Disparada do preço do ovo no mundo abre caminho para versão alternativa vegana

Bloomberg Línea — A alta de preços do ovo de galinha em diversos países no mundo tem feito a versão alternativa vegana ganhar competitividade, dando impulso para segmento da indústria de alimentos que tem se tornado uma tendência global. Assim como a carne tem hoje uma alternativa plant-based (fabricada com ingredientes vegetais), os produtores de ovos veganos também não querem ficar para trás.

Nos Estados Unidos, os preços dos ovos aumentaram 81% no último trimestre de 2022 em comparação com o mesmo período de 2021, para um preço médio por unidade de US$ 5,24. Enquanto isso, os preços dos ovos à base de plantas caíram um pouco - em média US$ 4,42.

O número de ovos naturais vendidos por unidade caiu durante o quarto trimestre de 2022 em comparação com o ano anterior, enquanto as vendas de ovos líquidos à base de plantas por unidade aumentaram.

O aumento do preço dos ovos naturais tem relação com uma série de fatores que estão afetando a produção. Entre eles estão a alta da inflação, que elevou os custos, e a gripe aviária que está afetando milhões de aves produtoras de ovos.

Mesmo nos Estados Unidos, o mercado de ovos à base de plantas é incipiente - cerca de US$ 30 milhões, onde os ovos veganos representam cerca de 8,5% de todas as vendas de ovos líquidos, mas apenas 0,13% das vendas totais de ovos. Cerca de 99% das vendas na categoria de ovos líquidos à base de plantas são de uma única marca: Just Egg, fabricado pela startup Eat Just, com sede na Califórnia.

No Brasil, o preço do ovo de galinha subiu quase 19% nos últimos doze meses até janeiro, três vezes acima da inflação oficial. Enquanto isso, duas empresas têm buscado contornar isso e se destacado na venda de ovos veganos: Mantiqueira e Zona Cerealista.

O sócio-fundador da Mantiqueira, Leandro Pinto, explicou à Bloomberg Línea que a ideia do produto vegano começou em 2018 com o início de pesquisas no exterior. A partir dali, a companhia de mais de 30 anos criou seu braço de inovação, a foodtech N.Ovo, que desenvolveu a receita do substituto para ovos em receitas.

“O ovo é o segundo alimento mais completo do mundo, só perde para o leite materno. Ele atende desde as pessoas mais ricas até as mais pobres, desde quem quer ficar sarado até quem só quer se alimentar”, diz o empresário, que também é presidente do conselho, ao explicar a ampliação da companhia.

O N.ovo Receitas é um produto à base de vegetais, produzido a partir da proteína da ervilha, amido de ervilha e linhaça dourada integral, com objetivo de replicar sabor, textura, cheiro e aparência das comidas de origem animal.

O produto é distribuído em 530 pontos de venda e nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. Apesar da Mantiqueira exportar ovos naturais para o Oriente Médio, Japão e Hong Kong - e buscando abrir portas na América Latina, segundo o executivo, especialmente no Chile e Paraguai -, o alimento vegano ainda não é vendido para fora.

“O objetivo da companhia é atingir um crescimento exponencial do N.Ovo nos próximos anos através do incremento do portfólio e da entrada em outros mercados.”

Ainda que a pressão sobre os preços dos ovos in natura tenha aberto espaço para a alternativa vegana, o produto natural ainda tem melhor custo-benefício. O substituto para ovos N.ovo Receitas, em um estojo de 132g - o que equivale a 12 ovos - custa em média, R$ 18,99. O omelete vegano da Zona Cerealista, que rende quatro omeletes, custa R$ 16,49.

De acordo com a Mantiqueira, a falta de regulamentação do setor e falta de incentivos leva os produtos a ter um valor mais elevado do que os de origem animal. “Atualmente, a maior parte das matérias primas para o segmento Plant Based são importadas já que a cadeia local para obtenção de ingredientes não está desenvolvida.”

Percalços da pandemia

Ainda que o ovo in natura já seja um produto popular, Leandro conta que a Mantiqueira enfrentou algumas barreiras com a pandemia, mas que logo foram reduzidas. A empresa havia criado o clube de assinaturas de ovo em 2018, mas, com as medidas de restrição por conta da covid-19, o plano ganhou tração mesmo em 2020.

Hoje, o Clube do Ovo tem uma base de quase 10 mil clientes divididos entre assinaturas semanais e quinzenais e que recebem ovos em casa. Segundo o fundador, a Mantiqueira tem feito testes para melhorar o sistema e fazer o projeto ganhar escala.

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