Relatório da ONU aponta qual é a ameaça silenciosa do aquecimento global

Períodos de longa seca têm se espalhado pelo mundo, e ONU aponta para riscos de negligência. Consequências econômicas já são sentidas nos EUA, Argentina e Panamá

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Por Sana Pashankar
01 de Dezembro, 2023 | 12:29 PM

Bloomberg — Embora incêndios florestais, tempestades severas e inundações causem impactos de curto prazo que muitas vezes chamam a atenção mundial, uma seca longa, que se estende por meses ou até mesmo anos, pode ser mais fácil de ser negligenciada. No entanto, um novo relatório da ONU mostra que essas secas são tão letais, e talvez até mais, devido à sua capacidade de passar despercebidas.

“As secas operam em silêncio, muitas vezes passando despercebidas e falhando em provocar uma resposta pública e política imediata. Essa devastação silenciosa perpetua um ciclo de negligência, deixando as populações afetadas carregarem o fardo em isolamento”, escreve Ibrahim Thiaw, secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, no prefácio do “Global Drought Snapshot” da agência, divulgado na sexta-feira.

O panorama surge enquanto os países se reúnem para discutir as mudanças climáticas na cúpula COP28 em Dubai. Ele reúne estatísticas alarmantes: cerca de 1,84 bilhão de pessoas ao redor do mundo estão atualmente sofrendo com a seca, de acordo com dados da ONU. A seca vivenciada pela Europa em 2022 foi a mais severa em 500 anos. E espera-se que a seca regional piore ao longo do século XXI, mesmo se as emissões forem reduzidas.

Os fatos destacam a crescente necessidade de cultivar um mundo mais resiliente à seca, com medidas como manejo sustentável da terra, sistemas de abastecimento de água mais eficientes e melhor preparação e seguro contra desastres.

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Resolver o problema “vai exigir ação em múltiplas escalas, desde a cooperação internacional até ações mais específicas e localizadas. Devemos nos esforçar para ser proativos, não reativos, a fim de reduzir nosso risco”, disse Abby Frazier, climatologista da Clark University que estuda a seca.

Além de aumentar o sofrimento humano por meio da fome e da migração forçada, os impactos econômicos da seca são extensos. No ano passado, corpos d’água do Rio Yangtzé, na China, à bacia do Vale Central da Califórnia, atingiram níveis perigosamente baixos, ameaçando o abastecimento de água e o transporte. Os níveis decrescentes do Rio Mississippi causaram um congestionamento de cerca de 2.000 barcaças, resultando em uma perda estimada de US$ 20 bilhões devido a interrupções na cadeia de suprimentos.

A agricultura experimentou, sem dúvida, os efeitos cascata mais graves da seca. As terras de pastagem na África do Sul diminuíram em 33%, enquanto a produção de soja na Argentina este ano deverá cair 44%, a colheita mais baixa em mais de 30 anos.

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Os impactos da seca muitas vezes são cíclicos, mergulhando comunidades já vulneráveis em maior insegurança alimentar e hídrica. Cerca de 85% das pessoas afetadas vivem em países de baixa ou média renda. Mulheres e crianças suportam os maiores fardos dos desastres naturais, observa o relatório. Nos últimos 50 anos, a África sofreu US$ 70 bilhões em perdas econômicas relacionadas à seca.

Na COP28, os países ricos estão sob pressão para oferecer mais ajuda climática às nações em desenvolvimento. Na quinta-feira, nações como os Emirados Árabes Unidos, Alemanha e Japão contribuíram com pelo menos US$ 260 milhões para um fundo que ajudará países vulneráveis a lidar com os efeitos do clima extremo.

“O financiamento e a finança climática precisam de muita atenção positiva. Muitos países sabem o que fazer, mas o que precisam é de apoio”, disse Daniel Tsegai, oficial de programa da UNCCD e um dos principais autores do relatório.

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