São Paulo — A Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) declarou “complexa” a proposta de aquisição do controle da Suez pela Veolia, duas das maiores empresas de água e saneamento do mundo, sediadas na França. A autoridade da concorrência decidiu efetuar novas diligências para aprofundar a análise do caso e deu um prazo de 15 para as companhias apresentarem as eficiências econômicas geradas pela operação, a contar da data de publicação do despacho no Diário Oficial da União, ocorrida ontem (7).
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“Foram constatados elevados níveis de concentração detidos pelas partes nos seguintes mercados: (a) serviços de engenharia, compras e construção (EPC) para plantas industriais onshore de tratamento de água (Brasil); e (b) serviços de engenharia, compras e construção (EPC) para plataformas de tratamento de água offshore (Brasil e mundo)”, diz a nota técnica do Cade.
O relatório acrescenta que os dois grupos já constituem “players de grande relevância, de modo que a presente operação ensejaria a criação de uma empresa com significativo market share conjunto” e que “há dúvidas sobre a existência de rivalidade efetiva e sobre a capacidade de contestação do poder de mercado” das empresas por parte dos rivais já estabelecidos.
Nesse aspecto, o Cade destacou o segmento de EPC para plantas industriais onshore de tratamento de água. “Constatou-se que grande parte dos rivais das incumbentes constituem players de menor expressividade”. A autoridade da concorrência também viu que a união entre Veolia e Suez pode liminar o ingresso de novos players no mercado, já que as duas são “detentoras de condições técnicas e financeiras e uma estrutura geral superiores às dos demais competidores do mercado”.
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No Brasil, o Grupo Veolia atua nas áreas de serviços ambientais (tais como serviços de tratamento de água e esgoto), tratamento e descarte de resíduos. Já a Suez opera principalmente no fornecimento de soluções para gestão de recursos hídricos, atendendo clientes que necessitam de soluções de gerenciamento de recursos hídricos, gerenciamento, tratamento e recuperação de águas residuais, produtos químicos e equipamentos, entre outras atuações.
Entre as principais justificativas econômicas apresentadas pela Veolia ao Cade para a realização da aquisição, estão fortalecer globalmente as atividades do grupo em serviços ambientais, permitir à companhia enfrentar a concorrência crescente dos players asiáticos, criar valor para seus acionistas e sinergias operacionais e de compras, além de acelerar o desenvolvimento de soluções tecnológicas.
Suzano
A Suzano, empresa dos setores de papel e celulose, participa, desde junho, como terceiro interessado no Ato de concentração nº 08700.002455/2021-17, na qualidade de “cliente recorrente de produtos e serviços afetados pela operação”, contribuindo com o trabalho de avaliação do Cade. A companhia destacou pontos de preocupação com os impactos da união entre os dois grupos franceses.
“Os processos licitatórios públicos ou privados que exigem grande especialidade técnica, tecnológica e capacidade financeira - a exemplo dos processos para contratação de serviços de EPC para plantas industriais onshore de tratamento de água - resultam em número pequeno e constante de players aptos a concorrem nos certames. Tal situação pode eventualmente gerar estruturas e incentivos para a coordenação expressa ou tácita entre os agentes econômicos”, cita nota técnica do Cade, no último dia 11 de junho.
A Suzano é cliente de serviços de EPC para plantas industriais onshore de tratamento de água, serviços de operação e manutenção (O&M) para plantas de tratamento de águas residuais, soluções móveis de tratamento de água e de produtos químicos para tratamento de água.
Concessões municipais
Em abril, quando foi anunciada a aquisição global da Suez, o presidente da Veolia no Brasil, Pedro Prádanos Zarzosa, disse que o grupo francês se preparava para voltar a investir no mercado de água e esgoto no Brasil, tendo no radar as concessões estruturadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e contratos municipais, segundo informou em entrevista ao jornal Valor, publicada no dia 15 de abril. O interesse da Veolia em concessões no Brasil se deve à aprovação do novo marco legal do setor, embora Zarzosa ponderasse que ainda havia incertezas regulatórias.
“Estamos ansiosos [com união com a Suez]. No Brasil, são companhias complementares Na área de serviços, a Veolia atua principalmente em resíduos, e a Suez, em água. Na área de obras, as empresas atuam em diferentes áreas”, disse Zarzosa.
A companhia possui seis aterros sanitários, sendo um deles o Centro de Disposição de Resíduos (CDR) Pedreira, que atende à capital de São Paulo, estado onde também tem unidades em Iperó e Araçariguama. Há também outros três aterros em Santa Catarina (Biguaçu, na Grande Florianópolis, Blumenau e Brusque). Na região Sul, a Veolia também chegou a ser sócia minoritária na Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), mas deixou o negócio em meio a uma disputa com o governo paranaense.
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