Tesla perde caso de fraude na China

Veredito pode ser considerado um marco na proteção dos direitos do consumidor contra grandes empresas

Embora a Tesla tenha conquistado legiões de fãs leais em todo o mundo, na China ela possui uma série de clientes insatisfeitos, que usaram campanhas de mídia social para angariar apoio
Por Bloomberg News
30 de Setembro, 2021 | 05:19 PM

Bloomberg — Um motorista chinês processou a Tesla por fraude sobre a compra de um modelo S usado, e foi bem sucedido em seu pleito. Este foi mais um de uma série de contratempos que o pioneiro do carro elétrico, Elon Musk, está enfrentando em um de seus mercados mais importantes.

Um tribunal de Pequim concluiu que a Tesla distorceu a condição do carro comprado por Han Chao, por 379.700 yuans (US$ 58.700), na plataforma oficial de carros usados da montadora, de acordo com uma cópia do veredito que Han postou em sua conta do Weibo. Descobriu-se que o carro passou por reparos significativos após um acidente. O tribunal rejeitou a defesa da Tesla, que alegava que os sinais de soldagem não indicavam nenhuma “mudança estrutural”.

A Tesla foi condenada a reembolsar o custo do carro e indenizar o triplo do preço de compra, chegando a uma compensação final de mais de 1,5 milhão de yuans, segundo a cópia da sentença publicada por Han. É a primeira vez que a Tesla, com sede em Palo Alto, na Califórnia, recebe uma penalidade tão alta na China, informou a mídia local Caijing.

Embora a Tesla tenha conquistado legiões de fãs leais em todo o mundo, na China ela possui uma série de clientes insatisfeitos, que usaram campanhas de mídia social para angariar apoio. No caso mais conhecido, uma cliente subiu em um dos carros da Tesla, que estava em exposição no salão do automóvel de Xangai, em abril, em um protesto que rapidamente viralizou.

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A publicidade ruim, junto com o aumento do escrutínio regulatório de questões de segurança e atendimento ao cliente, encerraram a lua de mel da Tesla na China, incluindo ser a única montadora estrangeira autorizada a ter propriedade plena de sua operação local. A China, o maior mercado de veículos elétricos do mundo, é essencial para as ambições globais de Musk e peça fundamental para que a Tesla alcance uma lucratividade sustentável.

“O veredito pode ser considerado um marco na proteção dos direitos do consumidor contra grandes empresas”, disse Zhang Xiaoling, sócia do escritório de advocacia Haodong, com sede em Pequim. “O caso pode aumentar a confiança dos consumidores que estejam passando por uma situação semelhante e isso poderá atrair mais clientes”, disse ela. Zhang é especialista em direitos do consumidor e está abrindo outro processo contra a Tencent Holdings, que será julgado em novembro.

Han tem sido um pedra no sapato para a Tesla, usando sua conta do Weibo como espaço para divulgar o seu caso e dar visibilidade às queixas de outras pessoas contra o fabricante de carros elétricos, incluindo um proprietário do Modelo X, que também entrou com uma ação - e ganhou - contra a empresa por fraude, quando se deu conta de que o motor elétrico do seu carro não correspondia ao registro do veículo. Ele ganhou um reembolso no valor total e danos adicionais iguais ao preço de compra.

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Na verdade, a disputa entre Han e Tesla se transformou num “olho por olho” jurídico. A Tesla está processando Han por danificar carros de cortesia e por calúnia, depois que ele chamou a montadora de “empresa hooligan” e a acusou de mentir para o tribunal, em sua conta no Weibo. A montadora também disse que vai recorrer da decisão de fraude.

“Esperamos e acreditamos que os tribunais finalmente julguem com base na lei”, postou a assessoria jurídica da Tesla, na conta oficial da empresa, em resposta a uma postagem no Weibo, feita por um veículo de comunicação local. O escritório da Tesla na China não forneceu nenhum comentário além dos posts.

Em troca, Han está processando a Tesla por difamação, alegando que a empresa o retratou como o mentor do protesto do Salão do Automóvel de Xangai, atuando nos bastidores. Embora tenha tido contato com a mulher que protagonizou o ocorrido, ele diz que não teve nenhum papel no protesto. Afirma também que a Tesla está pedindo mais de 5,85 milhões de yuans em danos e solicitou ao tribunal o congelamento de seus bens.

Han, que não quis ser entrevistado, disse no Weibo que o imbróglio levou 755 dias.

“O principal é nunca se deixar intimidar pela injustiça ou rivalidade assustadora, não importa o quão temível ou forte ela possa parecer”, Han postou para seus 120.000 seguidores. “Certo é certo. Errado é errado. "

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