SXSW: Os aprendizados de executivos brasileiros na conferência de inovação

Brasileiros que estiveram presentes no encontro em Austin, nos EUA, falaram à Bloomberg Línea sobre os temas que lhes chamaram a atenção em 2024

Centro de exposições que abriga o SXSW (South by Southwest) em Austin, um dos maiores eventos de inovação do mundo (Foto: Bloomberg Línea)
14 de Março, 2024 | 11:27 PM

Bloomberg Línea — Na conferência de inovação, música e cinema South by Southwest (SXSW) em Austin, nos Estados Unidos, executivos brasileiros que participaram do evento compartilharam com a Bloomberg Línea os aprendizados do evento e destacaram como a tecnologia avança exponencialmente ao mesmo tempo que o fator humano ganha relevância.

Desde a importância da diversidade de temas ouvindo painéis diferentes da área de atuação e explorando temas como saúde, transporte e comportamento humano, os executivos mencionaram o networking - com uma grande lista de eventos paralelos e happy hours para além da conferência principal - como um dos pontos altos do evento, por causa do potencial de gerar parcerias e insights.

Veja abaixo as opiniões de executivos em Austin:

A importância do fator humano

Giovanna Bressane Gomes, vice-presidente de marketing de Home Care Américas na Unilever, disse que é a segunda vez que participa do festival. Para ela, numa era de inteligência artificial (IA) e rôbos, um ponto que lhe surpreendeu este ano foi a importância dada ao fator humano.

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“Fiquei surpreendida com a quantidade de temas sobre o ser humano, sobre o comportamento humano. Isso mostra como a gente tem total condição e potencial de ser muito protagonista nesta era de IA”, disse. “Não é só sobre adotar a tecnologia. Para a gente chegar nos futuros possíveis que a gente quer ver lá na frente, tem que ter muito do potencial humano e da intencionalidade humana, na minha opinião, para fazer acontecer”, disse.

Perguntada sobre insights de inovação e parcerias no evento, Gomes disse que consegue ver muitas similaridades. “Não é só adotar a tecnologia, é colocar a tecnologia em função de alguma coisa”, afirmou.

“Temos pessoas que estão olhando muito para o consumidor e entendendo o que que esse consumidor está buscando, quais são as dores e como eu posso tornar a vida dele mais fácil, como é que eu posso gerar uma experiência melhor para as marcas e principalmente para as pessoas? Não é só você ter uma tecnologia e tentar vender essa tecnologia. Comercializar essa tecnologia é sobre você entender o que você pode fazer pelas pessoas, pelo consumidor, pela sociedade”, disse.

Networking e inovação além de sua área

Roberto Valério, CEO da Cogna, disse que uma das características vantajosas da conferência em Austin é o “ambiente de troca” que ela proporciona. “Às vezes você está em um happy hour em uma ativação de uma empresa e alguém lhe apresenta alguém”, disse.

“Por exemplo, encontramos pessoas do [Hospital] Albert Einstein, e nós também temos faculdade de Medicina e pós-graduação em Medicina e Enfermagem. Como a educação tem aspecto muito amplo, acabamos sempre encontrando coisas bem legais que eventualmente se tornam uma parceria”, disse.

Outro ponto interessante para o executivo foi a discussão sobre os super apps, já que na Cogna os alunos acessam diariamente o ambiente virtual de aprendizagem. “Dentro do ambiente virtual de aprendizagem, o que você pode fazer, como é que você pode fazer coisas que vão além de só educação e empregabilidade que nós oferecemos?”, disse.

Segundo Valério, a palestra mais distante da realidade a que ele esteve presente foi uma sessão sobre um projeto de computação quântica do Google.

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“Visitei o laboratório deles de computação quântica na Califórnia, em Santa Bárbara. É muito investimento, e os próprios palestrantes dizem que o uso prático ainda não é concreto. Às vezes gostamos de entrar nessas palestras para pegar coisas que não têm a ver com educação, mas o que eu gosto mais daqui é a variedade”, afirmou.

Temas curiosos e paralelos

Pela Nestlé, Priscila Freitas, líder de inovação da Nestlé, e Daniela Marques, líder de marketing digital e da plataforma de receitas Nestlé, estavam presentes na conferência.

Segundo Freitas, o SXSW traz uma experiência de curiosidade. “A gente consegue olhar não só temas específicos do nosso mercado, mas temas paralelos que podem impactar de forma transversal aquilo que a gente faz”, disse. “Estou muito interessada em olhar o futuro da alimentação e entender como que as novas tecnologias podem impactar nos hábitos alimentares que estão chegando no Brasil e também nas pautas de ESG.”

Já Marques trabalha na área de consumo e olha mais o engajamento com o consumidor, com a trilha voltada para criatividade. “Como é que a gente consegue se conectar com esse consumidor? Aqui tem bastante informação nesse sentido, de como é que a gente usa o conteúdo para conectar e criar essa relação com o consumidor”, afirmou.

Para as executivas, é importante entender os hábitos do consumidor, abordando a inovação, a tecnologia e o impacto positivo nas cadeias alimentares, além de temas como a diversificação da cesta alimentar, escolhas conscientes e proteínas vegetais.

A evolução da inteligência artificial

Bruno Rocha, gerente de marketing da e líder de comunicação de marca da Kellanova (anteriormente conhecida como Kellogg Company), destacou a evolução do uso da inteligência artificial presente no SXSW, afirmando que, apesar do grande interesse e desenvolvimento na área, ainda há dificuldades em aplicá-la efetivamente no mundo real.

Ele mencionou a necessidade de equilibrar a visão capitalista da IA com uma abordagem mais humana, o que viu muito em painéis sobre comportamento humano.

Ele também abordou a mudança nas redes sociais, que agora se concentram mais em cultura e comunidade, desafiando as marcas a se engajarem de maneira autêntica e relevante. Ele ressaltou a importância de flexibilizar a abordagem das marcas e adaptá-las às comunidades para se manterem relevantes no cenário atual.

“No ano passado, ninguém sabia muito bem o que que era IA no SXSW, e aí começou se a especular sobre as possibilidades e virou uma coisa louca. Todas as outras trilhas foram meio que abafadas pela inteligência artificial”, disse. “Neste ano o que eu achei muito interessante é que esse lado humano ganhou pouco mais de força e isso foi muito legal.”

Ele citou a palestra de Simran Jeet Singh, do diretor executivo do Aspen Institute’s Religion & Society Program, que falava como construir resiliência, mas descolava resiliência de resistência. Ao contrário, ele falava de uma resiliência humana que vinha de três Cs: curiosidade, coragem e conexão.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups