Negociações climáticas na COP30 entram em fase decisiva sobre corte de emissões

Negociadores apresentaram opções para lidar com a lenta redução das emissões de gases de efeito estufa por parte dos países em uma minuta do acordo revelada nesta terça

COP30
Por Jennifer Dlouhy - John Ainger
18 de Novembro, 2025 | 04:59 PM

Bloomberg — Os negociadores que lideram as conversas climáticas das Nações Unidas em Belém apresentaram opções para lidar com o progresso decepcionante do mundo na redução das emissões de gases de efeito estufa, embora os países ainda permaneçam muito distantes em relação a políticas de financiamento e comércio.

As nove páginas da minuta do acordo revelado nesta terça-feira (18), na cúpula COP30, deixa vários tópicos controversos sem solução, o que reflete profundas divisões sobre como ajudar os países em desenvolvimento a se adaptarem ao aquecimento global e como as nações devem cumprir seu compromisso de 2023 de fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis.

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O texto preliminar surge um dia antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornar às negociações em Belém para tentar elevar a ambição nas salas de discussão.

No início da conferência, Lula liderou os apelos por roteiros para o combate ao desmatamento e para a transição dos combustíveis fósseis, embora a proposta de terça-feira esteja aquém dessa abordagem. A presidência brasileira da COP30 pretende concluir um primeiro “pacote” de decisões na quarta-feira.

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A presença de Lula “pode ser algo que influencie o ritmo das negociações”, disse David Waskow, diretor internacional de clima do World Resources Institute.

O texto segue mais de uma semana de negociações na cidade amazônica de Belém, enquanto o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, pede que os países se unam em torno do que ele chama de “decisão mutirão”.

Ativistas reclamaram que grande parte da proposta não é suficiente para abordar o uso de combustíveis fósseis que impulsiona as mudanças climáticas — ou para apoiar as nações pobres que trabalham para desenvolver suas economias sem se apoiar neles.

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As propostas “ficam muito aquém do nível de ambição que esta COP exige”, disse Rachel Cleetus, diretora sênior de políticas para o clima e energia do Union of Concerned Scientists.

Cleetus classificou o plano como “fraco demais” na redução gradual dos combustíveis fósseis e “lamentavelmente deficiente” em relação ao financiamento.

A seguir, como o chamado texto de opções abordaria questões-chave:

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Fechar a lacuna de emissões

A proposta recomenda três abordagens para responder à discrepância entre as reduções de emissões que os países realizam ou às quais se comprometeram, e o que é realmente necessário para cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.

Uma primeira opção seria estabelecer uma “revisão” anual da questão, para abordar a lacuna, permitir a partilha de conhecimento e reforçar os compromissos dos países.

Uma segunda opção seria o lançamento de um novo “Acelerador Global de Implementação” voluntário, que procuraria apoiar os países na implementação dos compromissos de redução de carbono e acelerar a ação, culminando num relatório posterior sobre o trabalho.

Uma terceira proposta criaria um novo “Roteiro de Belém para 1,5°C”, identificando maneiras de acelerar o trabalho, além de abordar a cooperação internacional e os investimentos nos compromissos dos países em relação à redução de carbono, com um relatório previsto para a cúpula climática do próximo ano.

Transição para longe dos combustíveis fósseis

Dois anos depois de quase 200 países terem concordado em fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis de forma justa, ordenada e equitativa, eles agora debatem propostas para definir melhor o que isso significa na prática.

Não está claro se a COP30 abordará a questão de forma direta em um acordo final. O documento preliminar divulgado nesta terça-feira apresenta duas opções concretas — além de uma terceira, que não contém texto algum.

Uma das propostas, considerada a opção mais forte, incentivaria os países a “cooperar e contribuir” para os esforços globais de transição dos combustíveis fósseis, com uma mesa-redonda ministerial de alto nível destinada a ajudar as nações a criar roteiros de transição e “superar progressivamente a dependência de combustíveis fósseis”, bem como auxiliá-las a “deter e reverter o desmatamento”.

Uma segunda proposta criaria um workshop para que os países compartilhassem “oportunidades e estórias de sucesso nacionais” na transição para “soluções de baixo carbono”.

Financiamento para países em desenvolvimento

A proposta também reflete uma tensão antiga sobre como oferecer financiamento climático a países em desenvolvimento. Muitos países pobres estão sobrecarregados pela tentativa de construir suas economias sem combustíveis fósseis e precisam se adaptar aos impactos climáticos nos quais tiveram pouca responsabilidade.

Uma das soluções propostas seria a criação de um plano “legalmente vinculante” para esse fim — algo que entidades como a UE relutarão em aceitar. Sob essa abordagem, o plano vinculante poderia incluir o desenvolvimento de um sistema comum para monitorar e relatar o financiamento climático, bem como a criação de “acordos justos de partilha de responsabilidades” entre as nações desenvolvidas.

Outra opção seria criar um novo programa de trabalho, com vertentes separadas destinadas a mobilizar financiamento adicional e a tornar uma maior parte dele acessível.

Uma terceira proposta resultaria em um programa de trabalho de dois anos para abordar barreiras ao aumento do financiamento, incluindo a reforma de instituições financeiras internacionais.

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