foi desenhada para se conectar com tendências como agentic commerce e stablecoins, duas apostas do PayPal e para as quais a companhia tem despendido bastante tempo e recursos.

A crença na companhia é a de que compras realizadas a partir dos agentes de IA utilizarão, fundamentalmente, carteiras digitais.

“O PayPal World, ao longo do tempo, será capaz de conectar todas as wallets do mundo juntas com agentes que façam sentido”, projetou.

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark