Petrobras: nomeação de diretoria por Prates traz mais perguntas que respostas

Analistas destacam ausência de definição de dois cargos-chave, o de CFO e o de transição energética, que vão apontar direção em temas como dividendos e fontes renováveis

Petrobras ainda precisa anunciar quem vai comandar a diretoria financeira e se haverá divisão para energias renováveis
03 de Fevereiro, 2023 | 02:44 PM

Bloomberg Línea — A indicação de cinco nomes para a diretoria-executiva da Petrobras (PETR3, PETR4) pelo novo CEO Jean Paul Prates manteve a tradição da estatal de colocar técnicos de carreira nos cargos. No entanto as posições que ainda faltam ser ocupadas, como a de CFO (executivo-chefe de finanças), por exemplo, devem ser decisivas para o plano estratégico de longo prazo da companhia, principalmente acerca da política de dividendos e também da área de transição energética.

A Petrobras divulgou na noite de quinta-feira (2) a indicação dos seguintes nomes:

  • O engenheiro químico Claudio Schlosser para a Diretoria Executiva de Comercialização e Logística;
  • O engenheiro mecânico Carlos Travassos para a Diretoria Executiva de Desenvolvimento da Produção;
  • O engenheiro mecânico Joelson Falcão para a Diretoria Executiva de Exploração e Produção;
  • O engenheiro químico William França para a Diretoria Executiva de Refino e Gás Natural;
  • O bacharel em Tecnologia da Informação Carlos Augusto Barreto para a Diretoria Executiva de Transformação Digital e Inovação.

Todos os engenheiros da lista ingressaram na petroleira no final da década de 1980 e fizeram carreira na companhia, passando por diversos cargos. Falcão, indicado para a área de exploração & produção, foi gerente de operação de plataformas, comandou unidades da companhia em diferentes localidades e atuou como gerente executivo de águas profundas e também ultraprofundas.

França, indicado para a área de refino e gás natural, atuou na Refinaria Guillermo Bell, na Bolívia, e foi gerente geral de refinarias da Petrobras no Brasil.

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Em relatório do Goldman Sachs, os analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins afirmaram que os indicados desenvolveram amplamente suas carreiras dentro da Petrobras.

“Ressaltamos, porém, que os novos membros que ainda serão anunciados devem ser aqueles que vão determinar a nova política de dividendos e a alocação de capital da companhia”. Os analistas observaram ainda o aumento das incertezas em torno das políticas nos próximos anos pela estatal.

O Citi apontou riscos para a tese de investimentos da Petrobras, diante de potenciais mudanças na estratégia de longo prazo e incertezas acerca da alocação de capital da companhia, afirma o analista Gabriel Barra em relatório.

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“Uma das discussões mais importantes, em nossa visão, é a futura política de dividendos, que pode convergir para um pagamento mínimo de 25%. Também acreditamos que qualquer mudança potencial no plano de investimentos e na política de preços dos combustíveis pode adicionar riscos à tese de investimento da Petrobras.”

Monique Greco, Bruna Amorim e Eric de Mello apontaram em relatório do Itaú BBA que, conforme previsto, a nova administração da estatal promoverá uma mudança completa no quadro da diretoria-executiva.

“Quatro dos cinco nomes indicados são funcionários de carreira de longa data da Petrobras e ocuparam cargos executivos de alto nível na empresa. Destacamos os cargos de comercialização & logística e de CFO como os mais cruciais, pois envolvem política de preços e alocação de capital”, disseram no documento.

O diretor de commodities e trading da Interco Trading, Marcos Paulo Ferraz, disse acreditar que os novos indicados devem promover a livre concorrência. “A expectativa é que eles atuem de maneira menos intervencionista, de forma a reverter investimentos para a expansão do segmento de óleo e gás e também para transição energética.”

No mercado, espera-se que o número de integrantes da diretoria-executiva aumente em relação ao quadro atual, com a possível criação de uma área de transição energética.

“A princípio, não há surpresas com as indicações. A expectativa maior reside na criação ou não de uma área dedicada à transição energética, que seria uma novidade a ser analisada”, afirmou o CEO da Gas Energy consultoria especializada, Rivaldo Moreira Neto.

A criação de uma diretoria de transição energética seguiria uma tendência global entre as grandes petroleiras – as “majors” do setor, como Shell, BP, Total e ExxonMobil – de estruturar áreas específicas para investimentos em negócios alternativos aos combustíveis fósseis, como produção eólica em alto-mar e biocombustíveis.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.