Bolha das ações de tech estourou no Brasil, diz gestor da Trígono

Em entrevista à Bloomberg Línea, sócio cofundador e gestor da Trígono Capital, Werner Roger, revela bastidores da onda de IPOs

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04 de Outubro, 2021 | 03:00 PM

São Paulo — As ações novatas do setor de tecnologia ocupam sete das 10 posições das maiores desvalorizações acumuladas até setembro, desde a conclusão de suas ofertas iniciais (IPOs) neste ano, segundo um levantamento realizado pela Bloomberg Línea com as 45 empresas de diferentes setores que abriram capital na B3 neste ano. Para o sócio cofundador e gestor da Trígono Capital, Werner Roger, o encolhimento do valor de mercado dessas companhias não chega a ser uma surpresa, pois ele sempre descreveu a precificação exagerada do mercado para as small caps estreantes como uma “bolha”, que agora estourou.


“Elas [ações novatas] vieram com preços absurdos, sem nenhuma relação de valor intrínseco, e agora elas estão se ajustando”, diz o gestor da Trígono Capital, gestora referência em small caps, em entrevista à Bloomberg Línea.

Para Roger, que não compra ações lançadas em IPOs e expressa forte crítica à falta de transparência dessas operações, o movimento de correção negativa nos preços dos papéis de tecnologia só está no início e tende ainda a aprofundar as desvalorizações.

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Questionado sobre o papel das auditorias que assinam os balanços das companhias estreantes, cujos dados presentes nos prospectos de IPOs servem como guia para os potenciais investidores tomarem suas decisões se reservam ou não aqueles papéis ofertados, o gestor da Trígona aponta a responsabilidade para os bancos envolvidos na coordenação das ofertas iniciais.

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“As auditorias não têm nada a ver com isso [forte desvalorização dos papéis]. Quem tem a ver com isso são os bancos de investimento, que são vendedores. Há acordos de quanto maior o preço, maior a comissão deles”, afirma Roger.

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Com passagem em bancos estrangeiros como o Citibank e Chase Manhattan, Roger afirmou ainda que os bancos estimulam a onda de IPOs por meio dos seus analistas.

“Os analistas de bancos são mestres em fazer boas narrativas. O mercado, como uma criança ingênua, adora uma boa história. Os ingênuos acabam embarcando nessa história da carochinha. Isso não é de hoje, é de sempre. Não é só uma história brasileira, mas uma história mundial”.


Ele também alerta para os riscos de conflitos de interesses entre bancos e emissores de novas ações nos IPOs. O banco coordena a operação, e esse dinheiro será usado para pagar dívida com o próprio banco”, exemplifica.

O gestor conta ainda que os bancos acabam provocando um tombo maior das cotações do papel devido às prioridades de suas mesas de operações na gestão de carteiras de investimentos. Se as ações [das empresas que concluíram o IPO] estão caindo, os bancos têm de vender as ações, diz Roger, que defende maior transparência nessas operações.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.