BofA vê perda de fôlego da economia no Brasil e corte da Selic em dezembro

Equipe de pesquisa econômica do Bank of America avalia que a atividade deve desacelerar no segundo semestre diante de condições financeiras mais apertadas

Brazil Exchange As Central Bank Raises Rates, Bucking Global Easing Trend
02 de Junho, 2025 | 12:59 PM

Bloomberg Línea — O Bank of America avalia que as condições financeiras se tornaram mais apertadas nos últimos 12 meses no Brasil e projeta que a economia enfrentará uma desaceleração no segundo semestre de 2025.

Nesse ambiente, a a equipe de pesquisa econômica do banco prevê que o Banco Central poderia iniciar em dezembro os cortes da taxa básica de juros, a Selic, de acordo com relatório divulgado nesta segunda-feira (2).

PUBLICIDADE

“Esperamos que a atividade desacelere no segundo semestre de 2025, já que as condições financeiras estão apertadas há um longo período e o estímulo fiscal é menor do que vimos no final de 2023 e início de 2024”, dizem os analistas do BofA, liderados por David Beker, no relatório.

Leia também: BC precisa ser muito mais duro para ancorar as expectativas, diz Kanczuk, do ASA

A análise do banco se baseia não apenas nas taxas de juros praticadas no país e na Selic, mas também em um conjunto de sete variáveis econômicas que compõem o indicador de condições financeiras criado pelo próprio Banco Central - incluindo câmbio, preços de commodities, cotação do petróleo, nível do risco-país, e índices de ações.

PUBLICIDADE

O relatório destaca que as taxas de juros reais subiram 2,60 pontos percentuais desde maio de 2024, alcançando patamares acima de 7% e permanecendo bem superiores a 5%, considerado como o patamar de juro neutro pela autoridade monetária (aquele que não desacelera nem estimula a atividade).

O BofA aponta que as expectativas de inflação começaram a acelerar em maio de 2024, levando os contratos de juros futuros de um ano a saltar de 10,5% ao ano para 14,5% no período.

As preocupações fiscais também pesaram sobre a cotação do dólar, que subiu de R$ 5,15 para R$ 5,70 por dólar, sem recuperar os níveis anteriores mesmo após a melhora registrada no início de 2025.

PUBLICIDADE

“Um melhor sentimento local e altas taxas de juros locais ajudam a explicar a valorização do real após a desvalorização de dezembro de 2024, mas o real não retornou aos níveis anteriores devido a preocupações fiscais”, dizem os analistas no documento.

Por outro lado, alguns elementos funcionaram como atenuantes para as condições financeiras. A queda de 22% nos preços do petróleo Brent e WTI beneficiou a economia brasileira, sensível aos custos de energia e transporte.

Além disso, os mercados de ações apresentaram desempenho positivo tanto no Brasil quanto em outros países emergentes. O Ibovespa se beneficiou da perspectiva de que a América Latina pode ganhar com as incertezas comerciais criadas pelas tarifas do presidente Donald Trump.

PUBLICIDADE

O movimento nos mercados de capitais ofereceu algum alívio às condições financeiras no Brasil.

Um fator adicional de aperto, no entanto, veio da decisão do governo Lula que elevou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Embora a medida tenha sido questionada no Congresso desde estão, ela aumentou a tributação sobre empréstimos bancários para empresas de 1,88% para 3,95%, representando custo adicional para o setor produtivo.

O Bank of America considera que “isso fortalece o argumento para manutenção [da Selic no atual patamar de 14,75% ao ano] na próxima reunião do BC, em junho”.

Leia também

Menos México, mais Brasil: a transformação na exploração de petróleo em LatAm

Por que a perda de força do dólar não é tese estrutural entre muitas gestoras globais

Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.