Ex-primeiro-ministro do Japão faleceu em decorrência dos ferimentos a bala
Tempo de leitura: 2 minutos

Bloomberg Opinion — O Japão parou com a notícia de que o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe faleceu após ter sido baleado em comício de campanha para as eleições da Câmara Alta que acontecem no domingo (10).

Um transeunte solitário atacou Abe, que foi declarado morto em um hospital em Nara por ferimentos no peito e no pescoço. Esta é uma tragédia que terá repercussões muito além da votação deste fim de semana.

É difícil pensar em um lugar mais inesperado para que isto aconteça: o Japão se orgulha de sua sociedade segura.

O impacto dos ataques de gás sarin no metrô de Tóquio pelo culto Aum Shinrikyo, quase 30 anos depois, ainda reverbera precisamente porque esses incidentes são tão raros – principalmente tiroteios. O assassinato não resolvido de Takayuki Ohigashi em 2013, o chefe de uma famosa rede de restaurantes baleado fora da sede de sua empresa, ainda permanece na memória. Os assassinatos políticos são ainda mais extraordinários: o tiroteio fatal do prefeito de Nagasaki em 2007, ligado à yakuza, pode ser o único corolário recente.

PUBLICIDADE

Ataques aleatórios de violência ocorrem. Nos últimos anos, esses eventos aumentaram, como o assassinato em massa de 26 pessoas em Osaka em dezembro de 2021, no qual o suspeito incendiou uma clínica de saúde mental, se matando no processo; ou os ataques com facas no metrô de Tóquio no último Halloween, que felizmente não resultaram em fatalidades.

LEIA +
Amazônia abriga um terço das cidades mais violentas do Brasil

Embora algumas armas estejam disponíveis para caçadores no Japão, qualquer compra requer verificações rigorosas. Fotos aparentemente do local do ocorrido mostram uma arma de fogo incomum, praticamente artesanal. No ano passado, um homem se matou em Ibaraki com uma arma que se acredita ter sido feita com uma impressora 3D. Mas devido ao histórico de segurança do Japão, a segurança em comícios políticos é fraca. Não é nada incomum ver um ex-primeiro-ministro ou outras autoridades fazendo campanha em uma esquina ou em frente a uma estação de trem, sem policiais ou seguranças à vista.

O assassinato de Abe terá um efeito intenso sobre o país. Embora estrangeiros possam lembrar dele como um ex-político, ele teve uma imensa influência em casa. Ele liderou a maior facção do Partido Liberal Democrático, e com apenas 67 anos, ainda estava no auge. Muitos especulavam que ele poderia ter concorrido novamente ao cargo de primeiro-ministro. Mesmo se não o fizesse, Abe certamente estava no lugar certo para ajudar a decidir o próximo primeiro-ministro.

PUBLICIDADE

Por enquanto, não sabemos muito sobre o suspeito e suas motivações. Abe atraiu protestos violentos no passado, incluindo uma autoimolação em 2014 contra a legislação de segurança que ele encabeçou. Mas esse tipo de ataque a uma figura nacional desse porte é totalmente sem precedentes na história moderna do país.

Uma coisa é certa: 8 de julho é um dia que vai assombrar o Japão para sempre.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Gearoid Reidy é editor sênior da Bloomberg News cobrindo o Japão. Já liderou a equipe de Breaking News no norte da Ásia e foi vice-chefe de gabinete em Tóquio.

PUBLICIDADE

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

PUBLICIDADE

Salto de 20% da noite para o dia: Argentina passa pelo pesadelo da hiperinflação

Por que pesquisas eleitorais têm resultados diferentes? Estudo inédito explica