Sem Xi e Putin, Lula critica corrida armamentista ao abrir Cúpula dos Brics no Rio

Mesmo com a presença de apenas seis dos dez líderes membros do bloco, evento desafia a ordem global liderada pelos EUA

“O direito internacional se tornou letra morta, juntamente com a resolução pacífica de disputas”, disse o presidente brasileiro
Por Mirette Magdy - Simone Iglesias
06 de Julho, 2025 | 02:06 PM

Bloomberg — Ao contrário da cúpula do G-20 no Brasil, ninguém se atrasou ou faltou quando os líderes das principais nações de mercados emergentes do mundo se reuniram para uma foto oficial no domingo (6) no Rio de Janeiro - pelo menos não acidentalmente.

Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião da reunião de dois dias dos países dos Brics, ocupou o centro do palco, ladeado por Cyril Ramaphosa, da África do Sul, e Narendra Modi, da Índia, em ambos os lados. Outros representantes do bloco recém-expandido se espalharam a partir daí, com os participantes internacionais mais controversos - os ministros das Relações Exteriores da Rússia e do Irã - em ambos os lados.

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Foi um forte contraste em relação a uma caótica foto de família no mesmo cenário - o icônico Pão de Açúcar do Rio - em novembro, quando a ausência do então presidente dos EUA, Joe Biden, da italiana Giorgia Meloni e do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau resumiu a desordem que permeou as reuniões do G-20 no Brasil.

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Ainda assim, a foto de dez líderes, todos homens, foi notável por quem não estava nela: os presidentes Xi Jinping da China, Vladimir Putin da Rússia, Abdel-Fattah El-Sisi do Egito, Masoud Pezeshkian do Irã e ninguém da Arábia Saudita.

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Xi, o líder da maior e mais influente economia do bloco, decidiu não viajar ao Rio depois de visitar o Brasil no ano passado e receber Lula para uma visita de Estado em Pequim há apenas alguns meses. Putin, que enfrenta um mandado de prisão internacional por causa da guerra da Rússia na Ucrânia, ficou em casa novamente, aparecendo brevemente por transmissão de vídeo assim que a reunião dos líderes começou. El-Sisi está ocupado com a mediação no Oriente Médio, que vive em conflito.

E a Arábia Saudita, que recebeu um convite como parte de uma expansão que dobrou o tamanho dos Brics, continua na ponta dos pés para saber se realmente quer fazer parte.

O país enviou o ministro das Relações Exteriores, príncipe Faisal bin Farhan Al Saud. Mas nunca aceitou totalmente o convite e, até agora, os representantes sauditas permaneceram calados na maioria das reuniões do grupo no Brasil, de acordo com três pessoas familiarizadas com os procedimentos que pediram anonimato para discutir o assunto. Não está claro se eles estão dentro ou fora, disseram as pessoas ouvidas pela Bloomberg News.

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Lula conversou e riu com Modi, que assumirá a presidência dos Brics no lugar do Brasil. Mais tarde, ele abriu a primeira sessão com uma crítica característica ao Ocidente por aumentar drasticamente os gastos com defesa e um golpe velado no presidente dos EUA, Donald Trump.

“O direito internacional se tornou letra morta, juntamente com a resolução pacífica de disputas”, disse Lula. “A recente decisão da OTAN alimenta a corrida armamentista.” Observando a facilidade com que as nações concordaram em alocar 5% do PIB para gastos militares em comparação com a ajuda ao desenvolvimento, ele acrescentou: “É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz”.

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A reunião dos Brics tinha acabado de começar e, mesmo com a presença de apenas seis dos dez líderes membros, já estava desafiando a ordem liderada pelos EUA.

--Com a ajuda de S’thembile Cele.

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