Opinión - Bloomberg

Gastos com presentes ficam menores em 2022 - mas isso não é tão ruim

Os americanos estão se tornando menos generosos durante as festas de fim de ano, mas isso não é necessariamente ruim

Compra de presentes vem caindo nos EUA
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Os americanos estão se tornando menos generosos durante as férias. Não quero parecer mesquinho, mas isso não é necessariamente uma coisa ruim.

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Em 1999, os americanos disseram que planejavam gastar US$ 1.300 (após reajuste às taxas de juros de 2020) em presentes. Em 2020, essa quantia era de cerca de US$ 800. Estes números são baseados nos dados da Gallup, mas os números das vendas no varejo mostram um padrão amplamente semelhante. De 1935 a 2000, a compra de presentes aumentou com a renda disponível. Desde 2000, a prática caiu mesmo à medida que a renda disponível nacional aumentou.

Na linguagem econômica, os presentes se tornaram um bem “inferior”: a quantidade cai à medida que a renda aumenta. Outros exemplos de bens inferiores incluem macarrão instantâneo ou feijão de baixa qualidade. Agora – falando estritamente como economista, é claro – talvez devêssemos acrescentar panetone à lista.

Estas mudanças sociais são ainda mais intrigantes com o aumento das compras online. É mais fácil comprar e enviar presentes às pessoas – pelo menos se esta for sua vontade.

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Uma hipótese é que os americanos estão simplesmente ficando menos generosos. No entanto, a caridade continua robusta, então é uma hipótese provavelmente incorreta.

Uma possibilidade alternativa é que os americanos são ricos demais para que os presentes façam sentido. É difícil dar presentes para todos. Você pode pensar que seus amigos já têm a maioria das coisas importantes de que precisam, então como você pode comprar algo significativo?

Esta lógica não se aplica a todos os americanos, mas talvez os que tenham rendimentos mais elevados sejam responsáveis por uma parte suficientemente grande do total de presentes que acabe abaixando os números.

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O cenário mais animador – novamente, falando estritamente como economista – é que os americanos estão percebendo que dar presentes muitas vezes não faz muito sentido. Se você me dá um presente e eu lhe dou um presente, nenhum de nós sabe com certeza o que o outro quer.

Seria melhor se cada um gastasse o dinheiro do presente em si mesmo. Sob esta hipótese, os americanos não estão se tornando menos generosos, eles estão se tornando mais racionais.

Outro motivo para dar presentes é estreitar laços familiares e sociais. Talvez sim, mas não é o único meio para fazer isso. Mais e melhor comunicação – que também se tornou mais barata e mais fácil nas últimas duas décadas, com e-mails, mensagens de texto e ligações – pode fazer com que a compra de presentes pareça menos essencial.

Há também a possibilidade de que nós, como sociedade, tenhamos perdido aquele “espírito natalino”, o que quer que isso signifique. Afinal, a secularização está crescendo e a frequência na igreja está diminuindo. O cristianismo é menos central para a vida americana. Se este acontecimento social é todo bom ou ruim, depende de seu ponto de vista.

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Em qualquer caso, você provavelmente não precisa temer que menos presentes prejudiquem a economia. Os americanos podem estar gastando menos em dezembro, mas isso lhes dá mais dinheiro para gastar o resto do ano.

Na situação atual, as economias avançadas normalmente exibem um ciclo comercial sazonal: há um boom à medida que se aproxima a época de compras de presentes, e uma queda no novo ano à medida que os consumidores contraem seus gastos. À medida que os gastos diminuem pelo ano, a atividade econômica também diminui.

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Não há nenhuma desvantagem óbvia para este desenvolvimento. Talvez se torne um pouco mais difícil conseguir um emprego temporário no varejo em dezembro, e um pouco mais fácil em janeiro. Em alguns casos, os americanos podem economizar mais em vez de espaçar seus gastos. Mas isso não prejudica a economia, e pode até ajudar muitas pessoas a lidar com sua aposentadoria.

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Em todo caso, para voltar ao assunto que comecei: não tenho certeza se o declínio nos gastos de fim de ano é bom para a sociedade, mas não me importo. Não preciso e nem quero muito em termos de presentes; prefiro passar o tempo com os amigos e fazer uma boa refeição – o que também é um presente, acredito.

Enquanto isso, estou tentando pensar em algumas boas ações e presentes que posso oferecer em outras oportunidades no ano que vem. Marcar o solstício de inverno (que ocorre no final de dezembro no hemisfério norte) pode ser um vestígio de uma sociedade ultrapassada e orientada para a agricultura, mas isso não significa que não devemos procurar novas fontes de significado e caridade em qualquer época.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. É coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives, and Winners Around the World.”

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