Bilionários no alvo: a crise que atinge os homens mais ricos de Brasil e Índia

Jorge Paulo Lemann vê Americanas perder mais de R$ 9 bilhões em valor de mercado após rombo contábil, enquanto império de Gautam Adani recua mais de US$ 110 bilhões

Gautam Adani e Jorge Paulo Lemann: momento delicado por dois dos empresários mais admirados em seus respectivos países
04 de Fevereiro, 2023 | 07:45 AM

Bloomberg Línea — “Todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira.” A frase célebre que abre o romance Anna Karenina, de Leon Tosltói, poderia se aplicar aos infortúnios deste começo de ano dos homens mais ricos de duas das maiores economias emergentes do mundo.

Jorge Paulo Lemann, com a Americanas no Brasil, e Gautam Adani, com o grupo de mesmo sobrenome na Índia, enfrentam uma crise de confiança sem precedentes de investidores sobre suas empresas, cada qual com sua particularidade, mas, em comum, as acusações - por ora não provadas - de fraudes.

O brasileiro disse por meio de nota no último dia 23 de janeiro que não tinha conhecimento de práticas contábeis ilícitas, enquanto o indiano disse que as alegações contra ele são falsas.

A crise se reflete na desvalorização de empresas de seus respectivos impérios. No caso do brasileiro, o valor de mercado Americanas caiu de R$ 10,8 bilhões no último dia 11 de janeiro, data da revelação das tais “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões, para R$ 1,5 bilhão nesta sexta-feira (3).

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O patrimônio de Lemann sofreu menos, em cerca de US$ 200 milhões no período, segundo dados do Bloomberg Billionaire Index, diante da valorização de outros ativos, como o controle de gigantes globais de bens de consumo, como a cervejaria AB InBev, a Kraft Heinz e o Burger King, entre outros. O seu patrimônio é de US$ 21,4 bilhões, o que o mantém como pessoa mais rica do país.

O trio formado por Lemann e seus parceiros de longa data, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, é o maior acionista da varejista - e foi controlador por quatro décadas. E está, portanto, sob suspeita e acusação de fraude por alguns dos maiores bancos do país, que são credores. BTG Pactual (BPAC11) e Bradesco (BBDC4) se referiram ao caso como fraude orquestrada ao longo de anos.

Segundo a Bloomberg News, que conversou com pessoas a par do assunto, alguns dos bancos credores pretendem buscar a “desconsideração da pessoa jurídica” da Americanas e partir para os ativos pessoais do trio se eles não resgatarem a empresa com aportes de pelo menos R$ 15 bilhões.

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Na Índia, quem está sob pressão e ganhou os holofotes globais nesta semana foi Gautam Adani, bilionário indiano dono do conglomerado industrial Adani. Em uma semana, as empresas do grupo perderam US$ 112 bilhões em uma das maiores ondas vendedoras na história do capitalismo.

A sangria vem na esteira de um relatório explosivo da Hindergurg Research, do investidor Nathan Anderson, que acusou o grupo do bilionário indiano na semana passada de fazer uso de entidades de fachada offshore para inflar receitas e manipular os preços de ações.

Adani, que chegou a se tornar o segundo homem mais rico do mundo em dado momento do ano passado e ocupava a quarta posição neste ano, com um patrimônio de US$ 121 bilhões no começo de 2023, viu sua fortuna despencar pela metade desde que a acusação veio à tona.

- Com informações da Bloomberg News.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.