Fim do impasse: Petrobras tem sinal verde para explorar petróleo na Margem Equatorial

Região a cerca de 500 quilômetros à Foz do Amazonas é vista como a nova fronteira do petróleo para a estatal, mas a exploração é criticada por ambientalistas

petrobras
Por Mariana Durao
20 de Outubro, 2025 | 02:59 PM

Bloomberg — A Petrobras recebeu autorização para explorar petróleo próximo à foz do Rio Amazonas, encerrando um impasse de vários anos com os órgãos ambientais sobre o acesso a uma bacia considerada promissora e com grandes reservas.

A estatal de petróleo informou em comunicado nesta segunda-feira (20) que recebeu permissão para perfurar um poço exploratório na Bacia da Foz do Amazonas.

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“O equipamento de perfuração já está no local, e o início das operações está previsto para ocorrer imediatamente, com duração estimada de cinco meses”, afirmou a empresa no documento.

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As maiores companhias petrolíferas do mundo têm cobiçado há uma década a possibilidade de explorar essa região, localizada em águas profundas do Atlântico, na costa norte do Brasil.

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A área é especialmente atraente para a Petrobras, já que a produção nos campos atualmente em operação deve atingir o pico por volta de 2030.

Ambientalistas, no entanto, têm travado uma dura batalha contra o projeto, alertando que um eventual vazamento de petróleo poderia comprometer o ecossistema na foz do Amazonas, ao sul.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não respondeu de imediato a pedidos de comentário. As ações da Petrobras (PETR3; PETR4) subiram menos de 1% nesta segunda-feira, revertendo quedas anteriores.

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A aprovação para perfurar na Foz do Amazonas ocorre a menos de um mês da conferência do clima da ONU, a COP30, que será sediada pelo Brasil — um contexto que evidencia as prioridades conflitantes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta equilibrar o crescimento econômico com a defesa ambiental.

“A Margem Equatorial representa o futuro da nossa soberania energética”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em nota. “O Brasil não pode abrir mão de conhecer o seu potencial.”

Embora a bacia fique a cerca de 530 quilômetros do próprio rio, ambientalistas alertam que as fortes correntes marinhas poderiam levar rapidamente qualquer óleo derramado para o frágil ecossistema alimentado pelas águas doces do Amazonas, ameaçando o meio ambiente e as populações indígenas costeiras que dependem da pesca na região.

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A descoberta de bilhões de barris de petróleo feita pela Exxon Mobil ao norte, na Guiana, aumentou o interesse das grandes petroleiras pela Foz do Amazonas e pela região mais ampla conhecida como Margem Equatorial.

A Petrobras compara a geologia local à da Bacia de Campos, no Sudeste, que transformou a empresa em uma das principais produtoras offshore do mundo no final do século 20.

Atualmente, mais de 70% da produção brasileira vem da área de águas profundas conhecida como pré-sal, mas nem a Petrobras nem outras companhias exploradoras fizeram descobertas significativas há mais de uma década.

Uma série de campanhas frustradas de exploração no pré-sal levantou dúvidas sobre o futuro de longo prazo da indústria de petróleo do país. As projeções indicam que a produção atingirá o pico por volta de 2030 e começará a cair, a menos que a Petrobras encontre novos campos de grande porte.

A presidente da companhia, Magda Chambriard, chegou a alertar que o Brasil pode voltar a ser importador líquido de petróleo na década de 2030.

“A Petrobras está ficando sem áreas para perfurar”, afirmou André Fagundes, analista da consultoria energética Wellingence. “Que outras perspectivas de longo prazo ela tem no horizonte?”

Em junho, o Brasil leiloou 19 dos 47 blocos ofertados na Foz do Amazonas, tornando-a a bacia mais disputada entre as cinco disponíveis, apesar dos protestos de ativistas ambientais. Petrobras, Exxon Mobil e Chevron conquistaram direitos de exploração na região, apostando que o órgão ambiental do país acabaria liberando a promissora área marítima para perfuração.

A última etapa antes da perfuração do primeiro poço na Foz do Amazonas foi a realização de um simulado de vazamento de óleo para testar a capacidade da Petrobras de lidar com eventuais acidentes.

A presença de ecossistemas frágeis tornou a região um ponto controverso para a exploração petrolífera e despertou preocupação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

O processo de licenciamento foi longo para a Petrobras. Em maio de 2023, o Ibama havia negado o pedido da companhia para explorar a área. Entre os motivos estavam a ausência de um estudo de impacto ambiental robusto, riscos à fauna em caso de vazamento, possíveis impactos sobre comunidades indígenas e “inconsistências” nas informações fornecidas pela empresa.

Em 2020, a TotalEnergies e a BP desistiram de seus blocos de exploração na Margem Equatorial após não conseguirem obter licenças ambientais. A Shell esperava que a Petrobras conseguisse a autorização, abrindo caminho para sua própria campanha de perfuração na região.

A Petrobras pretende iniciar o quanto antes a perfuração do primeiro poço em águas profundas na Bacia da Foz do Amazonas, disse Chambriard à Bloomberg News em setembro, acrescentando que a empresa estima que o trabalho levará cerca de quatro meses.

“É importante lembrar que perfurar um poço em uma nova fronteira pode não resultar em descoberta. Esperamos encontrar petróleo logo na primeira tentativa, mas, se não acontecer, isso não significa que a área não tenha potencial”, afirmou.

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