Aluguel de veículo pesado ganha espaço com juros elevados, diz CEO da Vamos

CEO da empresa de locação de veículos pesados do Grupo Simpar, Gustavo Couto, diz que a companhia vai acelerar ritmo de crescimento após o lucro recorde em 2022

Segundo o executivo, a locação de veículos representa uma economia de até 30% na comparação com a aquisição
14 de Fevereiro, 2023 | 10:26 AM

Bloomberg Línea — A manutenção do cenário de juros elevados no Brasil deve estimular a demanda pela locação de veículos pesados em 2023, em vez da aquisição de caminhões, tratores e outras máquinas da linha amarela como empilhadeiras e escavadeiras. Essa é a expectativa de Gustavo Couto, CEO da Vamos (VAMO3), empresa do Grupo Simpar (SIMH3) que elevou em 115% seu lucro líquido no quarto trimestre, na comparação anual, atingindo R$ 254,3 milhões, maior valor de sua história.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o executivo apontou a expansão do agronegócio no Centro-Oeste como uma das alavancas do crescimento das receitas da Vamos, já que a área de cultivo está sendo ampliada para a safra de soja, algodão, milho e outras commodities agrícolas deste ano, com os produtores rurais buscando reduzir os custos e aderindo ao modelo de locação de veículos pesados.

“A logística de grãos e os produtores de sementes estão com um interesse maior no aluguel de veículos. Eles estão expandindo suas áreas de plantio e estão descobrindo as vantagens do nosso modelo de locação”, afirmou Couto.

No Sudeste, alugar caminhões e tratores já é mais comum do que no Centro-Oeste, segundo o executivo, apontando a empresas do setor sucroalcooleiro como clientes relevantes da companhia principalmente no interior de São Paulo.

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“Vemos oportunidades gigantescas de negócios no segmento agrícola”, reconheceu Couto.

No quarto trimestre, a companhia elevou em 72,4% sua receita líquida no intervalo de três meses, totalizando R$ 1,391 bilhão. Em 2022, a Vamos apurou uma receita líquida de R$ 4,913 bilhões (+74%) e lucro de R$ 668, milhões (+66,2%).

Na Vamos, 30% do nosso negócio vem do agro”, disse o CEO.

Segundo o executivo, a locação de veículos representa uma economia de até 30% na comparação com a aquisição. “Com as taxas de juros em patamar elevado, o empresário pensa duas, três vezes antes de renovar sua frota e fica mais aberto a alugar o veículo”, afirmou Couto.

Ritmo de crescimento

Diante do fato de que apenas 1% da frota brasileira de veículos pesados é usada para locação, o CEO da Vamos acredita que a companhia ainda tem espaço amplo para acelerar o crescimento de suas receitas em 2023, embora a companhia não forneça guidance (projeção) ao mercado sobre isso.

“Vamos investir mais na aquisição de veículos neste ano”, disse Couto.

No quarto trimestre, o capex (investimento) contratado da companhia atingiu R$ 1 bilhão, alta anual de 66%. No acumulado de 2022, foram R$ 5,5 bilhões em capex, superando o guidance previsto para o ano e 62,1% maior em relação ao ano de 2021. Já o capex implantado foi recorde, com R$ 1,476 bilhão realizado no quarto trimestre, alta de 191,4% em 12 meses, e de R$ 4,845 bilhões em 2022 (+133%).

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“Estamos só começando. Vamos acelerar nosso crescimento, mesmo que haja corte de juros neste ano. Temos um modelo único de negócio em que compramos, vendemos, trocamos e alugamos veículos”, afirmou o CEO da Vamos.

Agronegócio no Centro-Oeste é uma alavanca do crescimento no aluguel de máquinas agrícolas em 2023

Desde a abertura do capital na B3 em janeiro de 2021, a Vamos já realizou duas ofertas subsequentes de ações (follow on), em 2021 e 2022, para levantar recursos destinados à compra de veículos. O nível de alavancagem (dívida líquida/Ebitda) da Vamos atingiu três vezes no fim de 2022, se aproximando do limite de 3,75x, definido como covenant (claúsula contratual de empréstimos que aciona gatilho da execução antecipada da dívida pelo credor).

O nível de alavancagem pode subir um pouquinho acima de 3 vezes, já que vamos acelerar o ritmo de crescimento, mas podemos fazer alguma operação, como uma antecipação de recebíveis, uma venda de carteira de crédito, para reduzir essa alavancagem”, afirmou Couto.

Ele lembrou que a companhia tem melhorado sua classificação de risco no mercado de dívida. No mês passado, a Fitch Ratings, por exemplo, atribuiu uma nota de triplo A a uma emissão de CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) lastreadas em debêntures da Vamos no valor de R$ 750 milhões (sem incluir lote adicional de 25%).

Os recursos captados pela Vamos por meio da emissão de debêntures serão utilizados para a aquisição, a pedido dos produtores rurais, de caminhões, máquinas, equipamentos e implementos agrícolas para emprego exclusivamente nas atividades de produção de produtos e insumos agropecuários, informou a agência de rating no dia 18 de janeiro.

“O mercado está ciente de nossa disciplina na gestão financeira”, acrescentou o CEO.

Competição maior

O maior ambiente competitivo do segmento de locação, com a chegada de novos players como a Addiante, joint venture anunciada pelo grupo Gerdau e a Empresas Randon no ano passado, não é visto pela Vamos como uma ameaça aos seus planos de crescimento acelerado.

“Respeito bastante essas empresas. É natural que surjam novos competidores na locação de veículos pesados. Isso é positivo para nós, pois não ficamos preguiçosos. A Vamos, como spin-off da JSL (JSLG3), já tem um histórico na gestão de frota. Os novos entrantes terão de aprender a fazer o que o grupo já faz há 77 anos. Vão ter de desenvolver uma competência que eles ainda não têm”, observou Couto.

Analistas também apontam um cenário favorável para a companhia. “Devido à sua escala, a Vamos consegue ter vantagens na compra dos veículos em termos de preços e condições, na manutenção da frota e no custo do capital necessário para financiar o elevado capex”, apontou um relatório da Eleven, de setembro, que tem recomendação de compra para o papel, com preço-alvo de R$ 19.

Altas taxas de juros e baixa disponibilidade de crédito podem aumentar a demanda por aluguel de máquinas agrícolas, beneficiando a Vamos”, avaliaram os analistas Victor Mizusaki (Bradesco BBI) e José Ricardo Rosalen (Ágora Investimentos), em nota enviada hoje aos clientes, em que mantiveram a recomendação de compra com preçoa-alvo de R$ 25.

A ação acumula valorização de 12,18% neste ano e de 21,82% em 12 meses na B3.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.