Bolsa Balenciaga a R$ 31 mil, casaco Prada a R$ 28 mil: a inflação do luxo em SP

Marcas globais reajustam preços em até 30% em ano marcado por inflação elevada; veja os preços de alguns dos itens mais procurados pelo público da Faria Lima

Corredor do Shopping Cidade Jardim, em São Paulo: marcas de luxo estão no alvo do público da Faria Lima
23 de Dezembro, 2022 | 06:18 PM

Bloomberg Línea — Os últimos dias foram marcados pelos anúncios de bônus e promoções em bancos de investimento da Faria Lima. É tempo também das compras de fim de ano para o Natal. Para bankers e outros profissionais, foi momento de perceber que a inflação, que foi tema dominante na definição de negócios e estratégias ao longo de 2022, impactou também os preços de marcas como Louis Vuitton, Balenciaga, Prada e Chanel.

A Bloomberg Línea visitou lojas das maiores marcas globais nos shoppings JK Iguatemi, do Grupo Iguatemi (IGTI11), e Cidade Jardim, que pertence e é administrado pela JHSF (JHSF3), ambos em São Paulo. E o Village Mall, no Rio de Janeiro, administrado pela Multiplan (MULT3).

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Funcionários relataram reajustes médios de até 30% em peças de vestuário e relógios. Eles pediram para não serem identificados, uma vez que não são autorizados a comentar essas informações.

Marcas internacionais abrem exceções aos hábitos financeiros dos brasileiros e permitem o parcelamento das compras, benefício cada vez mais adotado e demandado até pelos mais ricos.

No Shopping Cidade Jardim, que reúne lojas de marcas desde Valentino, Fendi e Dior até Carolina Herrera, Bulgari, Prada e Hermés, o movimento na sexta-feira (23) não remetia à proximidade com o Natal.

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Em conversas informais com consumidores e funcionários do Cidade Jardim, a inflação do mercado de luxo foi tema dominante. Nos últimos meses, escritórios da matriz das marcas reajustaram os preços entre 10% e 30%, dependendo da linha de produtos e considerando as variações do câmbio. Nos últimos meses, o dólar chegou a superar a barreira de R$ 5,40, após um período abaixo da marca de R$ 5,00.

Funcionários contaram que, em geral, o público de alta renda antecipou as compras nas semanas anteriores devido às viagens previstas para o fim de ano e as férias.

A loja da Louis Vuitton é a única do país com todas as linhas de produtos da grife francesa. Uma mala de bordo com monograma nas cores cinza e preto (modelo Eclipe), com 55 cm de altura e rodinhas, é a mais vendida na unidade. Custa R$ 17.100, após um reajuste nos últimos meses.

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Na Louis Vuitton, mala de bordo com monograma nas cores cinza e preto tem demanda maior do que a que tem o tradicional monograma marrom

Entre os acessórios mais procurados para o verão estão os óculos de sol da linha Millionaires, vendidos por R$ 4.750. Os homens também buscam um relógio da Louis Vuitton de R$ 53.000 com pulseira em couro de crocodilo. O modelo Tambour Street Diver é um dos favoritos de quem pratica mergulho.

Na Louis Vuitton, o produto mais caro da loja não é do vestuário nem acessório. É a poltrona exclusiva dos irmãos Campana, que custa R$ 445 mil, sem incluir o suporte (R$ 18 mil). Chamada de “cocoon”, a peça-casulo faz parte da coleção Louis Vuitton “Objets Nomads”.

Poltrona Cocoon, dos irmãos Campana, a peça mais cara da loja da Louis Vuitton no Cidade Jardim. A Objets Nomades é uma coleção de móveis e objetos inspirados em viagens, produzidos em parceria com designers de renome internacional

Uma das marcas preferidas de investidores é a alemã Montblanc, que tem uma de suas cinco lojas em São Paulo no Cidade Jardim. O Brasil é o único país onde a tradicional marca de relógios e canetas permite parcelar compras em até 10 vezes. A estrela da vitrine atende pelo nome de Peggy Guggenheim, uma caneta-tinteiro que custa R$ 75.900 e que está na wish list de muitos colecionadores.

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Trata-se de uma edição limitada de 888 peças, em homenagem à colecionadora de arte e mecenas norte-americana de mesmo nome (1898-1979). A caneta é revestida em ouro, com o topo em mármore carrara. A Montblanc também reajustou seus produtos neste ano, em percentuais não revelados.

Lojas das suíças Rolex e Franck Muller também são frequentadas pelo público da Faria Lima. Os preços estão em tendência de estabilização, conforme reportagem da Blomberg News. O pico foi atingido nos dois primeiros anos da pandemia, quando demanda por relógios de luxo disparou. Mesmo assim, a Rolex já reajustou seus preços duas vezes neste ano até novembro.

Executivos também aproveitam este período de fim de ano para adquirir novos ternos. A Bloomberg Línea constatou movimento maior do público masculino em lojas como a Alfaiataria Paramount.

Na Louis Vuitton, há ainda procura elevada por smoking preto, com blazer a R$ 19.800 e calça a R$ 6.750. Nas linhas mais casuais, sneakers são outro produto com demanda elevada.

Na Fendi, há modelos de tênis por R$ 7.800, abaixo dos R$ 11.200 cobrados na na Louis Vuitton.

JK Iguatemi: bolsas Balenciaga a R$ 31 mil

No JK Iguatemi, na zona sul de São Paulo, na noite da última quinta-feira (22), o movimento estava como nos tempos pré-pandemia. Havia filas no estacionamento com ou sem o serviço de valet.

Apesar do estacionamento lotado, com filas de modelos da Audi, da Mercedes e da Jaguar, as lojas de grifes globais em si tinham baixo movimento, às vezes com no máximo um cliente em atendimento.

A Bloomberg Línea conversou com funcionários de algumas lojas de luxo do shopping, que relataram que houve um fluxo maior de clientes nas compras neste último mês do ano na comparação com o mesmo período de 2021. Esses funcionários pediram para não serem identificados.

Na Gucci, bolsas de menor tamanho são vendidas por valores na faixa entre R$ 9.800 a R$ 18.800. Os preços de bolsas mais caras estão em torno de R$ 31 mil na Balenciaga - nos modelos Hourglass, estão por cerca de R$ 17.500. Na Prada, um casaco em cashgora tem preço de R$ 28.500.

Sapato Pumps Black da Chanel: modelo a R$ 10.180 em loja no shopping JK Iguatemi

Na Chanel, um dos modelos de sapatos mais procurados, o Pumps, estava na casa dos R$ 10.200, enquanto uma pulseira de pérolas estava mais acessível e custava R$ 4.400. Se quisesse gastar um pouco mais, a cliente poderia optar por uma mini bolsa preta no valor de R$ 19.600.

Na Coach, a média de preço dos produtos estava em torno de R$ 3.000, em valores muito semelhantes aos praticados no Natal de 2021, segundo relatos de vendedores que não quiseram se identificar.

Em lojas com preços mais acessíveis, caso da Tommy Hilfiger, a camisa polo que é carro-chefe da marca era vendida a R$ 400. Em relação ao Natal do ano passado, os preços subiram entre 10% e 15%.

Apesar de uma aparente falta de movimento nas lojas das marcas internacionais, havia espaços com frequência maior de clientes. Era o caso do estande do próprio shopping que oferecia um panetone da patisserie Pati Piva para quem apresentasse o equivalente a R$ 950 em notas fiscais de compras: havia fila de espera para retirar o brinde, que custa em torno de R$ 95 na loja da marca.

Village Mall, no Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, os relatos apontam um movimento de clientes no Natal deste ano menor do que no ano passado. Mas, conforme funcionários das marcas com os quais a Bloomberg Línea conversou, o nível de vendas está semelhante, porque os clientes que vão às lojas estão mais decididos.

No Village Mall, shopping de luxo na Barra da Tijuca, clientes vão em busca de lojas como Louis Vuitton, Gucci e Hugo Boss.

Na Carolina Herrera, as bolsas têm sido o item mais procurado dos últimos dias. ”No mercado de luxo, tudo é construído em cima de uma história. Aqui, tudo que vendemos tem a história da Carolina. Se é uma bolsa de R$ 10 mil, é com esse diferencial”, disse uma vendedora que pediu para não ser identificada.

- Com colaboração de Kariny Leal.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.

Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.