Comprador de soja brasileira mira EUA após quebra de safra

Expectativa de safra recorde no Brasil azedou e agora o cenário aponta para um volume muito menor

Impacto do maior custo da soja deve se espalhar pelas cadeias de alimentos em um momento em que os preços globais estão perto do recorde
Por Tarso Veloso
04 de Fevereiro, 2022 | 01:43 PM

Bloomberg — Abalados por uma safra menor e mais lenta do que o esperado no Brasil, compradores de soja estão buscando produto nos EUA, elevando os preços e ameaçando agravar a inflação.

A expectativa de safra recorde no Brasil azedou e agora o cenário aponta para um volume muito menor, com menor produtividade e atrasos na colheita devido a condições meteorológicas adversas. A incerteza direcionou os compradores para o mercado dos EUA. Mais de 110 navios foram afretados em caráter preliminar para carregamento de oleaginosas em portos no noroeste do Pacífico, de acordo com Bill Tierney, economista-chefe da AgResource em Chicago.

A pressa por parte de negociadores do mercado físico e de agentes financeiros elevou os contratos futuros em Chicago em 30% desde o início de novembro para o maior nível em oito meses. A diferença entre os contratos de julho e novembro disparou e esse prêmio ficou oito vezes maior. A demanda por produto para entrega imediata elevou os preços à vista nos silos no Meio-Oeste dos EUA, que saem a prêmios sobre os contratos futuros. As vendas para exportação saltaram para quase 2 milhões de toneladas na semana passada, superando a maior das estimativas dos analistas.

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O impacto do maior custo da soja deve se espalhar pelas cadeias de alimentos em um momento em que os preços globais estão perto do recorde. A alta da cotação da soja encarece a ração que alimenta rebanhos bovinos, suínos e aves. A situação também ameaça elevar o custo do óleo de cozinha, que já é puxado pelo patamar recorde de preços do óleo de palma e de canola.

“A quebra da safra na América do Sul joga uma responsabilidade grande para os EUA, que terá de aumentar área e produzir bem. Senão, a oferta global vai cair mais e os preços ficarão firmes por mais tempo”, afirmou Etore Baroni, analista da StoneX no Brasil, durante um webinar na quinta-feira.

Essa não era a situação esperada. Empresas chinesas e outros compradores costumam buscar produto na América do Sul no primeiro trimestre do ano, já que a colheita normalmente começa no início de janeiro e os novos carregamentos chegam aos portos semanas depois. Há poucos meses, tudo indicava que a safra seria abundante — cerca de 145 milhões de toneladas no Brasil, 50 milhões na Argentina e 10 milhões no Paraguai.

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O plantio ocorreu dentro da janela ideal. Mas depois o fenômeno La Niña trouxe temperaturas elevadas e seca para importantes regiões produtoras no Sul do Brasil e na Argentina, prejudicando as lavouras. A previsão é de mais seca adiante, segundo a firma de meteorologia Maxar.

Brasil, Argentina e Paraguai exportarão aproximadamente 20 milhões de toneladas a menos do que o projetado em dezembro, segundo analistas. Margens de processamento robustas manterão a demanda por soja aquecida no Brasil, com as indústrias locais competindo com compradores estrangeiros, segundo Baroni.

A urgência da demanda se reflete no avanço dos prêmios e preços físicos em grandes mercados, como Santos e Nova Orleans. Sojicultores do Brasil estão recebendo ofertas de compra a preço recorde e os navios estão fazendo fila nos principais terminais de exportação, enquanto negociantes disputam produto para carregar navios com destino à China e outros mercados.

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