Bloomberg Línea — Até o momento, em 2025, os mercados acionários latino-americanos tiveram um forte desempenho, impulsionado pelos fluxos para os mercados emergentes, pelo reequilíbrio do portfólio global e por fatores políticos internos que reduziram parte da incerteza.
Até o meio da semana, o índice Colcap (COLCAP) da Colômbia liderava o avanço regional com uma valorização de 35,54% em termos de dólar, seguido pelo S&P/BMV IPC (MEXBOL) do México (+28,11%), IPSA (IPSA) do Chile ( +27,38%), Ibovespa (IBOV) do Brasil (+25,86%) e S&P/BVL (SPBLPGPT) do Peru (+21,96%). Em contrapartida, o Merval (MERVAL) da Argentina caiu 32,59% no mesmo período.
“O ano de 2025 começou com o mercado esperando que o S&P 500 tivesse um desempenho não tão bom em comparação com os anos anteriores”, disse Stephanie Mosquera, chefe de ações da Credicorp Capital. “Portanto, em geral, os gerentes de portfólio começaram a se preparar para que este fosse um ano potencialmente melhor para os mercados emergentes. E, nesse sentido, a América Latina está no radar dos investidores.”
Nesse contexto de avaliações generalizadas, algumas ações individuais ficaram atrás de seus mercados de referência. Os motivos variam de fraquezas operacionais a estruturas financeiras pressionadas, mudanças estratégicas e desconfiança do mercado na resiliência de determinados setores.
Leia também: Principal Asset vê rali de 100% na bolsa até 2026 com alternância de poder

Essas quedas no mercado de ações vão contra a narrativa regional e mostram as particularidades de cada empresa em face de um ambiente macroeconômico favorável para os mercados emergentes. A Bloomberg Línea analisou as duas ações que mais caíram até agora neste ano, até o meio desta semana, entre os principais índices do mercado acionário da região.
Defasagens específicas
A Colômbia lidera a recuperação do mercado acionário regional, mas alguns papéis ficaram para trás. A Canacol (CNEC) caiu 39,55%, afetada por menores vendas de gás natural e menor geração de caixa.
O JPMorgan (JPM) observa que “a Canacol registrou EBITDA de US$ 56,3 milhões no primeiro trimestre de 2025, 26% abaixo do trimestre anterior e 20,2% abaixo de nossas estimativas de US$ 70,5 milhões”. A queda deveu-se a menores volumes contratados e maiores custos de financiamento.
Além disso, o mercado levantou preocupações sobre o declínio estrutural na demanda local de gás e os obstáculos logísticos para acessar novos mercados. Em seus relatórios, a empresa reconheceu esses desafios e anunciou planos para diversificar seu portfólio fora da Colômbia.
A Empresa de Teléfonos de Bogotá ETB(ETB), por sua vez, caiu 29,05% e enfrenta um déficit estrutural. Em seu relatório trimestral, a empresa declarou que “desde 2016, as arrecadações médias mensais de caixa da ETB têm sido menores do que seus custos e despesas médios mensais”.
A empresa está em processo de transformação para um modelo digital, mas a pressão financeira continua.
Leia também: Rali que desafia Wall Street: este é o mercado mais rentável da América Latina

O México, que ocupa o segundo lugar no desempenho do mercado acionário regional, também tem ações que ficaram para trás. A Orbia Advance (ORBIA*) caiu 17,49% em 2025, afetada por resultados operacionais fracos e um ônus financeiro maior.
Andrés Cardona, analista do Citi, observou que, no final de junho, a Orbia apresentou outro trimestre de resultados operacionais fracos e registrou um prejuízo líquido de US$ 126 milhões, refletindo uma mudança estrutural em seu perfil de receita.
Embora a orientação do EBITDA para 2025 (entre US$ 1,1 bilhão e US$ 1,2 bilhão) tenha sido reiterada, a gerência enfatizou que a maioria de seus mercados se estabilizou e alguns até mostram sinais iniciais de recuperação.
O Genomma Lab (LABB), por sua vez, acumulou uma queda de 16,55%. O consenso do mercado reduziu as expectativas diante da desaceleração das vendas e das pressões sobre os custos. Os analistas da Monex afirmaram que os resultados do segundo trimestre ficaram em linha com as expectativas, com crescimento de 0,5% na receita e aumento de 4,4% no EBITDA, apesar de fatores atípicos que afetaram parcialmente o desempenho.
O declínio de 1,3% nas vendas no México foi explicado pelo impacto do clima frio na categoria de bebidas, mas parcialmente compensado pelo melhor desempenho nos segmentos de OTC e cuidados pessoais.
A Monex também observou que, após discussões recentes com a gerência, foi observada uma redução no consumo de determinados produtos a partir do primeiro trimestre de 2025, bem como ajustes nas estratégias comerciais para sustentar a participação no mercado
Leia também: Países da América Latina ampliam investimento no exterior em 47% em 2024
Chile, Peru e Brasil
No Chile, a CMPC (CMPC) registrou uma queda de 14,49% em 2025, apesar de uma recuperação no IPSA. O JPMorgan disse que os resultados do primeiro trimestre “ficaram abaixo de nossas estimativas e do consenso” e que o desempenho do EBITDA foi pressionado pelas divisões de celulose e papel.
O Bradesco BBI acrescentou que “o EBITDA consolidado ficou 27% abaixo do consenso, afetado por menores preços de venda e maiores custos operacionais”.
O mercado acompanhou de perto a evolução dos preços internacionais da celulose, que mostraram fraqueza até agora neste ano e afetam diretamente as margens dos negócios florestais e industriais da empresa.
A CAP (CAP), outra ação da IPSA, acumulou uma queda de 10,36%. A empresa atua no setor de mineração e siderurgia, produzindo principalmente minério de ferro e aço.
O JPMorgan detalhou que “a CAP reportou um EBITDA fraco de US$ 96 milhões no 1T2025 (-52% a.a.; -24% a.q.), significativamente abaixo de nossa previsão de US$ 120 milhões”. O declínio é explicado por um desempenho ruim da unidade industrial e uma menor contribuição do negócio de mineração.
No Peru, a Aenza (AENZAC1) caiu 38,49% e continua a não conseguir recuperar a confiança do mercado. Em seu relatório aos investidores, a empresa observou que o EBITDA ajustado foi de aproximadamente US$ 28,6 milhões no primeiro trimestre de 2025, menor em US$ 15,4 milhões em comparação com o quarto trimestre de 2024 e US$ 7,6 milhões em comparação com o primeiro trimestre de 2024.
Leia também: Estes são os países mais atraentes para o investimento estrangeiro na América Latina

A empresa continua seu processo de reestruturação e conseguiu reduzir a dívida, mas o segmento de infraestrutura continua a apresentar resultados fracos.
A Pluz Energía Perú também ficou para trás, com uma queda de 31,11% em 2025. Apesar de um aumento de 1,9% em seu EBITDA trimestral, o lucro líquido caiu 6,4%. A empresa explicou que “o lucro líquido diminuiu em comparação com o mesmo período do ano passado devido a despesas financeiras mais altas”.
O aumento da dívida líquida em S/ 443 milhões (cerca de US$ 117 milhões) e as maiores amortizações e diferenças cambiais impactaram os resultados, em um contexto de investimento intensivo em redes de distribuição.
No Brasil, as ações da RD Saúde (RADL3) registram queda de 35,59% no acumulado do ano, afetadas por diversas frentes operacionais. A XP Investimentos previu trimestres fracos, “com queda sequencial do lucro líquido”.
De acordo com o relatório, isso se deveu à redução da eficácia das campanhas promocionais, que não conseguiram gerar o tráfego e o tíquete médio esperados. Além disso, foi relatada uma pressão significativa na margem devido à concorrência de preços no canal de varejo, um ambiente de vendas OTC (over-the-counter) mais desafiador e um aumento nos custos operacionais que ultrapassou o crescimento da receita.

O Bradesco BBI também alertou que no primeiro trimestre de 2025 houve uma queda relevante nas vendas e na lucratividade.
Já a Raízen (RAIZ4), especializada em bioenergia e distribuição de combustíveis, caiu 28,70%. O Bradesco informou que seus resultados do quarto trimestre do ano-calendário 2025 foram significativamente inferiores ao esperado, destacando a pressão estrutural sobre suas margens no negócio de energia e etanol.
Argentina
A Argentina é o único grande mercado acionário latino-americano que não está participando da recuperação regional. O Merval acumulou uma queda de 32,59% em 2025, refletindo uma correção profunda e prolongada.
De acordo com o Citi, “o mercado acionário argentino continuou em modo de correção, caindo 7% em termos de dólares desde nosso último relatório (26 de junho), acumulando um desempenho de -36% no ano e -42% em relação às máximas”.
Embora as avaliações atuais sejam consideradas mais atraentes, persiste um forte descolamento em relação aos títulos soberanos, refletindo percepções divergentes do risco-país.
O relatório observa que “as avaliações das ações argentinas, que estavam claramente supervalorizadas em janeiro, agora são atraentes, em nossa opinião”. A chave para uma eventual recuperação do mercado estará na governabilidade legislativa do governo.
De modo geral, a recuperação das ações regionais não se traduziu em retornos uniformes para todas as ações. A seleção de ativos continua sendo fundamental em face dos fundamentos corporativos heterogêneos, mesmo em um ambiente macroeconômico favorável para a região.