Bloomberg Línea — O pedido de recuperação judicial da Ambipar no Brasil e de proteção contra credores no Chapter 11 nos Estados Unidos no início desta semana foi apenas o mais recente capítulo de uma série de nomes conhecidos do mercado brasileiro e latino-americano que passaram por crises financeiras, com dívidas que precisaram ser reestruturadas.
A lista inclui empresas de diferentes setores, como Gol (e seu controlador Abra Group), Azul Linhas Aéreas, Oi, InterCement, Andrade Gutierrez e Unigel, entre outras.
Em comum a essas operações, um nome menos conhecido no país mas cujo awareness cresce a cada deal e que globalmente dispõe de prestígio como maior banco de investimento do mundo em número de transações, em particular em assessoria a M&As e reestruturação de dívidas: o Houlihan Lokey.
O banco de investimento independente, com sede em Los Angeles, passou mais de duas décadas com atuação “oportunística” no Brasil e na América Latina, em cima de demandas específicas que surgiam, sem uma representação local.
Tudo isso mudou no começo de 2023, quando o executivo Bruno Baratta abriu o escritório em São Paulo com a missão de montar uma nova operação para o país e para a região.
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Mais de dois anos e meio depois, o Houlihan se consolidou como um player relevante nos dois mercados não apenas em reestruturação mas em outras áreas em que possui expertise única, a tal ponto que o banco tem se mostrado seletivo para aceitar mandatos em que julga que possa fazer a diferença.
“Há um mundo de oportunidades tanto no Brasil como na América Latina. O desafio é tempo e, principalmente, gente: encontrar as pessoas certas para fazer as coisas certas nos lugares certos”, disse Bruno Baratta, Managing Director e Head para o Brasil do Houlihan Lokey, em entrevista à Bloomberg Línea.
O executivo chegou egresso do Lazard, outro dos principais bancos de investimento independente americano, em que trabalhou por quase 12 anos.
Segundo Baratta, o banco tem sido procurado tanto por empresas como por fundos para atuação em áreas em que há pouca ou nenhuma cobertura da concorrência no Brasil e na região.
Outra demanda crescente, segundo ele, vem de family offices brasileiros que buscam ampliar a alocação de seus recursos no exterior, um movimento que ganha força até dado o então histórico home bias de investimento versus famílias ricas de outros países da região, como o Chile, por exemplo.
“Leva tempo para contratar, implementar e fazer o rollout”, disse Baratta sobre a expansão do banco no Brasil e na região. Atualmente o time em São Paulo conta com doze profissionais.
“Poderíamos ter mais pessoas, mas temos cuidado na forma como expandimos o time. Além disso, contamos com a atuação conjunta de profissionais em outros mercados [veja mais abaixo].”
A área de mercados de capitais é a que mais cresce dentro do banco globalmente, para demandas como levantar capital para companhias e fundos, algo que ocorre com muita força nos EUA mas também no Brasil em menor escala.
Esse movimento acontece no contexto de um movimento de transição de provedores de capital do ambiente bancário para fundos e crédito privado.
“Isso aumenta a demanda para empresas como a nossa em um range enorme, que vai de growth equity a crédito distressed, por exemplo.”
Trata-se de um negócio é naturalmente muito integrado com o de reestruturação e o de liability management.
“Muitas vezes a companhia nos chama e está com um problema de balanço ou de liquidez. Se é o caso de uma reestruturação, de liability management ou se precisa levantar uma nova dívida, cabe a nós descobrir”, afirmou.
“É o que o que no mercado se chama hoje de soluções de capital [capital solutions].”
No caso de liability management, o atendimento passa por assessorar transações em geral fora da esfera judicial, que acaba impactando positivamente a dívida da companhia em questão, via mercado de capitais, e por levantar recursos.
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Assessoria e cobertura de fundos
Isso também inclui viabilizar recursos para seus clientes aproveitando o seu acesso, por exemplo, a fundos globais que, por outro lado, também buscam a assessoria do Houlihan para alocação de seus recursos. Esse é justamente outro business do banco dentro da área de capital solutions.
“Nós fazemos o trabalho de placement agent, que é levantar capital primário para fundos.”
Há também um time especializado na assessoria de negociações no mercado secundário, algo que se tornou mais demandado diante dos anos recentes de “seca” de exits de fundos de private equity em seus investimentos.
“Nós trabalhamos tanto com GPs [General Partners] como com LPs [Limited Partners]“, contou, em referência aos gestores que comandam os fundos e aos investidores que fornecem capital aos mesmos, respectivamente.
Outra atuação se dá na assessoria a directs, que são fundos que levantam capital para deals específicos, diferentemente dos que operam no modelo de blind pool, em que os recursos são levantados com mandatos mais amplos.
Além disso, há times especializados na cobertura de cerca de 2.500 fundos no mundo, de private equity, de crédito e de grandes family offices.
“É um time que não tem obrigação de gerar fee. É um trabalho de cobertura para saber o que cada fundo quer fazer, em quais indústrias prefere investir, no que não investe, em uma base semanal”, contou.
Tudo isso posto, a atuação do Houlihan passa pela interseção de interesses de quem investe e de quem busca capital, o que explica em certa medida o seu elevado número de assessorias a deals no mundo.
São valores de transações em geral na faixa de US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão, abaixo, portanto, dos megadeals que muitas vezes são atendidos por bancos de investimento de balanço, como os gigantes de Wall Street.
Diante de tantas áreas de atuação, a avaliação do executivo é que o banco investiu menos tempo do que poderia em outras agendas no Brasil e em LatAm diante da demanda elevada do mercado para a área de reestruturação.
A presença do banco é descrita como relevante no México e tem havido deals em outros mercados da região, como Argentina, Peru, Chile e Colômbia.
Em todas as geografias, a atuação se dá de maneira combinada entre profissionais dedicados a áreas específicas que têm os Estados Unidos ou outros países desenvolvidos como base e o time montado por Baratta para o Brasil e a América Latina. Há também um time em Los Angeles que olha para a região.
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“O banco atua de maneira muito integrada entre os vários times no mundo, desde que a combinação faça sentido. Por exemplo, no caso de companhias aéreas, com crises que acabam muitas vezes no Chapter 11, usamos muito o time nos EUA, dado que são processos americanos″, disse o managing director.
Seria também o caso da Ambipar, caso em que, segundo noticiou o site Pipeline, do Valor Econômico, o Houlihan foi contratado para defender um grupo de detentores de bonds emitidos no exterior. O executivo não confirmou a informação.
A empresa brasileira de gestão de resíduos entrou com pedido de proteção na segunda-feira (20) com cerca de R$ 11 bilhões em dívidas, das quais cerca da metade são justamente em títulos emitidos no exterior.
O banco é conhecido no mercado por ter um time especializado em M&As de environmental services. O conhecimento passa por ativos nos EUA da Ambipar Response, empresa que atende emergências ambientais.
Tantas áreas de atuação resultam em um modelo de negócios que é 100% voltado à assessoria financeira - não há asset para gerir ativos, por exemplo.
Apesar do holofote gerado por casos de reestruturação de dívida, esse business responde por cerca de um terço dos negócios do banco. A maior parte vem do que seria uma agenda “saudável”, com atendimento a empresas e fundos.
Listado na NYSE (Bolsa de Nova York), o Houlihan Lokey é também o maior banco de investimento independente em market cap, com valor aproximado de US$ 13,7 bilhões.
“Com tempo e as pessoas corretas, não tem por que o banco não possa replicar no Brasil e na América Latina o que já faz globalmente”, disse o head para o país.
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