São Paulo — A WDC Networks, fornecedora de tecnologia para infraestrutura de fibra óptica de telecom (FTTH), pretende realizar aquisições de pequeno porte em 2022 após ter captado R$ 450 milhões em uma oferta inicial de ações (IPO) na B3, há 3 meses. Outro foco é investir no potencial de crescimento do mercado de energia solar, no atual contexto global de transição energética em que consumidores, seja residenciais ou corporativos, buscam fontes limpas.
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Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da WDC Networks, Vanderlei Rigatieri, diz que a receita com o mercado de energia solar fotovoltaica deve, no futuro, responder por um terço da receita da companhia. No 2º trimestre, a fatia desse segmento era próxima de 21%. Em 2020, a companhia inaugurou uma fábrica em Extrema, interior de Minas Gerais, marcando a entrada da WDC nesse negócio, no modelo B2B, sem venda direta no varejo.
“Estamos importando componentes. Funcionamos como uma montadora de veículos. Montamos os geradores e vendemos para os integradores. Nossa marca comercial é a WDC Solar”, afirma o executivo, acrescentando que esse segmento experimenta “um tremendo crescimento de vendas” no país, puxado tanto por clientes residenciais como corporativos (a participação na receita é quase meia a meia para cada tipo de cliente).
O CEO destaca ainda que a proposta de regulamentação desse segmento melhorou no Brasil após a aprovação pela Câmara dos Deputados em agosto da PEC 5829, projeto que institui o marco legal da microgeração e minigeração distribuída de energia elétrica. “A legislação foi um gol de placar. A PEC 5829 foi excelente para o mercado solar, pois estabeleceu uma regra para quem está gerando energia, para que se tenha claro quanto que vai ter de retorno da concessionária e quanto vai pagar pelo uso da rede”, diz.
Negociações
Além de vender equipamentos de fibra óptica para pequenos provedores de internet nas diversas regiões do Brasil e apostar na energia solar, a companhia também atua no mercado de cibersegurança. “Importamos câmeras de vigilância e produzimos telefones IP”, conta o CEO da WDC.
Questionado sobre a destinação dos recursos levantados no IPO, concluído no dia 26 de julho com a estreia da ação (ticker é LVTC3, referente à Livetech da Bahia, razão social inicial), Rigatieri revela ter iniciado negociações com algumas empresas que estão no seu radar.
“Parte menor dessa captação vai ser usada ao longo do próximo ano para algumas aquisições estratégicas. Começamos a conversar com possíveis candidatos, com empresas em que temos interesse, pois possuem expertise, algum conhecimento que poderia ser útil ao nosso modelo de negócios. Serão operações de M&A pequenas. Não queremos fazer aquisição de empresa que seja transformacional, para fazer mega investimento”, afirma o CEO.
Rede 5G
Sobre o mercado de telecom, o executivo comenta que o leilão do 5G, marcado para o próximo dia 4 de novembro, vai resultar na construção de uma rede móvel sem fio muito importante para o Brasil, pois deve melhorar a qualidade de acesso do celular, além de diminuir a latência (atraso) da rede na tranferências de dados. A WDC desenvolve mini data centers, que vão permitir a redução da latência, para fornecedores para os provedores e participar das novas redes de 5G no futuro.
“Existe uma expectativa muito grande sobre quando grande parte dessas redes vão ficar prontas. As cenas do próximos capítulos já estão escritas e planejadas, e a WDC acredita que grande parte da expansão do futuro está em cima da fibra óptica. O 5G vai te dar mais banda larga, você vai acessar mais coisas e vai diminuir o delay, a latência”, afirma Rigatieri.
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Ele lembra que as regiões brasileiras, do Norte ao Sul, ainda apresentam vazios na cobertura de internet, principalmente em regiões mais distantes dos centros urbanos, o que abriria uma janela de oportunidades de negócios, como o aluguel de equipamentos para a construção de novas redes, principal atividade da companhia, e expansão de receitas para os provedores e operadoras regionais.
“Existe ainda um grande déficit da rede de fibra óptica no país. Converso com os clientes, e os planos desses provedores é cabear o Brasil, vamos passar fibra óptica onde puder, para atender domícilios e empresas. As grandes operadoras estão falando a mesma coisa”.
Fundos
O executivo acredita que novos provedores regionais de internet devem abrir capital na Bolsa. “Tenho impressão que hoje esses três provedores que foram ao mercado (Desktop, Unifique e Brisanet) abriram um caminho para os demais. Você vai ter vários provedores que vão seguir esse caminho interessante de poder se capitalizar com equity, levantar capital no mercado para crescer”.
Em 2017, o momento de virada da companhia ocorreu com o aporte de R$ 47 milhões feito pela 2bCapital, gestora de private equity controlada pelo Bradesco, hoje dona de 30,1% da WDC. Rigatieri tem outros 35,7% da companhia, enquanto e seu sócio, Sergio Day de Toledo, tem outros 3,9%. O free float (ações em circulação no mercado) é de 30,2%.
“O 2bCapital achou nosso modelo de negócios atrativo: tínhamos um histórico de crescimento alto, com uma tecnologia em franca expansão no Brasil e no mundo, e receita recorrente do aluguel de equipamentos e redes para os pequenos provedores. Eles decidiram investir na banda larga de internet fixa, nosso carro chefe, e investiram na gente”, diz o CEO da WDC.
Rigatieri cita ainda outros fundos interessados no segmento, como o Vinci Partners que investiu na Vero, e a HIG Capital que apostou na Desktop, que abriu capital na B3 em julho. ”A chegada do 2B Capital apostando muito no crescimento da empresa, no nosso projeto, dá credibilidade melhor ao nosso negócio, no plano que a gente desenhou. Esse fundo é um fundo de private equity, administado pelo Bradesco, que tem fundos pensão como cotidas, como a Previ, Funcef, Valia e o próprio Bradesco”, afirma Rigatieri.
Outro investidor importante desse mercado é a gestora EbCapital, que tem hoje o ex-ministro Pedro Parente (ex-BRF) como um dos administradores e fundou a marca EbFibra (alterada para Alohha Fibra, no começo do mês), comprando pequenos provedores, como a Sumitcity, no interior do Rio de Janeiro, cliente da WDC. Somadas, as sete provedoras de banda larga contempladas na holding - Sumicity (RJ), Mob Telecom (CE), Vip Telecom (SP), Wirelink (CE), Univox (MG), Click Telecom (MG) e Ligue Telecom (PR) - somam 104 mil km de fibra óptica e mais de 850 mil assinantes.
China
Rigatieri lembra que os pequenos provedores de fibra óptica cresceram silenciosamente, no começo da década passada, sem despertar muita atenção do mercado de capitias, após a recessão americana de 2008/2009, em meio à crise político-econômica que resultou no impeachemnt da presidente Dilma Rousseff em 2016.
“Em 2013, apostei no modelo TAS (Tecnology as a Service), comecei a alugar equipamentos de rede wireless, a vender esses produtos aos pequenos provedores, após conhecê-los em uma expedição de caminhonete em 2011, quando andei mais de 50 mil km pelo Brasil, oito meses de estrada. Esses caras eram pequenos, não tinham capital para comprar os produtos, aí decidimos alugar, mas depois eles foram crescendo ao longo do tempo”, recorda.
O CEO conta que, em 2012, a companhia montou uma fábrica no polo de informática de Ilhéus (BA) para produzir equipamentos de fibra óptica, antes importados da China. “Em 2013, a gente era chamado de a Casas Bahia da telecom, pois parcelava em 60 meses, em suaves prestações, para que os pequenos provedores conseguissem alugar da gente os equipamentos para construir suas redes e recebessem treinamento”, compara, em referência à rede varejista que ficou famosa por longos prazos de parcelamentos.
Ele atribui o atual estágio dos provedores regionais - a Brisanet, sediada em Pereiro, interior do Ceará, por exemplo, vai participar do leilão do 5G em novembro - à expedição de caminhonete que fez pelo interior do país. “Identifiquei esses empreendedores na expedição que fiz. Fui visitar caras na Amazônia, no meio do interiorzação do Brasil, no Centro-Oeste. Quando vi essa oportunidade, fomos atrás de fabricantes internacionais para trazer esse produto para o Brasil. Fechei uma parceria com a chinesa FiberHome. Além de importar o produto, percebemos que, para ser competitivo no Brasil, para baixar o preço, deveríamos fabricar aqui. Hoje temos 2.000 clientes que são provedores”.
Ele aponta que atualmente problemas mundiais de logística estão afetando, neste ano, a rotina da companhia, como a escassez de semicondutores e gargalos no transporte marítimo. “Temos dois grandes desafios em termos de logística: os atrasos nos pedidos de entregas por falta de contêineres. Os navios estão sem espaço para atracar. Todo tipo de equipamento eletrônico que a gente importa está com atraso na entrega. O outro é o custo do transporte, do frete marítimo, que tem crescido muito. Um contêiner da China para Salvador custa US$ 10.000. Antes da pandemia, era US$ 2.000″.
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