Startups da América Latina miram Espanha como entrada para mercado europeu

Empresas de países da região buscam oportunidades de expansão dos negócios no país ibérico em razão de fatores como afinidades de língua e culturais e mercado crescente

Pedestres em região do centro financeiro de Madri
24 de Junho, 2023 | 01:11 PM

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Barcelona, Espanha — Depois de crescerem nos seus países de origem, algumas startups e scaleups latino-americanas miram agora o mercado da Península Ibérica em busca de oportunidades de investimento e expansão de seus negócios. É um movimento que marca um novo capítulo no campo das relações comerciais entre a América Latina e a Espanha.

As afinidades linguísticas e culturais, o clima e o crescente mercado de tecnologia da Espanha têm atraído a atenção de executivos latino-americanos, que usam o país como plataforma de lançamento para o mercado europeu.

Um exemplo é o da Aivo, uma empresa de software de atendimento ao cliente baseada em tecnologia de Inteligência Artificial (IA). A empresa sediada em Córdoba, na Argentina, que está legalmente registrada nos EUA, mudou-se para Madri no final de 2021.

Também está presente no Reino Unido e em outros 11 países da América Latina - incluindo no Brasil -, tem cerca de 210 clientes corporativos, 125 funcionários e espera faturar US$ 15 milhões neste ano.

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“Estou vendo muitos latinos chegando. Se a Espanha fizer as coisas direito, ela pode definitivamente se tornar um hub de expansão. É verdade que muitas empresas estão tentando migrar, porque a situação é complicada nesses mercados. No entanto a Lei de Startup da Espanha criou um ambiente que ajuda a atrair e reter talentos”, disse o CEO e fundador da Aivo, Martín Frascaroli, à Bloomberg Línea.

À frente do Acelerar. es, uma iniciativa da Fundação Leandro Sigman, o argentino Francisco Niethardt organiza um evento anual para conectar doze fundadores de startups argentinas com 70 líderes do mercado espanhol.

O programa, em sua sétima edição, selecionou em março como vencedores de 2023 a empresa imobiliária de tecnologia Pulppo e a empresa de solventes sustentáveis Bioeutectics.

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“Em cada edição, analisamos entre 400 e 600 startups: ajudamos as empresas latinas, especialmente as argentinas, a se tornarem globais”, afirma Niethardt à Bloomberg Línea.

Segundo ele, das mais de 70 startups selecionadas pelo programa, cerca de 60% acabaram se instalando na Espanha.

Campo para crescer

As empresas seguem os passos de outras companhias que se internacionalizaram, se expandindo na Europa e em outras regiões.

A Globant, provedora de serviços e consultoria com foco em inteligência artificial fundada na Argentina, chegou à Europa há cinco anos com a entrada na Espanha. Desde então, formou uma equipe de mais de 1.000 pessoas no país, com escritórios em Madri, Barcelona, Málaga e Logroño. Atualmente, tem uma capitalização de mercado de mais de US$ 7 bilhões.

Em uma entrevista à Bloomberg Línea, Martin Umaran, co-fundador e presidente da Globant na região EMEA, disse que a decisão de desembarcar na Espanha se deveu principalmente à presença de clientes de várias partes do mundo e às contas globais do unicórnio, como Iberdrola, Inditex/Zara, Santander e BBVA, para citar alguns dos principais.

“Há uma abundância de talentos, é um lugar amigável e aberto para fazer negócios e com grandes empresas”, acrescentou Umaran. Na Espanha, o foco da Globant está nos segmentos de serviços financeiros e viagens.

Espanha mira América Latina

O governo da Espanha também faz esforços para atrair startups e scaleups latino-americanas. O país criou um visto para nômades digitais e implementou um novo tratamento fiscal para opções de ações, uma medida que faz parte da Lei de Startup.

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Também promove reuniões entre empresas e investidores, oferecendo financiamento público e aconselhamento a empreendedores. De acordo com Adrián Blanco Estévez, cuja tarefa na ICEX-Invest in Spain é atrair investimentos da América Latina, no ano passado 12 empresas tiveram cerca de 40 reuniões na Espanha, algumas das quais, após o evento, se estabeleceram no país.

“Também temos um programa para atrair empreendedores estrangeiros (não específico para a América Latina, mas os que mais participam são latino-americanos), chamado Rising Up in Spain, que coloca as multinacionais espanholas em contato com empreendedores estrangeiros para que possam colaborar entre si”, explicou à Bloomberg Línea.

Essas e outras iniciativas mostram resultados materiais: o investimento exterior da América Latina atingiu níveis recordes em 2022, cerca de US$ 73,5 bilhões, 75% a mais do que no ano anterior. Brasil, México e Chile foram responsáveis por cerca de 80% do investimento estrangeiro direto (IED) da região desde o início da pandemia, uma participação que se manteve no último ano.

A Espanha tem sido uma porta de entrada natural: 39 projetos de investimento foram anunciados neste ano por empresas latino-americanas.

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De acordo com o relatório Global LATAM 2022 da ICEX-Invest in Spain e da Secretaria Geral Ibero-Americana (SEGIB), o investimento latino-americano acumulado na Espanha chegou a € 68,361 bilhões desde 1993, quando começou a série histórica, o que representa 11% de todo o investimento estrangeiro recebido pelo país ibérico no período.

Corrida das comunidades autônomas

As comunidades autônomas também têm suas cartas na manga para fazer com que empresas inovadoras de outras partes do mundo criem raízes na Espanha. Esse é o caso da capital catalã com a Barcelona & Partners, uma iniciativa de empresas e indivíduos para revigorar a cidade.

Eles são alvo do grupo, que afirma ser a principal agência da Espanha para atrair investimentos privados, especialmente nos setores de tecnologia financeira, videogames, mobilidade inteligente, manufatura avançada e ciências da vida.

“Barcelona se destaca nesse ecossistema europeu e está entre os dez melhores do mundo. Só para dar um exemplo, 40% das empresas de jogos do mundo estão presentes na cidade”, de acordo com a CEO da Barcelona & Partners, Montse Puig Ponsico, em uma entrevista à Bloomberg Línea.

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Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.