E-migração: como o trabalho remoto deu novo alcance ao talento da América Latina

Executivos de diferentes indústrias discutem no SXSW em Austin como novos modelos de trabalho em empresas tech estão redefinindo fenômenos migratórios

Painelistas no SXSW
08 de Março, 2024 | 06:08 PM

Austin — Se vinte anos atrás latino-americanos imigravam para os Estados Unidos em busca de melhores oportunidades de emprego, hoje a imigração se tornou uma e-migração, com uma força de trabalho da região que atua remotamente para grandes corporações tech americanas.

Esse foi um tema abordado em um painel neste primeiro dia da conferência de inovação, música e cinema SXSW (South by Southwest), em Austin, no Texas.

Nacho De Marco, CEO da empresa fundada na Argentina mas com sede na Califórnia BairesDev, Maria Teresa Arnal, investidora e líder empresarial, e Melvin Wilson, fundador da Solve Innovation Group, falaram sobre como a chamada “e-migração”, um fenômeno que tem revolucionado a forma como as empresas operam, permitindo que o talento latino-americano contribua globalmente sem a necessidade de migração física.

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Para eles, essa transformação não apenas beneficia as empresas mas também impulsiona o desenvolvimento econômico e social em comunidades locais.

O argentino De Marco, CEO da BairesDev, uma das maiores empresas de outsourcing de software 100% bootstrap - que usa os recursos próprios para os negócios, sem investidores externos - do mundo, enfatizou os dois lados da equação da e-migração.

Ele destacou que agora, devido ao crescimento da tecnologia e comunicação, as pessoas podem ter empregos de alta qualidade em seus próprios países, o que elimina a necessidade de mudança física para o exterior.

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Nacho ressaltou que, há vinte anos, isso era impensável, e as pessoas eram obrigadas a se mudar para encontrar oportunidades de trabalho. Ele argumentou que isso tem impactado para melhor comunidades locais e aumentando a renda, enquanto as empresas nos EUA competem pelos melhores profissionais muito além das fronteiras físicas da maior economia do mundo.

“Todas as empresas estão agora competindo globalmente. Goste ou não, você está competindo globalmente por usuários e precisa de talento, é forçado a recorrer aos melhores. E você pode explorar comunidades a que seus concorrentes não tinham acesso”, disse De Marco.

“Há muitos fatores que fazem com que a América Latina tenha uma vantagem competitiva. Uma coisa muito óbvia é o fuso horário. Há também outras vantagens: cerca de 20% da população dos EUA é de latinos, portanto existe uma adequação cultural na América Latina”, disse o CEO da BairesDev.

Ele disse que 1,7 milhão de candidatos por ano se inscreve para trabalhar em sua companhia. “As empresas americanas dispõem agora de um conjunto de talentos que creio que não existe em nenhum outro lugar.”

Já a mexicana Maria Teresa Arnal, uma líder de negócios com uma carreira em empresas de tecnologia globais como Microsoft, Google e Twitter, destacou o crescimento significativo na América Latina em termos de acesso à internet e talento jovem altamente treinado.

Ela apontou que a região possui uma vantagem competitiva devido ao fuso horário e também à afinidade cultural, o que a torna um polo atrativo para empresas americanas em busca de talento. Arnal também mencionou o papel crucial dos governos e do setor privado em colaborar para impulsionar o crescimento econômico e tecnológico.

“A América Latina começou a ver esse fenômeno do venture capital que olha para a região. Governos começaram a compreender que o crescimento econômico viria trabalhando ao lado do setor privado e também do setor acadêmico. Temos muito talento e com custo competitivo. O desafio é a necessidade de especialização. É aí que está o complicado. Você tem que ir além da maneira típica de contratar pessoas. Você deve investir no pool de talentos por meio da especialização”, disse Arnal.

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A investidora, que tem experiência no Vale do Silício, complementou dizendo que os grandes executivos desse polo de inovação têm dificuldade de compreender os desafios enfrentados nos mercados emergentes.

“Uma política que tem de ser abordada pelo setor privado e por governos é como preencher a lacuna com as competências sem necessidade de esperar por um ciclo educativo completo [como faculdades].”

Melvin Wilson, fundador da Solve Innovation Group, compartilhou sua experiência como investidor e defensor da equidade e da diversidade no setor de tecnologia. Ele ressaltou que investidores decidem alocar capital em pessoas, não em tecnologia.

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De Marco enfatizou a mudança de mentalidade que ocorreu nos últimos anos, destacando a importância de procurar talento em lugares e segmentos para os quais as empresas geralmente não olham. Ele defendeu a ideia de oferecer empregos de alta qualidade em cidades e regiões menos exploradas, transformando essas áreas em novos centros de desenvolvimento.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups