Brasil silencia bonecas falantes por falta de chip

Sem insumos, indústria nacional dribla “apagão dos brinquedos” e prevê aumento de 14% no faturamento com o Dia das Crianças

Falta de chips tira de cena bonecas falantes
28 de Setembro, 2021 | 07:00 PM

São Paulo — A escassez mundial de chips, um efeito colateral dos gargalos industriais desencadeados pela pandemia da Covid-19, vai ser sentida no próximo Dia da Criança. Fabricantes brasileiras de brinquedos decidiram aposentar, por exemplo, as bonecas falantes e que se movimentam, devido à falta de matéria-prima.

No mundo todo, brinquedos populares para as crianças podem se esgotar muito antes das festas de final do ano como resultado de interrupções na cadeia de suprimentos global.

“Tivemos o problema da falta de alguns chips de voz para boneca, mas a gente substituiu. São mais de 600 tipos de boneca. Não tem chip, não tem boneca que fala 50 palavras, mas vamos caprichar nos cabelos e nos vestidos. O mercado não vai parar nem ficar mais pobre por causa disso. Investimos em inovações”, diz o presidente da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos), Synésio Batista da Costa, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Ele acrescenta que a Semana da Criança, que concentra as vendas de brinquedos no varejo, até o próximo dia 12 de outubro, deve registrar um aumento de 14% no faturamento do setor em relação ao mesmo período do ano passado.

Serão cerca de 1.100 lançamentos de brinquedos, 200 a mais do que no ano passado. O setor já projeta mais 400 novos produtos para o Natal. As 400 indústrias desse segmento estão trabalhando em regime de três turnos.

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“A Semana da Criança representa 35% do faturamento anual da indústria”, afirma Costa, lembrando que, no ano passado inteiro, o setor cresceu 21%, o melhor desempenho em 30 anos, devido à redução das importações de brinquedos chineses por causa da pandemia, das restrições nos portos e da prioridade das indústrias de abastecer mercados maiores do que o Brasil, sobretudo nos EUA e na Europa.

No ano passado, as indústrias de brinquedos faturaram um total de R$ 7,7 bilhões, segundo a Abrinq. “Houve a contratação de mais de 1.800 pessoas no ano passado”, conta o presidente da associação.

O setor reclama do aumento dos custos, principalmente das resinas plásticas. “Desde o início da pandemia, a Braskem já aplicou um reajuste acumulado de 147%”, diz Costa, citando a maior petroquímica do país.

Ele afirma que as importações de brinquedos da China continuam 30% menores na comparação com 2019, ano pré-pandemia. “Estamos enfrentando os chineses com muita inovação, muitos lançamentos. Mas ainda há um grande de quinquilharia chinesa, mas os estoques desses produtos diminuíram com a pandemia”.

O presidente da Abrinq diz que a disparada global dos preços dos containers nas rotas marítimas castiga os importadores de brinquedos, pois o reajuste dos fretes acaba reduzindo as margens de lucro, desestimulando a venda do produto no Brasil, bem como a valorização do dólar. “Tem frete de container que saltou de US$ 4 mil para US$ 17 mil, exemplifica Costa.

Ele diz que os preços dos brinquedos estão mais caros do que no ano passado, mas não soube estimar o tamanho desse reajuste. As maiores fabricantes de brinquedos do Brasil são: Bandeirantes, Estrela, Grow, Elka, Cotiplás, Xalingo, Magic Toys, Toyster, Pais & Filhos, Novabrink, entre outras.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.