No SXSW, uma visão de como solucionar a crise climática com inovação e tecnologia

Unindo tecnologia e sabedoria ancestral na SXSW, ativistas propõem soluções coletivas e práticas para evitar a degradação maior do planeta

SXSW
15 de Março, 2024 | 03:14 PM

Bloomberg Línea — Enquanto muito foi falado sobre inovação na South by Southwest (SXSW), um painel sobre crise climática debateu que a inovação tem de buscar outros modelos econômicos que não sejam baseados no extrativismo.

Além disso, em uma sociedade individualista, a solução da crise climática tem de ser coletiva. “Podemos concordar em uma coisa, que temos que manter esta Terra?”, disse Colette Pichon Battle, cofundadora e parceira de Visão e Iniciativas da ONG Taproot Earth.

Acompanhada de Txai Suruí, ativista de 26 anos da comunidade indígena Paiter Suruí no Brasil, Battle discutiu meios de usar a energia e criatividade do SXSW para salvar o planeta. “Não para outras pessoas, mas para nós mesmos como parte de um coletivo.”

Suruí é líder do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, que mobiliza jovens em seu estado, e coordena a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, uma organização comunitária que trabalha com povos indígenas.

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Com a ajuda de câmeras, drones e tecnologia GPS, ela trabalha com sua comunidade para monitorar invasões de terras. “Quando falamos de economia no Brasil, estamos falando dos povos indígenas porque estamos plantando as árvores. Estamos colocando o alimento saudável na mesa do povo. Estamos fazendo o agro primeiro. Estamos protegendo as nascentes, os animais”, disse.

“E quando a gente fala em economia, a gente não tem investimento nisso. Precisamos que esse dinheiro vá para o chão, vá para quem está colhendo a fruta, quem está plantando as árvores, quem está fazendo esse trabalho. Não temos muitas empresas que entendem isso no Brasil. Eles olham para nós e pensam que estamos pedindo uma doação, e não é isso. Estamos falando de investimento, investimento no futuro, investimento na vida, investimento na mudança do sistema”, disse Suruí, durante o painel.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Suruí disse que coloca em prática essa união da sabedoria ancestral com a tecnologia uma associação dos povos indígenas que criou um aplicativo que manda alertas em caso de queimadas, mineração ilegal e desmatamento.

“Temos o nosso grupo de monitoramento, que é o nosso grupo de proteção, que é esse o nosso conhecimento, de saber do nosso território, de saber o que tem ali de fauna e flora, e averiguar com o nosso grupo de monitoramento se realmente está tendo uma invasão de terra. Só que isso é muito perigoso para nossas vidas, recebemos ameaças, não podemos simplesmente chegar naquele local, porque se tiver alguém lá mesmo, isso pode trazer consequências, inclusive mortes”, disse.

Battle, que é uma advogada premiada e organizadora de justiça climática, disse que hoje a inovação está sendo para “inovar nossa própria destruição de maneiras novas e criativas”.

“Eu acho que poderíamos estar usando a inovação para um propósito melhor. Vamos ter que mudar nossas vidas. Vamos ter que fazer um compromisso com a auto-transformação. E quando enfrentarmos esses sistemas, vamos ter que transformá-los. Existe uma visão para 2050, mas há um deadline de 2030. Esse deadline diz que temos que fazer uma mudança tremenda, em toda a sociedade, se quisermos viver as vidas que temos agora. Não estamos dando esses passos e vamos ter que dar esses passos juntos”, disse.

Segundo Battle, é necessário começar com a tarefa de “olhar no espelho e entender como mantemos sistemas injustos ao participar deles e como estamos causando o desequilíbrio ao consumir da maneira que fazemos”.

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“Não é fácil, é muito mais fácil apontar as empresas de petróleo e gás e apontá-las como ruins porque elas são ruins. Mas a economia global está se movendo com base no padrão de consumo americano. Nós estamos impulsionando isso. Nós somos poderosos, mas ainda não estamos usando nosso poder para o bem. Esta é a oportunidade que temos, mas vamos ter que mudar, talvez ficar um pouco desconfortáveis, talvez reunir coragem e enfrentar algo ou alguém que pareça assustador e aterrorizante”.

Para Battle, o sistema capitalista coloca um valor para os rios e um preço nas árvores. “Quando cortam aquelas árvores na Amazônia, estão cortando-as principalmente para uma dieta americana de carne bovina. O problema não são os gases invisíveis e um futuro que não vimos. O problema é uma história enraizada em uma filosofia de extração, de roubo sem restauração, sem reconhecimento, apenas impacto negativo. E temos que entender que a crise climática é algo muito maior do que apenas gases invisíveis no futuro. Temos que entender que a luta à qual estamos sendo convidados a participar não é sobre você ajudar uma tribo na Amazônia ou as pessoas pobres em Nova Orleans, é sobre nós ajudarmos uns aos outros”.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups