Selic a 11,75%: como investir com juros e inflação altos e Bolsa volátil?

Parcela de renda fixa ganha mais espaço na carteira de investidores e pode trazer retornos atrativos com maior segurança

Com juros mais altos, aplicações conservadoras ficam ainda mais atrativas.
16 de Março, 2022 | 07:29 PM

Bloomberg Línea — Como esperado pelo mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa Selic em um ponto percentual, para 11,75% ao ano.

Em comunicado publicado após a decisão, o BC também deixou a porta aberta para mais um aumento, de mesma magnitude, na próxima reunião, em maio. “O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”, escreveu a autoridade monetária.

O movimento acontece em meio à alta da inflação, pressionada pelo aumento no preço do petróleo e de outras commodities. E, em um cenário que já se mostrava desafiador, marcado ainda por um ano eleitoral no Brasil, as tensões externas têm contribuído para um aumento de aversão ao risco, levando investidores a buscarem alternativas mais seguras na renda fixa.

Com juros mais altos, o “colchão” de emergência fica ainda mais atrativo, dominando, inclusive, as apostas de especialistas consultados pela Bloomberg Línea. Produtos atrelados a commodities e ativos reais, com ganhos acima da inflação, também estão entre as principais escolhas.

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Rodrigo Sgavioli, head de alocação da XP, sugere, por exemplo, um aumento da parcela alocada em reserva de emergência, como no Tesouro Selic, em especial para investidores mais conservadores, de forma a aproveitar o ambiente de Selic em dois dígitos.

Ele destaca, contudo, que as aplicações pós-fixadas ainda estão perdendo para a inflação, por isso a importância de uma carteira diversificada, que pode contar com exposição a títulos públicos indexado à inflação, como o Tesouro IPCA+, de prazo médio, como 2028 e 2030.

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Esses papéis também estão entre os ofertados aos clientes do escritório Guelt Investimentos, dado que pagam juro real entre 5% e 6% ao ano e, por não serem tão longos, são menos voláteis e sensíveis a questões como a situação fiscal do país, por exemplo.

Matheus Carezia, sócio da Guelt, cita ainda boas opções no mercado de emissões bancárias, caso dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). A preferência é por emissões de bancos médios e papéis de prazos mais curtos, até dois anos, que pagam taxas “atrativas”, de inflação mais 6%.

Vale lembrar que os CDBs contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para até R$ 250 mil por CPF e instituição financeira.

Crédito privado

Ainda na renda fixa, mas para investidores com um pouco mais de apetite ao risco, Carezia diz ver oportunidade em produtos pós-fixados e atrelados à inflação de crédito privado, como debêntures incentivadas e Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs), que pagam taxas na casa de IPCA mais 6% e são isentos de Imposto de Renda.

A avaliação é compartilhada por Luís Barone, sócio-diretor da Galapagos Wealth Management, que vê uma carteira pulverizada de crédito privado com concentração em ativos indexados à inflação como uma boa estratégia no momento. Esses ativos, contudo, costumam ter liquidez mais reduzida, com prazo de resgate entre cinco e seis anos, lembra.

Commodities e ativos reais

Com perspectivas cada vez mais elevadas para a inflação, pressionadas ainda pelas commodities, em alta no mercado internacional, investidores podem buscar produtos que acompanhem o aumento dos preços.

Segundo Barone, da Galapagos WM, ações ligadas ao setor de commodities e a terras podem ser estratégias interessantes para se ter no portfólio. Ele cita como exemplo a empresa SLC Agrícola (SLCE3), que compra fazendas e arrenda essas terras de forma a entregar rentabilidade aos clientes.

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Neste cenário de destaque para o agronegócio, os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) também podem ser uma boa escolha, diz, principalmente pelo fato de contarem com a isenção do Imposto de Renda para a pessoa física.

Sgavioli, da XP, conta que há três meses a casa passou a colocar nas carteiras de investimentos fundos indexados a commodities e a ativos reais, de forma a proteger o portfólio e surfar uma inflação global mais alta.

O alocador diz ver um ciclo estendido de alta para o mercado de commodities, mas frisa que este não está isento de volatilidade, muito pelo contrário. “É um ciclo que deve se estender, por conta do conflito geopolítico, mas é preciso ter parcimônia, ainda mais porque já andou bastante”, diz.

Na XP, a posição acontece por meio de fundos indexados, caso do Trend Commodities, que faz paridade de risco e investe nos mercados de metais, criptomoedas, commodities energéticas e agrícolas, além dos REITs, os fundos imobiliários americanos.

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Além disso, para o investidor com horizonte mínimo de três a cinco anos, o alocador diz ver fundos imobiliários atrativos na Bolsa. Ainda que a distribuição de rendimentos tenha sido impactada no curto prazo, quando visando alocação de patrimônio, pensando em uma valorização do imóvel pela inflação, a estratégia pode fazer sentido, diz. “Para quem tiver paciência, tem muita oportunidade em FII de tijolo barato na Bolsa.”

Momento de cautela

O ambiente volátil e ainda muito incerto exige cautela por parte do investidor, de forma a evitar tomar decisões baseadas em pânico ou euforia. “Além do possível arrependimento, o investidor vai pagar um custo de saída no investimento e de entrada em outro. O giro de ativos cobra seu preço e pode corroer o retorno da carteira”, diz o alocador da XP.

Sgavioli defende que em períodos de aversão ao risco, abrir mão do ganho de capital no curto prazo, optando por carregar posições que pagam bem ao longo do tempo tende a se mostrar uma estratégia ganhadora.

Além disso, o patamar de juros permite hoje que o investidor fique mais tranquilo, avalia. Se a pessoa está receosa, pode manter o dinheiro em caixa até tomar a decisão de onde alocar; se é um investidor mais agressivo, pode montar caixa e, se o mercado cair demais, fazer posições maiores em classes de ativos que sofreram mais do que nos parece normal, diz.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.