Apostas em emergentes dependem de achatamento de curva nos EUA

Temores de que o Fed implemente aumentos de juros mais rápidos capazes de desacelerar a economia já achataram a curva de juros

Investidores estão apostando que os rendimentos de curto prazo ficarão mais próximos das taxas de papéis de prazo mais longo antes que o mercado se estabilize
Por Netty Idayu Ismail
04 de Fevereiro, 2022 | 01:28 PM

Bloomberg — Investidores de mercados emergentes estão à espera de um sinal do mercado de títulos dos Estados Unidos antes de apostar pesado em moedas de países em desenvolvimento: um maior achatamento da curva de juros.

Temores de que o banco central americano, o Federal Reserve, implemente aumentos de juros mais rápidos capazes de desacelerar a economia já achataram a curva de juros dos EUA, com o rendimento dos títulos de prazo mais curto subindo de forma mais acelerada. Fidelity International e Nordea Investment estão aguardando a curva ficar quase completamente plana antes de reforçar apostas em moedas de nações emergentes.

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A diferença entre os rendimentos dos papéis com prazos de 5 e 30 anos já diminuiu para menos de 0,50 ponto percentual, o menor nível em três anos. Investidores estão apostando que os rendimentos de curto prazo ficarão mais próximos das taxas de papéis de prazo mais longo antes que o mercado se estabilize. Inversões da curva são historicamente interpretadas como alerta de recessão.

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“Para desencadear uma nova onda de otimismo em relação às taxas de câmbio dos emergentes, precisamos de sinais claros de que o Fed administrará um pouso suave com sucesso”, disse Witold Bahrke, estrategista sênior de macroeconomia da Nordea Investment em Copenhague. “Mas como mostra o implacável achatamento da curva de juros nos EUA, o risco de acontecer o oposto ainda está aumentando.”

Moedas de mercados emergentes definham em meio ao achatamento da curva de rendimento dos EUAdfd

A curva de juros dos EUA provavelmente chegará ao seu menor nível “perto do momento de maior agressividade do Fed”, disse Bahrke. Depois disso, provavelmente haverá uma inclinação da curva com a valorização dos títulos do Tesouro, principalmente nos de prazo mais curto, que registrarão maior queda de rendimentos do que os papéis na ponta longa da curva, segundo o estrategista.

Por enquanto, Bahrke está restaurando posições vendidas em moedas de emergentes após realizar lucro em dezembro graças a apostas de depreciação cambial. Ele está pessimista em relação ao yuan, devido à postura flexível do banco central da China enquanto outros países elevam juros.

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Outros riscos confrontam os investidores, incluindo temores de invasão da Ucrânia pela Rússia, desaceleração do crescimento global e pressões inflacionárias persistentes. O rublo russo é uma das moedas de pior desempenho neste ano.

Ainda assim, as moedas de nações emergentes superam moedas de mercados desenvolvidos neste ano. O real, o florim húngaro e o peso chileno subiram mais de 4% em relação ao dólar, com a retaguarda de bancos centrais que inauguraram o ciclo de elevação de juros em 2021 e formaram uma proteção contra as altas de juros nos EUA.

“Este não é um mundo de total aversão a risco”, disse Emily Weis, estrategista de macroeconomia da State Street em Boston. “As moedas emergentes vêm sendo rejeitadas há algum tempo por causa da movimentação dos preços, sugerindo que os investidores podem não estar tão preocupados com o risco dos emergentes na comparação com outras áreas, como as ações de tecnologia.”

O posicionamento leve em ativos emergentes após a última onda de vendas do ano passado abre uma “pequena janela de oportunidade” para moedas de países em desenvolvimento, afirmou Ed Al Hussainy, estrategista sênior de juros da Columbia Threadneedle Investments em Nova York.

“O maior risco é que o Fed acelere o ciclo de aperto e ocorra uma deterioração mais ampla nos ativos de risco globalmente”, disse ele. “As moedas emergentes são muito sensíveis a saídas de liquidez motivadas por aversão a risco e haveria significativo espaço para queda nesse cenário.”

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