Bloomberg — O Banco Central Europeu deve decidir como pode proteger a economia do continente das consequências da guerra na Ucrânia enquanto enfrenta um choque de inflação sem precedentes que não mostra sinais de arrefecimento.
Diante desse duplo desafio, espera-se que as autoridades que se reúnem nesta semana suspendam temporariamente a tarefa de traçar um caminho para as medidas extraordinárias de estímulo que incluem trilhões de euros em compras de ativos e taxas de juros abaixo de zero.
Fazer isso marcaria outra mudança abrupta na posição do BCE depois que a presidente, Christine Lagarde, no mês passado se tornou muito mais agressiva diante da inflação que é quase três vezes a meta de 2% do BCE.
O perigo agora é que a invasão da Rússia e as sanções globais em resposta reduzam a recuperação da Europa dos efeitos da pandemia, aumentando o espectro da “estagflação”. Economistas duvidam que novas projeções econômicas trimestrais a serem apresentadas nesta semana fornecerão clareza suficiente para que o BCE possa agir, com junho sendo um momento mais provável para decisões importantes que podem incluir um compromisso de encerrar a compra de títulos três meses depois.
A coletiva de imprensa de Lagarde foi agendada para as 14h30, em Frankfurt, 45 minutos após o anúncio de política do BCE.
O que diz a Bloomberg Economics...
“A guerra na Ucrânia está se movendo rapidamente – muito rápido para o BCE ter uma noção clara de como a política monetária deve ser alterada para responder aos acontecimento em sua próxima reunião em 10 de março. A Bloomberg Economics espera que o Conselho do BCE mantenha o caminho que estabeleceu anteriormente – pelo menos por enquanto.”
--Maeva Cousin, economista sênior da área do euro.
A inflação atingiu 5,8% no mês passado - a mais rápida desde a introdução do euro. É provável que aumente ainda mais, com as penalidades destinadas a restringir a campanha militar da Rússia já incluindo uma proibição dos Estados Unidos às suas importações de petróleo e o Kremlin ameaçando cortar as entregas de gás natural para a Europa. Os preços de energia já elevados subiram ainda mais.
É por isso que as autoridades do BCE concordam amplamente que a guerra atrasará, em vez de inviabilizar, a normalização da política monetária – principalmente porque suas medidas de inflação se tornam mais difíceis de interpretar.
“Flexibilidade” era a palavra de ordem para os formuladores de políticas, mesmo antes do ataque da Rússia ao seu vizinho adicionar uma perspectiva extremamente incerta. Eles podem tentar expandir seu espaço de manobra nesta semana.
A orientação atual do BCE prevê a cessação das compras de ativos “pouco antes” do início dos aumentos das taxas. Embora essa sequência não esteja em dúvida, a ideia de cair “em breve” para permitir uma lacuna maior entre as duas etapas está ganhando força.
“Precisamos manter a opcionalidade sobre o que fazemos e quando – especialmente nas atuais circuntâncias”, disse Gabriel Makhlouf, da Irlanda, à Bloomberg no mês passado. François Villeroy de Galhau, da França, e Peter Kazimir, da Eslováquia, apoiaram sugestões semelhantes.
A mudança, se acontecer, pode atrasar as apostas dos investidores sobre quando as taxas subirão. Apesar dos EUA e o Reino Unido já estarem em modo de arrocho, os mercados monetários estão atualmente precificando um aumento de um ponto no primeiro trimestre pelo BCE em dezembro por causa da guerra na fronteira da área do euro.
Em suas declarações públicas finais antes da reunião desta semana, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, disse que o banco central “está pronto para tomar qualquer ação necessária para cumprir suas responsabilidades de garantir a estabilidade de preços e a estabilidade financeira”.
Ele também deu a entender que o apoio pode ir além do conjunto de ferramentas atuais, dizendo que o Conselho do BCE também “considerará, conforme necessário, novos instrumentos de política na busca de seu objetivo de estabilidade de preços”.
– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.
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