Bloomberg Línea — Em um contexto econômico marcado por reformas estruturais, volatilidade da taxa de câmbio e expectativas divididas sobre a direção do governo de Javier Milei, um dos maiores gestores de ativos do mundo está começando a olhar para a Argentina com mais interesse.
Carlos Brito, diretor de ETFs para a América Latina da JPMorgan Asset Management, observou em uma entrevista à Bloomberg Línea que, embora o país ainda enfrente desafios regulatórios e de infraestrutura financeira, há sinais que podem gerar oportunidades de investimento no curto e médio prazo.
“A Argentina sempre foi um país muito importante para o JPMorgan como instituição financeira. Temos uma presença muito forte”, disse Brito. No entanto, no que se refere à gestão de ativos, ele admitiu que o grupo ainda não conseguiu desenvolver um negócio significativo no país, em parte devido à falta de condições macroeconômicas e regulatórias favoráveis.
No entanto, as mudanças começaram a ser vislumbradas com o novo governo. Para Brito, a política econômica de Milei, embora “brutal” em seu ajuste inicial, poderia estar marcando um ponto de inflexão.
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“Se a Milei conseguir continuar, e talvez tenha mais um período, acho que a parte mais dolorosa já passou, a inflação já está caindo (...), então pode começar a haver algumas oportunidades muito interessantes“, disse o investidor.
O executivo enfatizou que, se esse caminho de abertura financeira e afrouxamento dos controles de capital continuar, “haverá oportunidades muito interessantes para o Asset Management e para nossos ETFs na Argentina”.
Crescimento do mercado
O JPMorgan Asset Management entrou tardiamente no mundo dos ETFs, lançando seu primeiro fundo somente em 2014, mais de duas décadas após o surgimento do primeiro no mercado global. Mesmo assim, o crescimento tem sido constante.
A gestora de fundos agora administra cerca de US$ 300 bilhões em ETFs em todo o mundo e se tornou o quarto maior destinatário de fluxos em 2025. Na América Latina, a empresa já administra cerca de US$ 15 bilhões em ativos de ETFs, principalmente por meio de fundos de pensão e seguradoras.
Brito disse que a nova fase de expansão está concentrada no segmento de varejo, onde ele vê um potencial transformador. “O ETF é realmente um veículo que democratiza os investimentos”, disse.
O crescimento explosivo de contas de corretagem em mercados como o México, de menos de 300.000 em 2019 para mais de 15 milhões em 2025, é indicativo de um fenômeno regional que pode ser replicado se as condições certas estiverem presentes.
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Entretanto, a estrutura regulatória continua sendo um dos principais obstáculos para a região. Para o JPMorgan, não se trata apenas de lançar ETFs de jurisdições internacionais, como os EUA ou a Europa, mas também de explorar a possibilidade de emitir instrumentos de mercados locais.
Nesse sentido, Brito insistiu na necessidade de “trabalhar com os órgãos reguladores e com as bolsas de valores para ver como podemos promover esse mercado local“.
Educação financeira
Além das questões regulatórias, o desafio estrutural na América Latina é a alfabetização financeira. A opinião do JPMorgan é que, com horizontes de investimento de longo prazo, os ETFs podem oferecer retornos significativos, especialmente em setores como infraestrutura, tecnologia ou consumo de massa.
No futuro, o administrador do fundo vê espaço para o desenvolvimento de novos produtos nos mercados emergentes, mas será crucial remover os obstáculos que atualmente desencorajam as empresas locais a abrir seu capital.
Brito mencionou casos como o do Nubank, que optou por se listar em Nova York em vez de em seu país de origem. “Temos que ver como podemos melhorar a estrutura regulatória para que essas empresas, que hoje são privadas, possam abrir seu capital com muito mais facilidade“, disse ele.
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Os investidores latino-americanos estão demonstrando um interesse crescente em estratégias temáticas, especialmente em ações de renda premium e ações japonesas, disse Brito.
Entre os mais populares está o JEPI, um ETF ativo do JPMorgan que combina ações do S&P 500 com baixa volatilidade e o uso de derivativos para gerar renda adicional. Esse fundo paga dividendos mensais e oferece um retorno estimado de 7% a 9% ao ano em termos de dólares.

O interesse no Japão se intensificou por motivos estruturais e de avaliação.
“Pode haver vários fatores interessantes que impulsionaram isso. Um deles é a questão da melhoria da governança corporativa nessas empresas", explicou.
Além disso, há a pressão da Bolsa de Valores de Tóquio sobre as empresas subvalorizadas para que apresentem planos de melhoria, o que abriu oportunidades em um mercado ainda pouco explorado pelos investidores globais.
A Índia também atraiu fluxos significativos da América Latina, tanto do segmento institucional quanto do de varejo.
O JPMorgan respondeu a essa demanda lançando o ETF JRIN, que oferece exposição ativa às ações indianas. “Era um mercado que estava crescendo muito, com um retorno acionário muito atraente dessas empresas indianas”, disse Brito.