Ação da Petrobras abaixo de R$ 20? Analistas calculam impacto de dividendo menor

Papel preferencial, o mais negociado da estatal, fecha em R$ 22,92 no primeiro pregão do ano com sinalizações sobre novas diretrizes e anúncio de CEO

Petrobras deverá reduzir percentual de distribuição de lucros aos investidores em 2023, segundo analistas
02 de Janeiro, 2023 | 02:49 PM

Bloomberg Línea — A Petrobras (PETR4, PETR3) deve perder neste ano a liderança no ranking das maiores pagadoras de dividendos aos investidores do Brasil.

Analistas começaram a trabalhar com essa expectativa diante das declarações e das sinalizações de mudanças que serão promovidas pelo novo governo na estatal de capital misto. Uma das principais diz respeito à mudança na política de dividendos. Outra, na política de preços dos combustíveis.

O senador Jean Paul Prates, indicado para o cargo de CEO da petroleira, chegou a comparar a estatal a uma “herdeira rica”.

A ação preferencial caiu 6,45% no pregão desta segunda-feira (2), primeiro dia útil do governo Lula, que descartou oficialmente a possibilidade de privatização da Petrobras. Trata-se também do primeiro pregão desde a nomeação de Prates, que aconteceu na sexta (30) com os mercados fechados.

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“Se a empresa reduzir seu payout [percentual de distribuição de lucro] para o mínimo de 25% de acordo com a legislação societária brasileira, as ações podem cair para abaixo dos R$ 20″, projetaram os analistas Vicente Falanga, do Bradesco BBI, e Ricardo França, da Ágora Investimentos, em nota.

Em novembro de 2022, a Petrobras teve um payout de 95%, referente à distribuição de R$ 43,7 bilhões em dividendos para os acionistas.

Analistas do BB Investimentos avaliaram, em relatório recente, que a estatal deveria reduzir o percentual de pagamento de dividendos para investir mais em energia limpa, a fim de seguir a tendência dos pares da Petrobras no mercado internacional.

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Nesta segunda-feira, a cotação de PETR4 no fechamento chegou a R$ 22,92. No caso de PETR3, a queda foi ainda maior, de 6,67%, com o papel a R$ 26,17.

BBI e Ágora reduziram recentemente a recomendação para a ação da estatal para “neutra”, com preço-alvo de R$ 26. Quando o governo Bolsonaro chegou a estimular apostas na privatização da companhia, durante a campanha eleitoral no ano passado, o papel chegou a superar a marca de R$ 37.

“A mensagem geral parece ser que a empresa aumentará seu capex [investimentos] e diminuirá os dividendos gradualmente ao longo do tempo. Um ponto-chave a ser observado no curto prazo é quanto a política de pagamento da Petrobras pode ser reduzida no curto prazo. Notavelmente, reduzir o payout da Petrobras reduziria o apelo de suas ações para investidores”, analisaram os especialistas.

Advogado e economista especializado em energia e na indústria de óleo e gás, Prates foi secretário de energia no Rio Grande do Norte, antes de ser eleito senador. Antes disso, foi consultor com 30 anos de experiência em óleo & gás.

Não foi a primeira autoridade do PT a dizer que a estatal distribui seus lucros aos acionistas de forma exagerada. A presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, se referiu, em novembro, como “sangria” o tamanho da remuneração dos investidores, referente aos lucros do terceiro trimestre.

“O Ebitda [geração de caixa operacional] futuro da empresa dependerá da política de preços de combustível, política de preços de gás, despesas de marketing, entre outros fatores. Por enquanto, vemos as ações PETR4 bem suportadas nos níveis de R$ 20-R$ 24″, apontou a nota conjunta de BBI e Ágora.

Segundo os analistas, investidores encontram melhores ativos no setor de óleo & gás no momento. “Diante de diversas incertezas em torno da tese de investimento da Petrobras, nossas ações favoritas no setor são PRIO3 (recomendação de compra, preço-alvo de R$ 51) e RRRP3 (compra, preço-alvo de R$ 103)”, dizem. As duas ações encerraram o ano passado a R$ 37,21 e R$ 37,75, respectivamente.

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A última vez que a ação preferencial da Petrobras ficou abaixo do patamar de R$ 20 foi no dia 12 de janeiro de 2021 (R$ 19,92), no período em que Jair Bolsonaro tentou evitar reajustar os preços dos combustíveis no curto prazo, colocando sob risco a política de paridade internacional dos valores cobrados das refinarias com as variações do barril de petróleo no mercado internacional.

O então CEO da estatal, Roberto Castello Branco, foi alvo de pressões mais intensas e acabaria demitido um mês mais tarde.

- Matéria atualizada às 18h25, com os dados do fechamento do pregão.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.